Há algum tempo a ciência investiga uma
associação benéfica entre música e pacientes com Alzheimer e outras demências
Tom Simões, jornalista e divulgador
científico, Santos (Brasil), 25 de novembro de 2025
Um conjunto de resultados de pesquisa indicam que ouvir músicas de Mozart pode induzir uma melhoria de curto prazo no desempenho de certos tipos de tarefas mentais conhecidas como “raciocínio espaço-temporal”. O “efeito Mozart” refere-se à ideia de que ouvir música clássica, especialmente as composições de Mozart, pode melhorar temporariamente a inteligência e o desempenho cognitivo.
“Estudo científico comprova tese de que
melodia tem estrutura que gera respostas emocionais positivas, o que pode
ajudar a criar tratamentos não invasivos no futuro”, escreve Camila Neumam,
da CNN, em 22/9/2021.
Desde a década de 1990, cientistas tentam
responder como uma música de Mozart consegue acalmar o cérebro de
pessoas com epilepsia. A "Sonata para Dois Pianos em Ré Maior, K. 448"
é o único arranjo musical conhecido por produzir esse efeito. Temas melódicos
contrastantes de sua sonata acalmam o cérebro.
Posteriormente, uma pesquisa do Dartmouth
College, nos Estados Unidos, parece ter conseguido revelar o segredo por
trás das propriedades terapêuticas criando o ‘Efeito Mozart K448’, um
gênero musical antiepilético que pode ajudar pacientes com esse distúrbio
neurológico. O estudo foi publicado na revista Scientific Reports, da Nature.
Para os pesquisadores conduzirem tal
investigação, 16 participantes com epilepsia refratária ouviram a sonata de Mozart,
todos com implantes cerebrais para medir sua atividade neural. Isso permitiu monitorar
um tipo específico de impulso elétrico conhecido como descargas epileptiformes
interictais (IEDs), que estão fortemente associadas à epilepsia e podem
provocar convulsões.
Eles observaram que ouvir a ‘K448’
por 30 segundos produzia uma diminuição considerável nos IEDs dos
participantes, particularmente nas regiões do cérebro que coordenam as emoções,
como os córtices frontais bilaterais.
Os estudiosos fizeram o mesmo teste com
músicas favoritas dos participantes, mas não observaram qualquer efeito
semelhante. O fato sugere cientificamente que a sonata ‘K448’ produz um
efeito na atividade cerebral totalmente independente da resposta emocional
subjetiva.
Na tentativa de decifrar tal efeito
terapêutico, os autores analisaram a estrutura musical, observando sua organização
por temas melódicos contrastantes, cada um com sua própria harmonia subjacente.
Música de Mozart acalma Alzheimer. Um novo
estudo explica, através da Física, como isso acontece
O Instituto Krembil do Cérebro, em
colaboração com os doutores Marjan Rafiee e Taufik Valiante, registrou
que a escuta da Sonata para Dois Pianos em Ré Maior poderia reduzir a ocorrência
de ataques epiléticos. O que não aconteceria se os pacientes ouvissem uma nova
versão da mesma composição de forma aleatória. Outros trabalhos com foco em
crianças com epilepsia chegaram a conclusões semelhantes, como o estudo de um
grupo de médicos de Edimburgo, envolvendo 45 crianças dos dois aos 18 anos.
Eles analisaram a melodia de Mozart comparando-a
com uma versão embaralhada da composição original, revelando que a escuta
diária de Mozart foi associada à redução da frequência de crises em
indivíduos adultos com epilepsia. Essa descoberta sugere que a escuta de Mozart
pode ser considerada uma opção terapêutica suplementar para reduzir
convulsões.
Em algumas situações, a música pode
desencadear um ataque, em outras prevenir. Cientistas tentam esclarecer quais
músicas têm um efeito positivo e qual é esse mecanismo.
Respostas emocionais positivas
Com base nessa observação, os pesquisadores
levantam a hipótese de que as transições entre melodias prolongadas geram
“respostas emocionais positivas” dentro do cérebro, o que parece atenuar a
atividade epiléptica.
Para testar essa teoria, pediram aos
participantes ouvirem uma peça de Wagner, compositor clássico conhecido
por suas melodias complexas e sutis. A teoria proposta é que a mudança gradual
nas melodias de Wagner poderia gerar respostas emocionais positivas no
cérebro, atenuando a atividade epiléptica. Porém, ouvir Wagner não teve efeito
significativo na atividade do IED, sugerindo que as mudanças melódicas são o
ingrediente chave na sonata de Mozart que produz o efeito terapêutico.
Ao aproveitar essa propriedade e compor
outros arranjos musicais que espelham a estrutura da sonata, os pesquisadores mostraram
ser possível desenvolver novos tratamentos não invasivos para a epilepsia.
Acredita-se que as características físicas acústicas da música de Mozart
afetam as oscilações – ou ondas cerebrais – responsáveis por reduzir as
descargas epilépticas.
Até agora, a melhor explicação para o
efeito positivo da música relacionava a sobreposição entre as áreas cerebrais
ativadas durante a escuta e as alteradas pela doença. Um estudo revelado
durante o 7º Congresso da Academia Europeia de Neurologia”, realizado de
19 a 22 de junho de 2021, esclareceu essa questão: são as propriedades
acústicas da música – portanto, os aspetos relacionados com a física – que
produzem tal resultado. “Acreditamos que as características físicas acústicas
da música de Mozart afetam as oscilações – ou ondas cerebrais – que são
responsáveis por reduzir as descargas epilépticas”, descreve Ivan Rektor,
do Centro de Epilepsia do Hospital de Santa Ana, na República Checa. Essa
instituição oferece tratamento especializado com profissionais qualificados e
tecnologias avançadas.
As primeiras hipóteses sugeriam que o “efeito
Mozart” na epilepsia estaria relacionado com os impactos emocionais da
música, já que a dopamina – o principal neurotransmissor associado aos
mecanismos cerebrais de recompensa – é liberada quando se ouve música. Um
mecanismo que ainda não foi demonstrado. Descobriu-se que a redução nas
descargas elétricas era maior no lobo temporal lateral, parte do cérebro que
participa na tradução dos sinais acústicos.
Os investigadores sublinham também duas
outras questões, que reforçam a justificação física: por um lado, os pacientes
envolvidos no estudo não eram particularmente apreciadores de música clássica,
portanto não haveria grande razão para liberação da dopamina. Além disso, a
resposta a uma composição de outro compositor austríaco, Joseph Haydn,
só produzia efeitos positivos na supressão de descargas em mulheres. Nos
homens, por outro lado, provocava aumento de descargas elétricas. Pelo que revelaram
os pesquisadores durante o referido Congresso, as propriedades acústicas
(tais como o ritmo, dinâmica e tom) têm efeito diferente em homens e mulheres.
Composição de Mozart reduz ataques
epiléticos
Até agora, a melhor explicação para esse
efeito positivo da música relacionava a sobreposição entre as áreas cerebrais
ativadas durante a escuta e as alteradas pela doença. Um estudo veio então esclarecer:
são as propriedades acústicas da música – portanto, os aspectos relacionados
com a física – que levam a esse resultado.
Uma em cada duzentas pessoas sofre de
epilepsia; atualmente seis milhões de europeus convivem com a doença. Os estudiosos
sugerem, por isso, que se continue a investigar o efeito da música na redução
dos episódios, mantendo o foco nas propriedades acústicas e no seu efeito
preventivo não invasivo.
Como relata Camila Neumam, já era
fato que a escuta da Sonata para Dois Pianos em Ré Maior de Mozart reduz
a ocorrência de ataques epiléticos, podendo ser usada como forma de prevenção.
Mas uma explicação sobre o porquê de isso acontecer vem da Física, conforme revelou
novo estudo.
“Quem já passou por um episódio de
epilepsia descreve-o como uma espécie de curto-circuito cerebral. O que não
está muito longe do fenômeno fisiológico: descargas elétricas que podem causar
confusão mental temporária e o clássico ataque epilético – com convulsões e
perda de consciência. Apesar dos vários medicamentos no mercado e até
intervenções cirúrgicas para evitar tais episódios, nenhuma solução é cem por
cento eficaz. Daí que médicos e cientistas continuem buscando outras soluções”,
escreve Sara Sá, Exame Informática, 19/6/2021.
Há algum tempo é conhecida a relação entre
música e epilepsia, assunto tratado com detalhe no livro do neurologista Oliver
Sacks, ‘Musicofilia’, oferecendo uma visão interessante da
neurobiologia da música. O autor apresenta uma variedade de casos que ilustram
como a música pode ter efeitos significativos em diferentes aspectos da vida
humana.
Estudos associam a música com estímulo da
memória e expressão da personalidade
“Ouvir música com um significado especial
estimula vias neurais no cérebro que ajudam a manter níveis mais altos a um bom
funcionamento”, escreve Ashley Strickland, da CNN, em 7/4/2022.
A música é uma ferramenta poderosa para
acessar informações sobre nós mesmos. “Dois estudos recentes oferecem uma nova
visão sobre como músicas favoritas estão ligadas às memórias e nossas personalidades,
e como essas conexões podem melhorar a vida”.
Ouvir uma música favorita, familiar ou guardada
na lembrança pode transportar instantaneamente alguém para outro momento de sua
vida, trazendo de volta detalhes com uma clareza surpreendente. E não é apenas
um sentimento fantasioso — há ciência nisso tudo de como nossas mentes conectam
música com memória.
Há algum tempo existe uma associação
benéfica entre música e pacientes com Alzheimer e outras demências. Tem-se
observado que ouvir repetidamente música persuasiva melhora a adaptabilidade do
cérebro em pacientes com Alzheimer precoce ou comprometimento cognitivo
leve.
De acordo com Michael Thaut, autor
sênior de um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Toronto
(Canadá), publicado no Journal of Alzheimer’s Disease, “Ouvir música com
um significado especial estimulou as vias neurais no cérebro que ajudaram a manter níveis mais altos de funcionamento.
Thaut é um renomado escritor e pesquisador na área de música e
neurociência. Ele é conhecido por suas contribuições significativas no campo da
musicoterapia e neurociência da música, especialmente em relação ao tratamento
de doenças neurológicas como Parkinson e Alzheimer. Professor de
música e neurociência e, também, diretor do Centro de Pesquisa em Neurociência
da Música da referida universidade, escreveu vários livros e artigos
científicos sobre o papel da música no tratamento de doenças neurológicas e na
reabilitação de pacientes.
Durante alguns experimentos, as músicas
tinham um significado único, como aquela que as pessoas dançavam em seu
casamento, proporcionando um aumento no desempenho da memória. Futuramente, as
descobertas podem apoiar uma terapia embasada em música no tratamento de
pacientes com deficiência cognitiva.
As mudanças foram mais notáveis no córtex
pré-frontal, conhecido como o centro de
controle do cérebro, onde ocorre a
tomada de decisões, a moderação do comportamento social, a expressão da personalidade e o planejamento do
comportamento mental complexo.
Com base em ressonâncias magnéticas realizadas
antes e depois de os pacientes ouvirem uma música muito pessoal, esse som
acionou uma rede neural musical conectando diferentes regiões do cérebro. Isso diferia ao ouvirem uma música nova e
desconhecida, que acionava apenas uma parte específica do cérebro sintonizada
para ouvir, revelou o estudo.
Quatorze pessoas participaram do estudo,
incluindo seis músicos, que ouviram playlists (listas de reprodução)
especialmente selecionadas para uma hora por dia durante três semanas. Esses
participantes foram os mesmos de um estudo anterior que identificou os
mecanismos neurais para preservar memórias relacionadas à música em quem
experimenta declínio cognitivo precoce.
Thaut também detém a Tier One Canada Research Chair (Cadeira
de Pesquisa de Nível Um do Canadá) em Música, Neurociência e Saúde. "É simples — continue ouvindo a música que você amou em
toda a sua vida. Suas músicas favoritas de todos os tempos, aquelas peças que
são especialmente significativas para você, fazem disso um exercício cerebral”,
admite ele.
Música e Alzheimer: casos reais de
recuperação de memórias
Muitas vezes, pacientes com Alzheimer
e outras formas de demência não conseguem lembrar de nomes ou reconhecer
familiares. No entanto, ao ouvirem canções que marcaram sua infância ou juventude,
vários deles conseguem cantar trechos inteiros, revivendo lembranças que
pareciam perdidas.
Em um famoso experimento, pacientes que não
respondiam a estímulos tradicionais conseguiam reagir com sorrisos, lágrimas e
até danças ao ouvirem músicas do passado. Isso reforça a importância de
incorporar a ‘musicoterapia’ nos cuidados com a saúde mental e emocional.
A música tem uma incrível capacidade de
despertar emoções profundas, provocar sorrisos e, em muitos casos, reacender
memórias esquecidas. Mas como isso acontece? Estudos recentes em neurociência
revelam que a música pode ser uma aliada poderosa no resgate da memória, especialmente
em pessoas com doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer.
Ao se ouvir uma música familiar, diversas
áreas do cérebro podem ser ativadas simultaneamente, incluindo aquelas ligadas
à emoção, linguagem e memória de longo prazo. Isso porque a música tem acesso
direto ao sistema límbico, parte fundamental do cérebro responsável por regular
emoções, comportamentos sociais e a formação de memórias afetivas. Mesmo quando
outras regiões cerebrais estão comprometidas, como no caso de demência, esse ‘atalho
musical’ pode permanecer funcional por mais tempo.
Benefícios da musicoterapia em idosos com
demência
Melhora do humor
e da interação social
Redução da
agitação e ansiedade
Estímulo à
linguagem e coordenação motora
Reforço da
identidade e autoestima
Como incluir a música no cuidado diário de
pacientes
- Crie uma lista
personalizada: músicas que marcaram a vida da pessoa (infância, juventude,
festas, religião)
- Utilize
fones confortáveis e em volume moderado
- Associe a
música a fotos e objetos da época para reforçar o resgate de memórias
- Promova
momentos de escuta em família, cantando junto ou dançando
Leia também:
http://www.tomsimoes.com/2016/06/guardar-segredos-nao-e-saudavel-para-o.html#more, 20 de
junho de 2016
Fontes de consulta:
https://visao.pt/exameinformatica/2021-06-19-explicado-o-efeito-anti-epiletico-de-mozart/, 19 de junho de 2021
https://www.oxigenio.fm/composicao-de-mozart-reduz-ataques-epileticos/, 21 de junho de 2021
https://www.oxigenio.fm/musica-de-mozart-acalma-alzheimer/, 18 de setembro de
2021
https://www.cnnbrasil.com.br/saude/pesquisa-revela-como-musica-de-mozart-acalma-cerebro-de-pessoas-com-epilepsia/, 22 de setembro de 2021
https://www.cnnbrasil.com.br/saude/estudos-associam-a-musica-com-estimulo-da-memoria-e-expressao-da-personalidade/, 7 de abril de 2022
https://www.alertasaude.com/como-a-musica-pode-reativar-memorias-em-pessoas-com-perda-cognitiva, 20 de julho de 2025
Wolfgang Amadeus Mozart, 1756-1791, prolífico e
influente compositor austríaco do período clássico. Também músico virtuoso,
professor de música e maestro. Morreu aos 35 anos.
Mozart mostrou uma habilidade
musical prodigiosa desde a infância. Já competente nos instrumentos de teclado e no violino, começou a compor aos
cinco anos de idade, chegando a se apresentar para a realeza europeia, maravilhada com seu
talento precoce. Na adolescência, foi contratado como
músico da corte em Salzburgo, porém
as limitações da vida musical na cidade o impeliram a buscar uma nova
oportunidade em outras cortes, mas sem sucesso. Em 1781, ao visitar Viena com
seu patrão, desentendeu-se com ele e pediu demissão, optando por ficar na
capital, onde conquistou fama ao longo do resto de sua vida, porém pouca
estabilidade financeira. As circunstâncias de sua morte prematura deram origem
a diversas lendas. Deixou a esposa, Constanze, e dois filhos.
Assim que o talento de Mozart
foi reconhecido, isso em seus primeiros anos de vida, o pai, Leopold Mozart,
músico experiente e violinista afamado, abandonou suas pretensões pedagógicas e
compositivas para se dedicar à educação do filho e de sua talentosa irmã Maria
Anna, carinhosamente apelidada de Nannerl, que também precocemente manifestou
extraordinários dotes musicais; ela considerava Mozart um milagre
divino.
Parece certo que boa parte
do profissionalismo que o compositor veio a exibir em sua maturidade se deveu à
rigorosa disciplina imposta pelo pai. O seu aprendizado musical começou com a
idade de quatro anos. Leopold havia compilado em 1759 um volume de
composições elementares para o aprendizado de sua filha, que também serviu como
manual didático para o irmão. Nesse volume Leopold anotou as primeiras
composições de Mozart, datadas de 1761, Andante e Allegro para
teclado, sendo impossível determinar até que ponto são obras integrais de Mozart
ou se trazem contribuição paterna.
Mozart foi autor de mais de
seiscentas obras, muitas delas
referenciais na música sinfônica, concertante, operística, coral, pianística e música de
câmera. Sua produção foi louvada por todos os críticos da época, embora muitos
a considerassem excessivamente complexa e difícil, estendendo sua influência
sobre vários outros compositores ao longo de todo o século XIX e início do século XX. Hoje Mozart é considerado
pela crítica especializada como um dos maiores compositores do Ocidente,
conseguindo conquistar grande prestígio até mesmo entre leigos. Sua imagem se
tornou um ícone popular.
***


Nenhum comentário:
Postar um comentário
Para comentar mais facilmente, ao clicar em “Comentar como – Selecionar Perfil”, selecione NOME/URL. Após fazer a seleção, digite seu NOME e, em URL (preenchimento opcional), coloque o endereço do seu site.