segunda-feira, 26 de novembro de 2012

CASAIS DORMINDO SEPARADOS?

“Do ponto de vista médico, nós deveríamos dormir sozinhos”



A VIDA A DOIS experimenta novos rumos. Há uma nova visão sobre o relacionamento conjugal. Para tanto, é fundamental a disposição para entender e respeitar a liberdade um do outro. Quem é capaz de entender tudo isto?

Casais podem dormir em quartos separados, com naturalidade, sem mágoas. Já pessoas viúvas ou divorciadas preferem continuar vivendo sozinhas, mesmo com um novo amor; e então a cada novo encontro ou quando viajam juntos a emoção pode ser maior.  Sabe-se que alguns casais dormem naturalmente separados há muito tempo; apenas não revelam. Pois o que outros poderão pensar? Vivemos sempre preocupados com essa história de como os outros nos veem! É claro que também existem cônjuges em camas separadas por conta de conflitos permanentes.

Talvez, para os mais jovens, a realidade seja ainda “juntinhos o tempo todo e para sempre...”. É compreensível. Mas certamente pessoas mais velhas podem apreciar o novo rumo da vida a dois. Algumas já sentem vontade de dormir separado, mas cadê a coragem de falar sobre o assunto? E se o cônjuge não entender o lado positivo da decisão? É claro que há o risco de certa resistência do parceiro, coisa que um bom diálogo pode esclarecer.

Isso me leva a algo da obra “O poder do agora”, de Eckhart Tolle, que diz: “Uma atitude qualquer é muitas vezes melhor do que nenhuma atitude, especialmente se há muito tempo você está paralisado numa situação infeliz. Se for uma atitude errada, ao menos você aprenderá alguma coisa, caso em que deixará de ser um erro. Se você não agir, nada aprenderá. Será que o medo está evitando que você tome uma atitude?”

UMA VISÃO MÉDICA

“Dividir a cama chega a dobrar a quantidade de microdespertares. É muito romântico, mas um fracasso do ponto de vista da saúde”, diz Maurício Bagnato, médico do laboratório do sono do Hospital Sírio-Libanês. Para ele, insônia, ronco, apneia, discordâncias sobre a temperatura do ar-condicionado, horários diferentes para dormir e acordar, presença de TV e aparelhos eletrônicos no quarto são os problemas mais citados pelos casais que resolveram dormir separados. Esse assunto originou o artigo “Separação de corpos”, escrito por Juliana Cunha (Folha de S. Paulo, caderno Equilíbrio, 20/11/2012).


No artigo, Cristiana Pereira, presidente do Instituto de Terapia Familiar de São Paulo”, pensa assim: “O casal perde momentos preciosos ao dormir separado. A rotina é muito severa, cada um tem seu horário. Aquela conversinha gostosa antes de dormir é o contato mais significativo para muitos”. Para a terapeuta, compartilhar a cama também aumenta a frequência do sexo.

Já a psicanalista e sexóloga Regina Navarro Lins discorda. Ela revela à jornalista Juliana Cunha: “Relação íntima não depende de dormir junto. Por que o sexo funciona entre os amantes? Porque é agendado. Espontaneidade não funciona nesse assunto. Aquela transa que acontece quando um pé esbarra no outro é a pior de todas”, diz.

É claro que há opiniões diferentes. Juliana conta que Luciana Palombini, do Instituto do Sono da Unifesp, acha exagerado incentivar casais a dormir separados. “A companhia traz prejuízos ao sono, mas pode trazer benefícios emocionais. Dormir junto passa segurança e aconchego, o que é bom para tudo, inclusive para o sono”.

“Tudo o que envolve o sono é muito individual”, comenta Bagnato. “Do ponto de vista médico, nós deveríamos dormir sozinhos. Mas quem são os médicos para escolher como uma pessoa dorme ou deixa de dormir?”, conclui.

DEIXEM QUE HAJA ESPAÇOS

Em “O profeta”, de Kahlil Gibran, Almustafá diz: “Deixem que haja espaços na união entre vocês. Amem um ao outro, mas não tornem o amor uma obrigação”. Em “Amor, liberdade e solitude – uma nova visão sobre os relacionamentos”, Osho, o controverso filósofo indiano, revela: “Fiquem juntos, mas não tentem dominar, não tentem possuir e não destruam a individualidade do outro. Se vocês moram juntos, deixem que haja espaços... O marido chega tarde em casa; não há motivo, não há necessidade de a esposa indagar onde ele esteve, por que ele veio tarde. Ele tem seu próprio espaço, ele é um indivíduo livre. Dois indivíduos livres estão vivendo juntos e não transgridem o espaço um do outro. Se a esposa chega tarde, não há necessidade de perguntar: ‘Onde você esteve?’ Ela também tem seu próprio espaço, sua própria liberdade. Mas isso está acontecendo todos os dias em todos os lares. Eles brigam por causa de picuinhas, mas, no fundo, o ponto é que eles não estão dispostos a permitir que o outro tenha seu próprio espaço. O amor dá liberdade e a liberdade é possível somente se houver espaço na união entre vocês”.

CASAMENTO

“A real aceitação da individualidade e distinção de cada um é a única base sobre a qual um casamento maduro pode ser construído e o amor verdadeiro pode crescer”, escreve em 1978 o psiquiatra americano M. Scott Peck em sua obra “A trilha menos percorrida”.

Para esse psiquiatra, a única solução ideal para o casamento é ele funcionar como uma instituição verdadeiramente cooperativa, que exige contribuições significativas e cuidados mútuos, além de tempo e energia, mas que existe com o objetivo de ajudar os parceiros em suas jornadas individuais rumo aos seus próprios picos de crescimento espiritual. Tanto os homens quanto as mulheres devem cuidar da lareira e se aventurar, diz.

Segundo Peck, a distinção dos parceiros enriquece a união. “Bons casamentos não podem ser construídos por dois indivíduos que têm medo de sua solidão básica e procuram uma fusão no casamento – como, aliás, costuma acontecer. O verdadeiro amor não só respeita a individualidade como procura cultivá-la, mesmo correndo o risco de separação ou perda. O objetivo supremo da vida continua a ser o crescimento espiritual individual, a jornada solitária em direção a montanhas que só podem ser escaladas quanto se está sozinho. As trilhas significativas não podem ser realizadas sem o sustento oferecido por um casamento bem-sucedido ou uma sociedade saudável. Ambos existem com a finalidade básica de sustentar essas viagens individuais. Mas, como no caso de todo amor verdadeiro, “sacrifícios” em prol do crescimento do outro levam a um desenvolvimento igual ou maior de personalidade. É o retorno do indivíduo ao casamento ou sociedade sustentadora, vindo dos picos para onde viajou sozinho, que serve para elevar aquela união a novas alturas. Assim, o crescimento individual e o social são interdependentes, mas a fronteira do crescimento é sempre e inevitavelmente solitária”.

DEPENDÊNCIA

Outro ponto interessante para o psiquiatra americano é que todos nós – mesmo quando fingimos para os outros e nós mesmos que não – temos necessidades e sentimentos de dependência. “Todos nós queremos ser mimados, nutridos, cuidados por pessoas mais fortes do que nós, que realmente se preocupam conosco – e sem ter que fazer o menor esforço”, complementa.

Especificamente, prossegue Peck, uma pessoa cuja vida é dominada e ditada por necessidades de dependência sofre de uma desordem psíquica diagnosticada como “desordem de personalidade dependente passiva”, talvez a desordem psiquiátrica mais comum.

E então ele complementa: “Esses indivíduos – os dependentes passivos – estão tão ocupados tentando ser amados que não lhes resta energia para amar. São como pessoas esfomeadas, procurando alimento onde podem, e sem ter alimento para oferecer aos outros.  É como se fossem vazias por dentro, um poço sem fundo que nunca pode ser totalmente preenchido. Nunca estão “satisfeitas” ou têm uma sensação de plenitude. Sempre acham que ‘algo está faltando’. Não suportam a solidão. Devido à sua falta de totalidade, não possuem um verdadeiro senso de identidade e se definem apenas por seus relacionamentos”. Eis uma parcela da obra do psiquiatra M. Scott Peck; o livro nos leva a produtivas reflexões pessoais sob um ângulo mais amplo. Não deixem de ler!

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Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com

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