quarta-feira, 2 de julho de 2025

ESCUTAR PARA ALIVIAR

 

Os verdadeiros terapeutas têm a capacidade de ouvir com todo o seu ser, sem preconceitos, sem julgamentos


 Trecho do livro “Raiva – Sabedoria para Abrandar as Chamas”, de autoria do monge budista vietnamita Thich Nhat Hanh, 1926-2022 (que eu leio atualmente e tenho o prazer de compartilhar).

 

Tom Simões, jornalista, Santos (Brasil), 2 de julho de 2025

 

“Eu não sei como os terapeutas são treinados para adquirir a capacidade de ouvir dessa forma. Um terapeuta pode também estar cheio de sofrimento. Enquanto senta e ouve o cliente, as sementes de sofrimento nele podem ser regadas. Se o terapeuta estiver dominado pelo próprio sofrimento, como poderá escutar a outra pessoa de maneira adequada? Quando você é treinado para se tornar um terapeuta, deve aprender a arte da escuta profunda.

Ouvir com empatia significa que você escuta de um modo tal que a outra pessoa sente que você está realmente a escutando, realmente a compreendendo e a ouvindo com todo o seu ser – com o seu coração. Mas quantos de nós somos capazes de ouvir o outro dessa forma?

Nós concordamos teoricamente que devemos ouvir com o coração, para conseguir realmente ouvir o que o outro está falando. Concordamos que devemos transmitir a quem fala a sensação de estar sendo ouvido e compreendido. Somente isso pode proporcionar alívio a essa pessoa. Mas, na verdade, quantos de nós somos capazes de ouvir dessa forma?

 


Escutar para aliviar

 

Escuta profunda, escuta compassiva não significa ouvir com o propósito de analisar ou de, nem mesmo, descobrir o que aconteceu no passado. Você ouve, acima de tudo, para ajudar o outro, dando-lhe oportunidade de falar livremente, e sentir que finalmente alguém o compreende. Escutar profundamente é o tipo de escuta que nos ajuda a manter a compaixão viva enquanto o outro fala, por um período de trinta a quarenta e cinco minutos. Durante esse tempo, você só tem em mente um objetivo, um desejo: ouvir o outro para lhe dar a oportunidade de falar livremente e sofrer menos. É este o seu único propósito. Outros propósitos, de analisar e compreender o passado, podem ser um subproduto desse trabalho. MAS, ACIMA DE TUDO, ESCUTE COM COMPAIXÃO.

 

Só compaixão pode lhe impedir de ficar irritado. Com boa disposição, o retorno vem, sempre, lá do alto

 

Compaixão é o antídoto da raiva e amargura. Se mantiver viva sua compaixão enquanto você ouve o outro, a raiva e irritação não vão conseguir brotar. Caso contrário, coisas que a pessoa disser vão desencadear irritação, raiva e sofrimento em você. Só compaixão pode lhe impedir de ficar irritado, furioso ou desesperado.

Então você quer agir como um Grande Ser enquanto ouve, pois compreende que a outra pessoa sofre muito e precisa que alguém intervenha e a resgate. Mas você tem que estar equipado com algo para realizar o trabalho.

Quando os bombeiros chegam para ajudar a extinguir um incêndio, eles precisam do equipamento certo. Devem ter escadas, água e o tipo de roupa que os protegem do fogo. Devem conhecer muitas formas de se protegerem e de extinguir o fogo. Ao ouvir profundamente alguém que está sofrendo, você entra numa zona de incêndio. O fogo do sofrimento, da raiva estão queimando naquela pessoa que você ouve. Se não estiver equipado, não conseguirá ajudar e poderá se tornar vítima do fogo. Por isso você precisa do equipamento.

O seu equipamento aqui é a compaixão, que pode ser nutrida e mantida viva com a prática de respirar atentamente. Respirando atentamente você gera a energia da atenção consciente. Respirar atentamente mantém vivo o seu desejo fundamental de ajudar o outro a se exprimir com franqueza. Quando a outra pessoa fala, suas palavras podem estar cheias de amargura, condenação e julgamento. Essas palavras podem desencadear sofrimento em você. Mas se a compaixão se mantiver viva, através da prática de respirar atentamente, você está protegido. Você será capaz de se sentar e escutar durante uma hora sem sofrimento.

 

Desempenhe o papel de um bodisatva (*). Você será o melhor tipo de terapeuta


Quando você não tem a capacidade de ouvir compassivamente, não pode simplesmente fingir estar ouvindo. A outra pessoa perceberá que você está cheio de ideias sobre sofrimento, mas na realidade não a compreende.” 


***

(*) Em termos bem simples, um bodisatva é uma pessoa sábia e compassiva que valoriza e aprecia todos os demais seres. Claro, existem muitas pessoas inteligentes e bondosas por aí, então o que torna um bodisatva diferente? Para começar, bodisatvas não apenas desejam o bem dos outros seres como também conhecem alguns métodos habilidosos que podem efetivamente ajudá-los a acabar com seu sofrimento. Além disso, bodisatvas trabalham incansavelmente para de fato ajudar todos os seres. É esse conhecimento e objetivo que tornam a compaixão de um bodisatva tão poderosa.

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