segunda-feira, 27 de julho de 2009

Por falar em Deus...

Meu templo hoje, minha prática religiosa, são os meus livros e os meus exercícios diários na tentativa de abraçar o mundo.

Ao ler certas obras, há em mim o desejo de compartilhá-las com os amigos. A alguns deles, que têm o hábito da leitura, empresto meus livros; também readquiro obras prediletas para presenteá-los. Quando oportuno, falo com outras pessoas sobre as minhas descobertas no mundo da leitura.


E então, para os especiais leitores do blog, tão estimulantes das minhas necessidades de expressão, reproduzo prazerosamente trechos de obras que me enriquecem, como é o caso presente de “Como acreditar em Deus” (Desvendando os textos sagrados), de autoria de Clark Strand. O americano Clark, monge zen budista, é professor de espiritualidade e diretor do “Koans of the Bible Study Group”, comunidade espiritualista, ecumênica e inter-religiosa. Outras informações sobre ele estão no blog: www.wholeearthgod.com


Tendo ido fazer compras em uma feira de livros da biblioteca de Woodstock, Clark revela: “Espiritualmente falando, se você tem pouco dinheiro e está tentando se encontrar, não há lugar melhor para começar”. 


Religião e ciência. Crença ou ateísmo. O que há a defender de mais importante na vida senão a consciência e a atitude positiva do homem para a construção de um mundo melhor?


O que buscam, na realidade, os argumentos de alguns intelectuais que vivem armados para defender a sua descrença em tudo aquilo que a sua lógica não consegue conceber ou decifrar? Quem sou eu para julgar os que creem e os que não creem nos conceitos universais que transcendem ao entendimento comum?


Segundo Clark Strand, “É sempre difícil descrever os crentes verdadeiros. O problema é que precisamente as coisas que os distinguem dos outros são  muito fáceis de passar despercebidas: humildade, tranquilidade, uma sensação de paz interior”.


“As palavras só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor. Aprendemos palavras para melhorar os olhos. Há muitas pessoas de visão perfeita que nada veem... O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido”, escreve o cronista Rubem Alves, mestre em Teologia, doutor em Filosofia, psicanalista e professor emérito da Unicamp. Ele diz também: “Ama a educação como fonte de esperança e transformação. Ama as crianças e os filósofos – ambos têm algo em comum: fazer perguntas. As crianças não têm idéias religiosas, mas têm experiências místicas. Experiência mística não é ver seres de um outro mundo. É ver este mundo iluminado pela beleza. Quem não muda sua maneira adulta de ver e sentir e não se torna como criança jamais será sábio”.

Apenas, em minha lógica de ver a vida, pergunto o que cada um de nós deve ter como premissa básica senão a melhoria da qualidade de vida do ser humano e do meio ambiente como um todo? Contrariando a crença, que pode transformar pessoas em seres humanos mais conscientes e participativos para o aprimoramento do bem comum, o que os céticos colocam no lugar da fé para o homem reconhecer o seu egoísmo e despertar para a sua capacidade de se superar e reverter o atual processo da vida?


Clark Strand nos mostra que “Fazer bem significa permitir a nós mesmos a possibilidade de um novo começo em cada novo momento da vida. Numa palavra, significa liberdade – liberdade da vergonha, liberdade da culpa, liberdade dos infinitos erros que cometemos simplesmente por estarmos vivos. Essa liberdade vem a nós todos os segundos, a cada bater do coração e a cada respiração. E, no entanto, como é difícil abandonar nossos ressentimentos, corações partidos e desapontamentos acumulados! Com frequência demais, preferimos ficar infelizes”.  


A vida, o mundo, começa em nossa casa, com os nossos propósitos em relação às nossas circunstâncias. Vizinhos fazem parte dessas circunstâncias. Transeuntes, desconhecidos..., até mesmo supostos inimigos. 


Quando eu puder dialogar com um intelectual ateu sobre sua relação com o outro, entendido não apenas como o familiar, o conveniente, mas o outro, como o desconhecido ou o inimigo, então acreditarei que ateus podem agir igualmente como verdadeiros religiosos. 

Quem é capaz de poupar o outro da infelicidade? Qual a sua atitude em relação ao outro? Não importa no que acredito. Importa que o meu progresso de vida me leve ao equilíbrio da paz interior. Reflitam como quiserem, mas não é impossível encontrar por aí alguém que manifesta essa espécie de luz refletida. Basta observar como esse alguém incomum atrai os outros. 


Strand diz que “Todo ser humano nasce sem saber nada. Quando crescemos, tudo que aprendemos nos é ensinado por outros seres humanos, que, como nós mesmos, nasceram nada sabendo. Se seguirmos essa linha de transmissão para trás, longe o bastante, sempre ficaremos com as mãos vazias. A única coisa que detém esse deslizar para trás na eternidade é um Jesus ou um Buda ou um Maomé – e isso só porque eles são capazes de se dirigir a nós no mais profundo nível de nosso ser, fornecendo um lugar de apoio e repouso. Mesmo assim, somente se crermos”. 


Com base nesse autor, explicações, por mais cuidadosamente organizadas, competentemente dadas e empiricamente verificáveis que sejam, não abordam os tipos de questões últimas que todos nós, sem exceção, trazemos enterradas em nossos corações – as questões que Paul Gauguin escreveu à margem de sua pintura mais famosa: “Donde viemos? Quem somos? Para onde vamos?”


“Precisamos estar preparados para crer por nós mesmos”, crê Strand


Para ele, a crença é um olho mágico pelo qual vemos outro mundo. Pode ser uma abertura muito pequena, mas até essa é o bastante. Esse mundo foi chamado de vários nomes em culturas diferentes: o céu, a terra pura, os campos elíseos, o reino de Deus... Mas não temos acesso a esse mundo a não ser pela crença.

O livro de Clark Strand, “Como acreditar em Deus”, não se esgota logicamente nas minhas referências. Ele é amplo e interessante demais. Mas então peço licença a Strand para rechear ainda mais, com textos de sua obra, esta minha abordagem.


É por isso que Jesus uma vez disse aos seus discípulos, observa Strand: “Pois onde dois ou três estão congregados em meu nome, ali estou eu no meio deles” (Mateus 18:20). Para o autor, quando os cristãos leem essas palavras hoje em dia, tendem a interpretá-las como uma convocação à igreja ou a alguma outra forma de associação religiosa. Mas Strand inclina-se a achar que, se Jesus estive aqui hoje, iria pensar numa reunião incluindo judeus e muçulmanos e, bem possivelmente, um eremita budista chinês, para fazer para todos o café da manhã ou uma xícara de chá.

Strand acredita que um novo destino espiritual está à nossa frente como pessoas vivendo numa era global, e esse destino consiste em escolher um Deus que ama toda a humanidade com igual paixão – e toda a natureza também – em vez de uma multiplicidade de falsos deuses que criamos com propósitos egoístas, para proteger nossas sociedades individuais e nós mesmos.


Para ele, as pessoas tendem a ser possessivas quanto às práticas espirituais associadas a sua religião, às regras para observá-las e à maneira precisa como devem ser feitas. Se não podem exatamente controlar Deus, ao menos podem controlar os meios de acesso a ele, comenta.


“Todos nós temos momentos assim, o desejo de excluir alguém de nossas orações em vez de fazê-las universais, por todos os seres humanos”, afirma o autor. No fim das contas, reflete: “Temos todos raiva o bastante para morrer. E é sempre a raiva que nos mata. A lição de Jonas é muito simples: o que nos destrói é a crença na individualidade, e nela. Não obstante todos os credos e catecismos, crer em Deus nada mais é que relaxar o imperativo da autoafirmação por tempo o bastante para perceber que o amor é a única realidade, um amor que, ao superar todas as demandas mesquinhas da existência pela individualidade, abraça todos os seres igualmente como seus filhos e filhas. [...] a morte da individualidade é sempre seguida pelo nascimento de Deus”.


Parece sensato o que Strand fala sobre tudo isto


“[...] Os esforços calculados mostrados pela ‘pessoa boa’ constituem a maior parte da vida religiosa normal, que o Tannisho chama de ‘herética’, e a ela me refiro como tribalismo ou crença-pela-metade. Fundamenta-se na crença de podermos nos tornar os instrumentos de nossa salvação espiritual com base no que fazemos – que podemos controlá-la, ou que precisamos controlá-la. Baseia-se na crença de que o Universo não é um bom lugar para estar. Para responder ao convite de Jesus de seguir o caminho, não é suficiente praticar nossa religião como um ato de bondade. Estritamente falando, atos bons são impossíveis, se por essa expressão queremos dizer atos que nos fazem dignos de sermos salvos. Desempenhamos as boas ações por elas mesmas, ou por nosso amor a Deus ou ao próximo, mas não para apressar-nos em nosso caminho para o reino dos céus”.


“[...] Mas como é difícil relaxar e simplesmente confiar nisso! O que a individualidade quer mais do que qualquer outra coisa é a garantia de sua própria libertação. Infelizmente, fica restrita a seus próprios recursos para imaginar o que isso pode necessitar, de modo que a principal ação da individualidade se torna a comparação. Fora os opostos como o bem e o mal, não há quadro de referência. Para a sua própria salvação existir, imagina que a salvação precisa ter um oposto. O oposto do céu é o inferno, o oposto da salvação, a danação, e a individualidade começa a imaginar uma situação em que se torna o objeto especial da salvação. Em outras palavras, começa a formular uma salvação própria, o que significa que o outro precisa ser condenado”.


“[...] Encontramos o reino de Deus buscando juntos, ou não o encontramos. Fora essa busca e esse estar junto, não há reino a ser encontrado”.


“[...] Quando pensamos em todas as maneiras complexas como interagimos uns com os outros no mundo moderno, é difícil imaginar que a solução possa ser algo tão simples como a empatia – a disposição de sentir o que os outros sentem e de estar pronto para abraçar seu sofrimento ou felicidade como nossos. Mas essa é a verdade, e, por mais complexo e sinuoso que nosso caminho possa se tornar, a jornada de volta para essa verdade é tão simples quanto perguntar a nós mesmos uma simples questão: o que realmente queremos da vida?”


Preconceito com livros de autoajuda


Há certo preconceito de algumas pessoas com livros classificados como de autoajuda. É claro que essa categoria envolve uma quantidade diversificada de títulos, muitos deles com produtivas abordagens sobre filosofia e psicologia, fundamentais como base para o processo da construção do pensamento e da mudança positiva de comportamento. Para mim, se esse tipo de leitura pode melhorar a vida das pessoas, por que não absorvê-lo? Por outro lado, há pessoas que só se interessam por esse tipo de leitura, que pode servir até como incentivo para a criação do hábito de ler e o interesse por outros gêneros literários.


No artigo “Autoajuda invade a ficção” (Folha de S.Paulo, Ilustrada, 25/7/2009), Raquel Cozer revela que o psiquiatra Augusto Cury, criador de uma teoria sobre o processo de construção do pensamento (usada em teses acadêmicas), rejeita o termo autoajuda – mesmo para seus livros vendidos como tal categoria. Para ele, a literatura não é só entretenimento.


Segundo Raquel, o dono da editora Sextante considera que “A Cabana”, por exemplo, vai além de autoajuda. “Há conceitos elaborados de teologia ali. É um pouco mais complexo que autoajuda”. 


Hoje, alguns livros de autoajuda confundem-se até com ficções que defendem teses da Filosofia e Psicologia, como algumas obras de Cury, que procuram estimular a arte de pensar, menciona a jornalista.


A lógica de uma crença


Ao escrever hoje alguns textos em meu blog, chego às vezes a me surpreender. Inicio a primeira redação e deixo esquentando... E vou aos meus livros, aos jornais... E então surgem complementos dos Céus, só é possível, por se encaixarem tão adequadamente.  


Há, para mim, um longo caminho a ser trilhado na vida para o reconhecimento “Dele”. Já perambulei muito, pelo raciocínio lógico, para incorporá-“Lo” definitivamente na minha existência. 


Hoje creio em uma certa lógica movendo o Universo. Por experiência própria. Difícil é abordar essas experiências... A começar pelo progresso da minha intuição, visões místicas, constância de circunstâncias favoráveis, reencontros com pessoas distantes a tanto tempo e por mim lembradas dias antes, coincidências inexplicáveis em situações propícias, sonhos adequados que levam a reflexões e fazem sentido... Pessoas novas surgidas com frequência, que fazem sentido na minha escalada consciente... Há mais e mais coincidências e certezas que correspondem sim às minhas buscas e achados, à minha entrega consciente ao mundo. 


É através das reflexões filosóficas, das minhas leituras e das especulações psíquicas que alimento as minhas crenças. Neste momento, algo forte incorporado em minha existência vem à mente. Na minha infância, a  imagem de minha mãe, associada a um prato de comida oferecido a um faminto que bate no portão de casa. Acho que é isto mesmo que me leva a ficar tão frágil quando me deparo com moradores de rua...
 


E, por falar em “complementos do Céu”, olha só o que encontrei para finalizar: “[...] O mundo tem que se revelar para você. E você tem que conseguir ver coisas que as outras pessoas não veriam. É essa a minha profissão” (cineasta Werner Herzog, 66, Folha de S.Paulo, 26/7/2009, “O Selvagem”, artigo escrito por Fernanda Ezabella).

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