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Observação: Eventualmente, ao ler um texto ou assistir a um vídeo com o
qual me identifico bastante, tomo a liberdade de compartilhá-los. Conheço o
perfil dos meus seguidores e considero que conteúdos - como este extraordinário
texto de Lucas Borges - se encaixam no propósito do blog Consciência, www.tomsimoes.com As máximas ‘Só é útil o
conhecimento que nos torna melhores’ e ‘Só sei que nada sei’ refletem
essencialmente a filosofia de Sócrates, enfatizando a importância da
humildade intelectual e da busca pelo conhecimento verdadeiro. Ele julgava não
saber e demonstrava que o conhecimento verdadeiro não se baseia em opiniões ou
crenças, mas em questionamento racional e sensato, envolvendo perguntas
estratégicas que estimulem o pensamento crítico e reflexivo. Tom Simões
Eis o texto de Lucas Borges:
“Quando se pensa em posicionamentos ‘antissistema’, a imagem que surge é geralmente a de conflito, protestos, contêineres em chamas e o caos generalizado. No entanto, alguns dos discursos mais politicamente incorretos dos últimos tempos nos convidam a uma revolução surpreendentemente silenciosa: ficar em casa, reduzir o consumo, entediar-se e mergulhar no silêncio.
O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han
- laureado com o Prêmio Princesa das Astúrias de Comunicação e Humanidades
2025 e autor de obras como ‘A Sociedade do Cansaço’ e ‘Vida
Contemplativa: Elogio da Inatividade’ – propõe uma forma de rebelião
contra a sociedade atual que começa por permanecer no próprio lar.
Byung-Chul Han, também ensaísta e professor da
Universidade de Artes de Berlim, estudou Filosofia na Universidade de
Friburgo e Literatura
Alemã e Teologia na Universidade de
Munique. Sua tese
principal é o abandono da vida hiperativa em favor do equilíbrio e do sentido,
fugindo da autoexploração no tempo livre, da exposição incessante nas
redes sociais, e apostando no descanso, no silêncio e na vida
contemplativa como fuga da engrenagem que leva à exaustão.
Seu lar, seu refúgio
Em meio às suas críticas do desempenho da
sociedade em todas as esferas, a defesa que Han faz do lar e da
passividade é notável. Em suas palavras, “ficar em casa é a forma mais
lúcida de resistência” porque se trata de uma rebelião contra o
imperativo de ser produtivo a todo momento, uma verdadeira ‘greve’ contra as
exigências sociais.
O autor explica que o capitalismo
atual abomina o vazio e o silêncio, incutindo em nós o medo de ‘horas mortas’
dentro de casa, sem um registro digital para provar o que estamos fazendo.
Contudo, para Han, é exatamente nesse tempo ‘improdutivo’, anônimo
e silencioso que alcançamos a soberania.
Não se trata de romantizar o isolamento ou
se entrincheirar em casa, mas sim de defender o direito ao ‘silêncio sem
culpa’ e transformar o lar em um bastião de liberdade, onde é
possível viver sem prestar contas a ninguém, sem testemunhas e sem sucumbir às
demandas do mercado.
Transformando a filosofia em cotidiano: a ‘hogarterapia’
A mensagem de Byung-Chul Han pode
ser concretizada por meio da ‘hogarterapia’ (terapia do lar),
definida como a criação de um lar saudável, equilibrado e feliz, que
proporcione uma vida mais plena e significativa. A ‘hogarterapia’ também
é conhecida como psicoterapia domiciliar, que permite que o paciente receba o tratamento
em casa.
Nossas casas não representam apenas os
limites físicos onde dormimos e comemos. Nossa casa representa um exoesqueleto,
como a concha do caracol, e pode ser transformada em um ‘templo’, um refúgio
de regeneração e paz capaz de trazer bem-estar e impulsionar qualquer área
da nossa vida.
Ao converter a residência em um ‘lar consciente’ e
reacender o ‘fogo’ do lar, é possível recuperar todo o potencial e magia
ancestral ali contidos. A partir de um lar consciente, é possível preservar
a saúde, descobrir o propósito de vida, encontrar a calma em meio ao
estresse, inspirar-se, praticar o autocuidado e o cuidado mútuo, manter
relações saudáveis, aumentar a produtividade profissional e pessoal, gerir as
finanças pessoais e, de forma holística, experimentar um venturoso bem-estar.
Lar, doce bem-estar
Embora Byung-Chul Han se concentre
no recolhimento como um ataque ao excesso de ruído e imposições externas, a
verdade é que sob a proteção do lar é possível realizar muitas ações
produtivas.
Kankyo Tannier, autora de A Magia do Silêncio,
defende que “ficar em casa não significa ficar parado” e que “quanto
melhor a gente se conhece, menos teme ficar a sós consigo mesmo”. Já Marie
Kondo, expoente mundial da organização terapêutica e autora de quatro
livros sobre organização pessoal, sugere ‘desabafos criativos’ para atividades
que agradam, distraem e nos reconectam com a bússola interior.
Em meio às agendas lotadas, onde parece
haver tempo apenas para o trabalho e tarefas domésticas, há uma terceira
dimensão de ‘lar e talento’ ou ‘lar e bem-estar’. É nesse espaço
que podemos ser autênticos, desdobrar nossas asas, fazer ou não fazer sem dar
explicações e, finalmente, se reconectar consigo mesmo.
Algumas sugestões de autocuidado e prazer
na intimidade do lar
- Criar
um ambiente afetuoso ao acordar, sem pressa. Se precisar madrugar, vá para
a cama cedo; o corpo pode se acostumar a despertar mais cedo e descansado,
evitando o despertador.
- Criar
pequenos ‘oásis de silêncio’ ao longo do dia.
- Desfrutar
de um café ou chá com plena atenção (mindfulness) ao que está
acontecendo ao redor e interiormente, com curiosidade, aceitação e
agradecimento.
- Praticar
o journaling (diário terapêutico), registrando pensamentos,
sentimentos, reflexões e eventos diários em um caderno ou diário digital.
Trata-se de uma ferramenta importante para o autoconhecimento, gestão de
emoções e crescimento pessoal.
- Criar
uma mandala (representação visual com formas e cores variadas, geralmente
em formato circular, que possui um valor espiritual), por exemplo.
- Tricotar
ou bordar, mergulhando no craftfulness (num contexto mais
amplo, refere-se a atividades artesanais envolvendo técnica, criatividade
e esforço manual, promovendo a expressão pessoal e conexão com a natureza).
- Brincar com
filhos ou entes queridos, sem limite de tempo. Segundo Byung-Chul Han,
‘Nós nos matamos para ser produtivos, mas o homem nasceu para brincar, não
para trabalhar’.
- Seguir
um ritual prazeroso de ‘apanhador de sonhos’.
- Planejar
sua agenda e próximas semanas com gentileza e recompensar os avanços.
- Ler
e/ou estudar apenas por prazer.
- Cozinhar
uma boa receita atentamente.
- Desfrutar
de um ‘spa caseiro’.
Embora talvez não denominemos essas
atividades de ‘resistência’, termo utilizado por Byung-Chul Han, trata-se, inegavelmente,
de uma forma de reconciliação com o próprio lar e de alquimia (transformação,
metamorfose, no sentido espiritual) em nossa vida cotidiana”, finaliza Lucas
Borges.
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