sexta-feira, 28 de setembro de 2018

“Comentários sobre o Viver”


Jiddu Krishmamurti, 1895-1986

Filósofo, escritor, orador e educador indiano. Profere grandes Ensinamentos envolvendo: revolução psicológica, meditação, conhecimento, liberdade, relações humanas, natureza da mente, origem do pensamento e realização de mudanças positivas na sociedade global.






Krishnamurti nasceu em uma pequena vila no sul da Índia. Ele e seu irmão foram adotados em sua juventude pela doutora Annie Besant, então presidente da Sociedade Teosófica. Besant e outros proclamaram que esse filósofo indiano seria um instrutor do Mundo, vindo como os teosofistas haviam previsto. Foi educado cuidadosamente para ser o ‘avatar’ da Nova Era. Avatar’, na religião hindu, significa manifestação corporal de um ser superpoderoso.  

  
Krishnamurti não pertencia a nenhuma organização religiosa, seita ou país, nem estava associado a qualquer escola política ou pensamento ideológico. Pelo contrário, ele afirmou que estes são os verdadeiros fatores que dividem os seres humanos e que trazem o conflito e a guerra. Seus Ensinamentos transcendem os sistemas de crenças criados pelo homem, o sentimento de nacionalismo e de sectarismo. Ao mesmo tempo, dão um novo sentido e direção à busca da Humanidade pela verdade. Seus Ensinamentos, além da sua relevância à idade moderna, são atemporais e universais.



Livros Recomendados

TENHO este produtivo hábito. Sintetizar os livros que leio abordando autoconhecimento e espiritualidade. É comum eu compartilhar com os meus seguidores trechos de alguns deles. Isso não impede o leitor de adquirir a citada obra para conhecê-la em sua totalidade. Vai aqui também a sugestão de um presente muito útil para quem valoriza a leitura.    

Tom Simões, tomsimoes@hotmail.com








Conheça algumas das ideias memoráveis do livro: “Comentários sobre o Viver", que li em fevereiro de 2015:  





O MERO conhecimento, independente do quão amplo e elaborado seja, não resolverá nossos problemas humanos; presumir que sim é abrir as portas para a frustração e a infelicidade. Algo muito mais profundo se faz necessário. Um indivíduo pode ter o conhecimento de que o ódio é fútil, mas estar livre do ódio é algo bastante diferente. O amor não é uma questão de conhecimento.”





Simplicidade

NÓS PARECEMOS pensar que simplicidade é meramente uma expressão externa, um retraimento – ter poucas posses, vestir uma tanga, não ter casa, usar poucas roupas, ter uma pequena conta no banco. Certamente, isso não é simplicidade. Isso é meramente uma demonstração externa. E me parece que simplicidade é essencial, mas a simplicidade pode surgir apenas quando começamos a compreender o significado do autoconhecimento.”




DEVE haver uma cessação de toda busca, e só então há possibilidade do surgimento do inefável (*).”
(*) significa o que não pode ser expresso verbalmente, é um termo utilizado para identificar algo de origem divina ou transcendental e com atributos de beleza e perfeição tão superiores aos níveis terrenos que não pode ser expresso em palavras. 


SABEMOS tanto, sobre tantas coisas, mas o conhecimento não parece impedir a decadência que vive no homem. Os computadores e outros complexos aparelhos eletrônicos superam o homem em cada oportunidade e, ainda assim, sem o homem, eles não poderiam existir. O simples fato é que alguns cérebros estão ativos, criativos, e o restante de nós vive apodrecendo e frequentemente rejubilando-nos em nossa podridão.”






O CONHECIMENTO impede o escutar. Talvez um indivíduo saiba muitas coisas; mas para escutar algo que pode ser totalmente diferente do que ele sabe é preciso deixar de lado todo conhecimento. Não é assim, senhor? Como podemos perceber se uma afirmação é verdadeira ou falsa se a mente é preconceituosa, presa na estrutura das próprias conclusões e experiências, ou de outro? Para essa mente, o importante é perceber a própria limitação.”






CERTAMENTE o desejo de ser guiado propicia a conformidade, e uma mente que se conforma é incapaz de encontrar a verdade. Buscar luz em outro, sem autoconhecimento, é seguir cegamente. Todo seguir é cego.”





OU ALGO é verdadeiro ou é falso. O que é verdadeiro não precisa de interpretação, e o que é interpretado não é verdadeiro. O interpretador se torna um traidor, pois apenas oferece sua opinião, e opinião não é a verdade.”











QUE MINHA vida apenas exista, e que uma benção recaia sobre ela.”






A MENTE é um produto da sociedade, da cultura em que foi criada; e como a sociedade está sempre em estado de corrupção, sempre se destruindo a partir de dentro, uma mente que continuar influenciada pela sociedade também se achará em estado de corrupção e deterioração. Não é assim? Será que não podemos educar os jovens para que estejam tão atentos a esses fatores de corrupção e deterioração que os evitarão instintivamente, como evitariam uma peste?”






PELO PROCESSO natural da inteligência, ele passou a ver que a melhora profunda do homem não reside inteiramente em planejamento, em eficiência, na luta por poder. Assim, ele abandonou tudo aquilo, e começava a considerar o todo da vida de modo novo. ‘Passei muitos anos num afluente do rio, digamos assim, e quero passar os anos de vida que me restam no próprio rio.’ Agora ele desejava contribuir para o progresso da sociedade a partir de seu coração, e não da mente incessantemente calculista.”








NÓS não amamos, não somos realmente simples. Por estarmos preocupados demais com reformas, com deveres, com respeitabilidade, com tornar-se algo, com chegar ao outro lado. Em nome de outros, estamos apenas interessados em nós mesmos; estamos aprisionados na própria concha. ‘Vocês acham que são o centro desta bela Terra. Nunca param para observar uma árvore, uma flor, o fluxo de um rio; e se, por acaso, observam, seus olhos estão cheios das coisas da mente, e não da beleza e do amor.’ Isso é verdade, mas o que podemos fazer? Observar e ser simples.”




·         Krishnamurti é tido mundialmente como um dos maiores pensadores e instrutores religiosos de todos os tempos. Ele não apresentava nenhuma filosofia ou religião, mas falava sobre coisas que preocupam a todos nós na vida diária, dos problemas do viver numa sociedade moderna com sua violência e corrupção, da busca individual por segurança e felicidade e da necessidade da Humanidade se livrar do peso interior do medo, da dor e da tristeza. Explicou com grande precisão o funcionamento da mente humana, apontando a necessidade de trazer à nossa vida diária uma qualidade profundamente meditativa e espiritual.  





QUERO expor meu coração – algo que jamais fiz a ninguém, pois não é fácil falar de si com outras pessoas.”





NOSSA MENTE é tão cuidadosamente cultivada que nós preenchemos o coração com as coisas dela. Dedicamos a maior parte do tempo e da energia a ganhar o sustento, à acumulação de conhecimento, à chama da crença, ao patriotismo e à dedicação do Estado, às atividades de reforma social, à busca por ideais e virtudes e a muitas outras coisas com que a mente se mantém ocupada; assim, o coração se torna vazio, e a mente repleta de seus ardis. Isso realmente propicia a insensibilidade, não acha?”





NÃO HÁ diferença, exceto nas palavras, entre o homem que medita e pratica uma disciplina para alcançar a outra margem do rio e aquele que trabalha duro para realizar sua ambição material. Ambos são ambiciosos, ambos são gananciosos, ambos estão interessados em si mesmos. Um monge, um ‘saniasi’ meramente renuncia ao espetáculo exterior do mundo, da sociedade, mas, internamente, ainda é parte dela, ainda está ardendo com o desejo por alcançar, ganhar, tornar-se. Sim, compreendo. Claro, já que se exauriu completamente na política, seu problema não é apenas romper com a sociedade, mas voltar à vida por completo, amar e ser simples. Não importa o que faça, sem amor você não conhecerá a ação total que pode salvar o Homem.”






ALÉM DO que li e experimentei, o que sei? Aprender é uma grande virtude, mas estar satisfeito com o que se sabe é estúpido. Não venho com espírito de argumentação, embora argumentar seja necessário quando surge a dúvida. Venho buscar, e não refutar. Pratiquei meditação por muitos anos, não apenas as formas hinduístas e budistas, mas também os tipos ocidentais. Digo isso para que você saiba até que ponto busquei encontrar aquilo que transcende a mente.”






Qual é o sentido da vida?

PORQUE estamos confusos, não sabemos qual é a razão de toda esta bagunça e infelicidade. Queríamos debater isso com alguém que não esteja tão confuso quanto nós, e que não seja arrogante e autoritário; alguém que conversará conosco normalmente, e não com condescendência, como se soubesse tudo e nos colocasse como ignorantes garotos de escola que não sabem nada. Ouvimos dizer que você não é assim, e por isso viemos para lhe perguntar qual é o sentido da vida. Não é só isso, senhor. Também queremos levar uma vida produtiva, uma vida que tenha algum sentido. Mas, ao mesmo tempo, não queremos ser ‘istas’, ou pertencer a qualquer ‘ismo’. Alguns de nossos amigos pertencem a vários grupos de religiosos e políticos, mas não temos desejo algum de participar deles. Os políticos estão geralmente buscando o poder para si mesmos em nome do Estado; e quanto aos religiosos, são, na maior parte, crédulos e supersticiosos. Portanto, aqui estamos, e não sei se você pode nos ajudar.”






Mas como podemos nos educar corretamente? Precisamos de alguém para nos ensinar

VOCÊS têm professores para instruí-los em matemática, literatura e outras coisas, mas a educação é algo mais profundo e amplo que o mero acúmulo de informações. Educação é o cultivo da mente de modo que a ação não seja autocentrada; é aprender ao longo da vida a derrubar as paredes que a mente constrói para estar segura, e de onde surge o medo com todas as suas complexidades. Para serem corretamente educados, vocês têm de estudar muito e não ter preguiça. Sejam bons em jogos, não para vencer o outro, mas para se divertir. Comam a comida certa, e mantenham-se fisicamente saudáveis. Deixem que sua mente esteja alerta e capaz de lidar com os problemas da vida, não como hindu, comunista ou cristão, mas como ser humano. Para serem corretamente educados, vocês devem compreender a si mesmos; têm de seguir aprendendo por si mesmos. Quanto param de aprender, a vida se torna feia e infeliz. Sem bondade e amor não somos corretamente educados.”





NUMA pequena casa, ao longo da trilha junto ao córrego, uma mulher estava cantando com uma voz cristalina; trazia lágrimas aos olhos, não por alguma lembrança nostálgica, mas pela simples beleza do som.”





O RICO florescer da bondade na mente – que é muito diferente de ser ‘bom’ para atingir um fim ou tornar-se algo – é, em si mesmo, ação direta. O amor é a própria ação, a própria eternidade.”






QUANDO vocês ficam irritados com um barulho? Um cachorro começa a latir no meio da noite, ele os acorda, e talvez vocês possam fazer algo a respeito, ou não. Mas só quando há resistência ao barulho é que ele se torna uma coisa cansativa, uma dor, uma irritação...”




GOSTAMOS de pensar que nosso problema particular é exclusivo, que nossa dor é totalmente diferente da dor alheia; queremos permanecer separados a todo custo. Mas dor é dor, seja sua ou minha. Se não entendemos isso, não podemos avançar; nós nos sentiremos enganados, decepcionados, frustrados. Certamente, todos aqui buscam a mesma coisa; o problema de cada um é, essencialmente, o problema de todos. Se realmente sentimos a verdade disso, então teremos avançado muito em nossa compreensão, e poderemos investigar juntos; podemos ajudar uns aos outros, escutar e aprender uns com os outros. Desse modo, a autoridade de um mestre não tem sentido, torna-se tola. Seu problema é o problema do outro; sua tristeza é a tristeza do outro. O amor não é exclusivo. Se isso está claro, senhores, podemos prosseguir.”





 





A importância da mudança

SENHORES, não é um fato que uma transformação individual fundamental é necessária? Sem tal transformação a inspiração é sempre transitória, e existe uma luta constante para recapturá-la; sem tal transformação, qualquer esforço para levar uma vida espiritual só poderá ser muito superficial, uma questão de rituais, de sinos e livros; sem tal transformação a meditação se torna um meio de fuga, uma forma de auto-hipnose. Sem uma profunda mudança interna todo esforço para ser religioso ou espiritual é mera alteração na superfície.
Sem dúvida, o importante é sentir a necessidade premente de uma mudança fundamental, e não apenas ser convencido da necessidade de mudar pelas palavras de outro. Uma descrição empolgante pode estimulá-los a sentir que precisam mudar, mas essa sensação é muito superficial, e passará quando o estímulo desaparecer. Mas se vocês veem a importância de mudar, se sentem, sem qualquer forma de coerção, sem qualquer motivação ou influência, que uma transformação radical é essencial, esse próprio sentimento é a ação da transformação. O sentimento cria seus próprios meios de ação.”






POR RACIOCÍNIO lógico você pode chegar à conclusão de que uma mudança fundamental se faz necessária, mas esse entendimento intelectual ou verbal não gera a ação da mudança. A compreensão intelectual ou verbal não é uma reação superficial? Você ouve, raciocina, mas todo o seu ser não está nisso. Sua mente superficial talvez concorde que uma mudança é necessária, mas a totalidade de sua mente não está dando atenção plena; está dividida em si mesma.”






UMA PARTE da mente está convencida de que essa mudança fundamental é necessária, mas o resto dela não está envolvido; pode estar em suspenso, ou adormecido, ou opondo-se ativamente a tal mudança. Quando isso acontece, há uma contradição no interior da mente, uma parte querendo mudar e a outra indiferente ou oposta à mudança. O conflito resultante, no qual a parte da mente que deseja a mudança está tentando superar a parte resistente, chama-se disciplina, sublimação, repressão; mas também é chamado de busca de um ideal. Assim, está ocorrendo uma tentativa de construir uma ponte sobre o hiato da contradição. Há o ideal, a compreensão intelectual ou verbal de que deve ocorrer uma transformação fundamental, e há o sentimento vago, porém real, de não querer mudar, o desejo de deixar as coisas continuarem como estão, o medo da mudança, da insegurança. Assim, há uma divisão na mente; e a busca pelo ideal é uma tentativa de reunir as duas partes contraditórias, o que é uma impossibilidade. Nós perseguimos um ideal porque isso não exige uma ação imediata; o ideal é um adiamento aceito e respeitado.









TENTAR mudar a si mesmo, então, é sempre uma forma de adiamento. Você nunca reparou que, quando diz ‘tentarei mudar’, não tem intenção alguma de fazer isso? Ou você muda, ou não muda; ‘tentar’ mudar, na verdade, tem pouquíssimo sentido. Perseguir o ideal, tentar mudar, obrigar as duas partes contraditórias da mente a se unirem por meio da força de vontade, praticar um método ou disciplina para alcançar essa unificação e por aí vai – tudo isso é um esforço inútil e sem sentido que, na realidade, impede qualquer transformação fundamental do centro, do ‘eu’, do ego.”





“BRINCAMOS com a ideia de mudar, mas nunca mudando. A mudança exige ação drástica, unificada. A ação unificada ou integrada não pode ocorrer enquanto há um conflito entre partes opostas da mente.
O sentimento é, então, coberto por ideias, por palavras, não é? Ocorre uma reação contraditória, nascida do desejo de não querer mudar. Se for esse o caso, então continue de sua antiga maneira; não se engane seguindo o ideal, dizendo que está tentando mudar, e todas essas coisas. Apenas viva com o fato de que não quer mudar. A percepção dessa verdade é, por si só, suficiente.”







Ser inteligente é ser simples

VOCÊ IMPEDE sua inteligência com suas convicções, opiniões, afirmações e negações. A simplicidade é o caminho da inteligência – não a mera demonstração de simplicidade em coisas e comportamentos externos, mas a simplicidade do ‘não ser’ internamente. Quando você diz ‘eu sei’, está no caminho da não inteligência; mas quando diz ‘não sei’, e fala realmente a sério, já está na trilha da inteligência. Quando um homem não sabe, ele observa, escuta, indaga. ‘Saber’ é acumular, e aquele que acumula nunca saberá; ele não é inteligente.
Ignorância é uma coisa, e o estado de não saber é outra, completamente diferente; os dois não estão ligados de modo algum. Alguém pode ser muito culto, astuto, eficiente, talentoso e, mesmo assim, ser ignorante. Há ignorância quando não há autoconhecimento. O homem ignorante é aquele que não está desperto para si mesmo, que não conhece os próprios enganos, vaidades, invejas e tudo mais. Autoconhecimento é liberdade. Você pode saber tudo sobre as maravilhas da Terra e do céu, e, mesmo assim, não estar livre da inveja, da felicidade. Mas quando diz ‘não sei’, está aprendendo. Aprender é não acumular conhecimento, coisas ou relações. Ser inteligente é ser simples; mas ser simples é algo extraordinariamente árduo.”








Estreiteza da mente

O QUE é o mesmo que não escancarar as janelas e ver o céu, as árvores, o povo, todo o movimento da vida, mas, em vez disso, ficar espiando por uma fenda estreita no batente. E a mente é assim: uma parte pequena e insignificante é muito ativa, enquanto o restante está dormente. Essa atividade insignificante da mente cria os próprios problemas insignificantes sobre o bem e o mal, seus valores políticos e morais e assim por diante. Se pudéssemos ver de fato o absurdo desse processo, exploraríamos, naturalmente, sem qualquer compulsão, os campos mais vastos da mente.”






Matar

A DISPOSIÇÃO ou indisposição de um homem em matar animais para a satisfação de seu apetite indica sua atitude em relação a questões maiores da vida. Um homem não é virtuoso porque não come carne, nem é menos virtuoso por comer. Matar é realmente um problema muito grande e complexo. Com uma palavra ou um gesto você pode matar a reputação de um homem; por meio de fofocas, difamação, desprezo, pode acabar com ele. E a comparação não mata? Não matamos um menino ao compará-lo com outro que é mais esperto ou hábil? Um homem que mata por ódio ou raiva é considerado um criminoso e é sentenciado à morte. No entanto, o homem que deliberadamente bombardeia milhares de pessoas e as elimina da face da Terra em nome de seu país é honrado, condecorado; é visto como um herói. A matança está espalhada pelo planeta. Em nome da segurança ou da expansão de uma nação, outra é destruída. Os animais são mortos pela alimentação, pelo lucro ou pelos chamados esportes; são dissecados pelo ‘bem-estar’ do homem. O soldado existe para matar. Progressos extraordinários são feitos na tecnologia para assassinar grande número de pessoas, em poucos segundos e a grandes distâncias. Muitos cientistas se ocupam totalmente com isso, e os sacerdotes abençoam o bombardeio e a guerra. Além disso, matamos um repolho ou uma cenoura para comer, e destruímos uma praga. Onde devemos traçar o limite do que não vamos matar? [...] O homem compassivo conhece a ação correta. Sem amor, você está tentando descobrir qual é a coisa certa a fazer, e sua ação apenas conduz a maior dano e infelicidade; essa é a forma de ação dos políticos e dos reformadores. Sem amor, você não pode compreender a crueldade.”










A POLÍTICA pode ser espiritualizada? A política se interessa pela sociedade, que está sempre em conflito consigo mesma, sempre em deterioração. As inter-relações entre os seres humanos constituem a sociedade e, em verdade, essa relação se baseia em ambição, frustração, inveja. A sociedade não conhece compaixão. Compaixão é o ato de um indivíduo total e integrado.”





EMBORA talvez tenhamos a capacidade de pensar de forma eficiente até o fim de um problema, o pensamento é sempre limitado; a razão é incapaz de ir além de certo ponto. O pensamento nunca pode ser livre, porque todo pensar é reação da memória; sem memória, não há pensamento. A memória, ou conhecimento, é mecânica; por ser enraizada no ontem, está sempre no passado. Toda busca, racional ou irracional, começa do conhecido, do que já foi. Como o pensamento não é livre, não pode ir longe; move-se por dentro dos limites do próprio condicionamento, dentro das fronteiras de seu conhecimento e experiência. Cada nova experiência é interpretada de acordo com o passado, que é tradição, o estado condicionado, e assim o fortalece. Portanto, o pensamento não é o caminho para a compreensão da realidade.
No próprio processo de utilizar a mente, de pensar com clareza, de raciocinar de modo crítico e são, descobrimos, sozinhos, a limitação do pensamento. O pensamento, a reação da mente na relação humana, se une ao interesse autocentrado, positivo ou negativo; é limitado por ambição, inveja, posse, medo e assim por diante. Somente quando a mente se liberta desse cativeiro – que é o ‘eu’ -, a mente é livre. A compreensão desse cativeiro é autoconhecimento.”






Crença não é o caminho para a realidade

CRENÇA e não crença são questão de influência, pressão, e uma mente que está sob pressão, ostensiva ou oculta, jamais pode alçar voo. A mente deve estar livre de influência, de compulsões e pulsões internas, de modo que esteja só, desembaraçada do passado; só então pode haver aquilo que é atemporal. Não há caminho para isso. Religião não é uma questão de dogma, ortodoxia ou ritual; não é crença organizada. A crença organizada mata o amor e a amabilidade. A religião é o sentimento de sacralidade, de compaixão, de amor.
Crenças e dogmas têm pouquíssimo valor – na verdade, são ativamente prejudiciais, separando o homem do homem e gerando animosidade. O que importa é que a mente se liberte da inveja, da ambição, do desejo de poder, porque esses sentimentos destroem a compaixão. Amar, ser compassivo, isso é o real. A maioria de nós vive tanto na superfície, somos tão imaturos e sujeitos a influências, que o verdadeiro nos escapa.”






A MENTE consciente, estando ocupada durante as horas de vigília com eventos e pressões diárias, não tem tempo nem oportunidade de ouvir a parte mais profunda de si mesma; portanto, quando a mente consciente ‘cai no sono’, isto é, quando está bastante calma, não muito preocupada, o inconsciente pode se comunicar, e essa comunicação assume a forma de símbolos, visões, cenas. Quando acordado, você diz: ‘Tive um sonho’ e tenta desvendar seu significado, mas qualquer interpretação será influenciada, condicionada.
Não é possível estar consciente das próprias reações quando você entra num ônibus, quando está com sua família, quando está conversando com seu chefe no escritório ou com seu criado em casa. Estar apenas atento a tudo isso – atento às árvores e aos pássaros, às nuvens e às crianças, aos próprios hábitos, reações e tradições – implica observar sem julgamento ou comparação; e se você pode estar assim alerta, constantemente observando, escutando, perceberá que jamais sonha. Dessa forma, toda a sua mente está intensamente ativa; tudo tem um sentido, uma importância. Para uma mente assim, os sonhos são desnecessários. Você então descobrirá que no sono não apenas há descanso e renovação completa, mas também um estado que a mente nunca pode tocar.”






Ser ensinado e estar livre para aprender

VOCÊS não estão sendo ensinados por mim. Ser ensinado e estar livre para aprender são duas coisas completamente diferentes. Ao ser ensinado, há sempre o professor, o guru que sabe e o discípulo que não sabe; assim, uma divisão sempre se mantém entre eles. É uma perspectiva essencialmente autoritária e hierárquica, em que o amor não existe. Embora o mestre possa falar de amor, e o discípulo afirme sua devoção, a relação é desprovida de espírito, profundamente imoral, levando a um estado de grande confusão e sofrimento. Entretanto, precisamos de orientação, e quem atuará como guia? Existe alguma necessidade de orientação quando estamos constantemente aprendendo, não de determinado alguém, mas de todas as coisas em nosso avanço? Certamente, buscamos orientação apenas quando desejamos estar seguros, certos, confortáveis. Se somos livres para aprender, vamos aprender com a folha que cai, em todo tipo de relação, em estar atentos para as atividades de nossas próprias mentes. Mas a maioria não está livre para aprender, porque nós estamos habituados demais a ser ensinados; por meio dos livros, de nossos pais, da sociedade, somos instruídos no que pensar e, como uma vitrola, repetimos o que está gravado no disco. E o disco, em geral, está muito arranhado. Nós o tocamos muitas vezes. Nosso pensamento é todo de segunda mão. Ser ensinado torna o indivíduo repetitivo, medíocre. O desejo de ser guiado, com suas implicações de autoridade, obediência, medo, falta de amor e tudo mais, só pode conduzir à escuridão. Ser livre para aprender é algo totalmente diferente. E não pode haver liberdade para aprender quando já há uma conclusão, uma suposição; ou quando nossa perspectiva se baseia em experiência como conhecimento; ou quando a mente está presa em tradição, atada a uma crença; ou quando há o desejo de estar seguro, de atingir determinado fim. A mente pode estar ciente da própria prisão, e nessa própria percepção há aprendizado. Mas, primeiro, está claro para nós que uma mente presa ao que lhe foi ensinado é incapaz de aprender? Os acúmulos da mente impedem a liberdade de aprender. Para aprender, não pode haver acúmulo de conhecimento, nenhum empilhamento de experiências do passado. Será que você vê por si mesmo a verdade disso? É um fato para você ou apenas algo que eu disse, com que você venha a concordar – ou discordar? Claro, você não quer dizer que temos de jogar fora todo o conhecimento que a ciência reuniu, isso seria um absurdo. O ponto é: se quisermos aprender, não podemos presumir nada. Aprender é um movimento, mas não de um ponto fixo a outro, e esse movimento é impossível se a mente está carregada do acúmulo do passado, com conclusões, tradições, crenças. Essa acumulação, mesmo que seja chamada de ‘Atman’, alma, ‘Eu Superior’ ou algo assim, é o ‘mim’, o ego, o ‘eu’. O ‘eu’ e sua conservação impedem o movimento do aprendizado. Perceba então o movimento do aprendizado: enquanto estou encerrado em meu próprio desejo de segurança, de conforto, de paz, não pode haver movimento de aprendizado.
Se devo descobrir um novo fato, ou perceber a verdade de algo, minha mente não pode estar abarrotada com o que já passou. Vejo como é necessário que a mente abandone tudo que conheceu ou experimentou. O que tem continuidade, ‘permanência’, é a memória de coisas passadas. A mente tem de morrer para o passado, embora seja concebida pelo passado. A totalidade da mente deve estar completamente quieta, sem qualquer pressão, influência ou movimento do ontem. Só assim o outro é possível.”






EM CERTOS momentos, sinto a surpreendente beleza e vastidão da vida; mas aqueles momentos logo passam, e resta apenas um vazio. Esse vazio tem sua própria vitalidade, mas não é a mesma coisa. Essa outra coisa está para além da medida do tempo, além de toda palavra e pensamento. Quando surge a alteridade, é como se eu nunca tivesse existido; toda a estreiteza da vida, das torturas da existência diária, partem, e só esse estado permanece. Conheci esse estado, e tenho de reavivá-lo de algum modo. Nada mais me interessa.
Às vezes, a vaidade é mais forte que a razão. Somos todos vaidosos de nossa própria maneira peculiar, e como dói admiti-lo. É claro que estamos no mesmo barco. Todos nós queremos algo além de nossos insignificantes egos, mas essa estreiteza se infiltra e nos domina. Existe um estado permanente de amor, de criatividade, um fim definitivo da tristeza? Existe um estado de amor ou de paz criativa que, uma vez atingido, nunca se degenerará, nunca se perderá.










·         Krishnamurti não falava como um guru, mas como um amigo. Suas palestras e discussões não eram baseadas num conhecimento tradicional, mas em seus próprios vislumbres sobre a mente humana e a sua visão do Sagrado. Portanto, ele sempre transmitia uma sensação de frescor e clareza, apesar da essência de sua mensagem ter se mantido inalterada através dos anos. Quando se dirigia a grandes audiências, as pessoas sentiam que o filósofo indiano estava falando com cada uma delas, pessoalmente, sobre seus problemas em particular. Em suas entrevistas privadas, era um professor compassivo, ouvindo atentamente o homem ou a mulher que vinham a ele em sofrimento, encorajando-os a curar a si mesmo através do seu próprio entendimento.
Estudiosos de religião descobriram que suas palavras lançavam uma nova luz aos conceitos tradicionais. Krishnamurti aceitou desafios de cientistas modernos e psicólogos e os acompanhou passo a passo, discutindo suas teorias e, eventualmente, capacitando-os a enxergar os limites dessas teorias. O filósofo deixou um precioso acervo em forma de discursos públicos, escritos, discussões com professores e estudantes, personalidades religiosas e científicas, conversas com pessoas comuns, entrevistas em televisão e rádio e cartas.


***



ESTA síntese é uma simples ideia da obra. Quem se identificou com o seu conteúdo, deve ler o livro. Há muito mais a ser explorado sobre o tema.



Todo mundo pode mudar para melhor, se quiser. Carlos Castaneda, escritor e antropólogo peruano, diz que o homem só vive para aprender. “E se aprende, é porque é essa a natureza de seu destino, para melhor ou para pior”.

O autoconhecimento nos traz o saber, e este, o poder de nos transformar em pessoas melhores e mais plenas internamente. Trata-se de um longo caminho a ser percorrido e que exige a reinvenção de nós mesmos.
A gente tem de estar sempre se testando e se reinventando... Aperfeiçoando-se! 




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