quinta-feira, 21 de junho de 2018

Ariano Suassuna, 1927-2014


Escritor e dramaturgo brasileiro, autor do ‘Auto da Compadecida’, considerada sua obra-prima e adaptada para o cinema e televisão.
Além de escritor renomado, um dos maiores do Brasil, foi professor e idealizador do ‘Movimento Armorial’, que valorizou as artes populares. Nesse movimento, os artistas tinham o intuito de criar uma arte erudita a partir de elementos da cultura popular do Nordeste.






Poucos brasileiros foram tão geniais e de inteligência popular e erudita ao mesmo tempo como Ariano Suassuna.


Conforme se lê em https://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,leia-frases-do-escritor-ariano-suassuna,1533030, seu embate para afirmar uma arte genuinamente brasileira o empurrou para embate com adversários intelectuais de todos os quadrantes, que o classificavam como nacionalista e retrógrado. Nesse duelo cunhou frases e boutades (tiradas espirituosas ou engraçadas) de todo tipo, como se pode ver abaixo:










NÃO sou nem otimista, nem pessimista. Os otimistas são ingênuos, e os pessimistas amargos. Sou um realista esperançoso. Sou um homem da esperança. Sei que é para um futuro muito longínquo. Sonho com o dia em que o sol de Deus vai espalhar justiça pelo mundo todo.”






POSSO DIZER que, como escritor, eu sou, de certa forma, aquele mesmo menino que, perdendo o pai assassinado no dia 9 de outubro de 1930, passou o resto da vida tentando protestar contra sua morte através do que faço e do que escrevo (...)." (no discurso de posse como imortal da Academia Brasileira de Letras, em 1990)





"EU NÃO mereço a menor confiança em citações. Quando a frase não me serve, eu modifico." (durante palestra na Fliporto, em Olinda, em 2012)

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"EU TENHO dentro de mim um cangaceiro manso, um palhaço frustrado, um frade sem burel, um mentiroso, um professor, um cantador sem repente e um profeta." (em entrevista aos Cadernos de Literatura Brasileira, do Instituto Moreira Salles, em 2000)
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NÃO ME preocupo muito em ter ou não uma posição como artista. Literatura para mim não é mercado. É a minha festa, é onde eu me realizo. Digo sempre: arte é missão, vocação e festa. Não me venham com essa história de mercado”


SER poeta é muito bom porque eu não tenho nenhuma obrigação de veracidade, eu posso mentir à vontade, cientista é que não pode.”








QUEM gosta de ler não morre só.”





NÓS lemos para saber que não estamos sozinhos.”




MINHA POESIA é pouco conhecida, mas sempre a pratiquei, e considero a poesia a fonte profunda de tudo o que escrevo.”


"NUNCA olhei a internet. A velocidade da comunicação não é coisa boa. Arte exige vagar e dedicação exclusiva. Infelizmente, no território da arte, não existe democracia. Nem pode existir. Cervantes só existe um. Ninguém chega a ele através do computador." (em entrevista à Folha em 2012)       







SOU um escritor de poucos livros e poucos leitores. Vivo extraviado em meu tempo por acreditar em valores que a maioria julga ultrapassados. Entre esses, o amor, a honra e a beleza que ilumina caminhos da retidão, da superioridade moral, da elevação, da delicadeza, e não da vulgaridade dos sentimentos.”





"HÁ DUAS raças de gente com as quais simpatizo: mentiroso e doido, porque eles são primos legítimos dos escritores." (no livro ‘Ariano Suassuna, um Perfil Biográfico’, Editora Zahar)








TODA arte é local antes de ser regional, mas, se prestar, será contemporânea e universal.”





"SE PORTUGAL e Espanha fossem ali em Alagoas, eu iria. Mas são muito longe." (em entrevista à Folha em 2003 - o escritor não gostava de viajar de avião e nunca saiu do Brasil)






"SEMPRE me vêm com estatísticas, tentando provar que viajar de carro é mais perigoso, que as estradas são cheias de buracos. E eu respondo: 'Pior é no avião, que o buraco acompanha a gente o tempo inteiro'." (no livro Ariano Suassuna, um Perfil Biográfico’, Editora Zahar)






TENHO duas armas para lutar contra o desespero, a tristeza e até a morte: o riso a cavalo e o galope do sonho. É com isso que enfrento essa dura e fascinante tarefa de viver.”




Dizem que tudo passa e o tempo duro tudo esfarela.”


"A ALMA humana divide-se no hemisfério rei e no hemisfério palhaço. O que há de trágico é ligado ao primeiro, e o que há de cômico, ao segundo. O hemisfério rei se complementa com o hemisfério profeta. O hemisfério poeta, com o palhaço. No meu entender o ser humano tem duas saídas para enfrentar o trágico da existência: o sonho e o riso." (em entrevista à Folha em 2005)


"ANTIGAMENTE, para conquistar e subordinar um país, os Estados Unidos mandavam exércitos. Hoje, mandam Michael Jackson e Madonna. É incrível como as pessoas valorizam esses débeis mentais e deixam esquecidos artistas de talento que existem aqui." (em palestra no Teatro Tuca, em São Paulo, fevereiro de 2004)


"EU DARIA a Michael Jackson [o título de representante número um do lixo cultural]. Mas eu já estou com pena dele, porque os americanos inventam um mito assim falso como ele e depois destroem. E já está destruído." (em entrevista à Globo News)



"ESTENDO meu horror ao terrorismo aos atos praticados pelos americanos. O pior terrorismo é o de Estado. As pessoas que derrubaram as torres de Nova York: é um ato reprovável, mas são corajosos. Enfrentaram e morreram. O terrorismo de Estado é ao abrigo de qualquer risco." (em entrevista à Folha em 2003)
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A VERDADEIRA universalidade respeita as singularidades locais. Todos entram com sua parte, compondo a vasta sinfonia da cultura. Ela é feita de contrastes, que não são contrários, mas complementares. Do jeito como está proposta, a globalização é apenas a prevalência de uma cultura única, a norte-americana, sobre todas as outras”.




A NOVELA não tem nada a ver. Que língua é aquela que eles falam? Você está no meio de nordestinos aqui. Já ouviu um de nós falar daquele jeito? Aquilo não é fala, é miado de gato”.


“ (PENSAR que vai morrer) prejudica um pouco a qualidade de vida, e eu sou um apaixonado pela vida, amo profundamente a vida. Olhe que essa maldita tem me maltratado, mas eu gosto dela.”



"O AUTOR que se julga um grande escritor, além de antipático é burro, imbecil. Um escritor só pode ser julgado depois de sua morte."




O SER HUMANO é o mesmo em qualquer lugar, em qualquer tempo, em qualquer que seja a sua condição. Você pode ser rico ou pobre, mas os problemas que afetam verdadeiramente o ser humano são os mesmos.”


"UM MARCO de minha vida foi a leitura de uma frase d'Os Irmãos Karamazov': 'Se Deus não existe, tudo é permitido'. Sartre tirou essa dúvida, porque a frase é duvidosa. Ele disse: 'Deus não existe, portanto tudo é permitido'. Eu tirei a conclusão contrária, eu digo que nem tudo é permitido e portanto Deus existe. Ou a norma moral tem um fundamento absoluto, ou ficaria ao sabor da opinião individual de todo mundo, inclusive de estupradores e assassinos." (em entrevista à Folha em 2012)
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"NÃO TENHO medo (da morte). Só tenho medo de morrer sem terminar um livro que eu esteja escrevendo; e não ter uma morte limpa. Eu quero pelo menos uma morte limpa."


"NA MINHA visão, a literatura – e a arte de modo geral – é uma forma precária, mas ainda assim poderosa de afirmar a imortalidade. Também na minha visão, o homem não nasceu para a morte, nasceu para a vida e para a imortalidade." (em entrevista ao jornalista Geneton Moraes Neto na ‘Globo News’)
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Consta em http://g1.globo.com/pop-arte/blog/geneton-moraes-neto/post/suassuna-literatura-e-uma-forma-de-protestar-contra-morte.html (Suassuna: ‘A literatura é uma forma de protestar contra a morte’, escrito por Geneton Moraes Neto, em 23/7/2014) que, durante um certo tempo, horrorizado com os pecados que os repórteres cometiam ao transcrever o que dizia, ele se dava ao trabalho de responder as entrevistas por escrito - ali, ‘ao vivo’, diante do autor das perguntas. Queixava-se de que, ao publicar suas declarações, repórteres descuidados com o texto botavam no papel cacos da linguagem falada - como ‘né?’. Aquilo doía nos olhos de Ariano - um escritor que tratava a língua com reverência jamais escreveria um ‘né?’.

“Guardo, em meus arquivos, não tão implacáveis, uma pequena coleção de manuscritos de Ariano - aquela letra pequena e bem desenhada. Depois, ele abandonou o hábito de responder por escrito aos questionários. Não teria tempo para tanto”, escreve Geneton Moraes Neto (GMN), que entrevistou Ariano Suassuna:





GMN: Todo escritor, em última instância, escreve para ser lembrado. Isso é que motiva o senhor a escrever?

Ariano Suassuna: "A literatura é uma forma de protestar contra a morte. Em minha visão, a literatura - e a arte, de modo geral - é uma forma precária, mas, ainda assim, poderosa de afirmar a imortalidade. O homem não nasceu para a morte: o homem nasceu para a vida e para a imortalidade.”





GMN: Como é o Brasil dos sonhos de Ariano Suassuna?

Ariano Suassuna: "Eu sei que é um sonho - mas sem sonho a gente não vive. É necessário, ao ser humano, um sonho lá na frente para que a gente não se acomode e procure aquele ideal. O Brasil com que sonho, então, seria um regime no qual a gente realizasse, pela primeira vez na história humana, a fusão de justiça e liberdade".





GMN: O senhor já disse que considera a Disneylândia o maior monumento já erguido à imbecilidade humana. Qual é o grande monumento erguido à imbecilidade no Brasil?

Ariano Suassuna: "A réplica da Estátua da Liberdade que construíram na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Ainda não estive lá, mas já estou com raiva da estátua - porque não gosto nem do original - quanto mais de uma réplica de segunda classe feita no Brasil!".





GMN: A quem o senhor daria - de bom grado - o título de representante número um do lixo cultural?

Ariano Suassuna: "Em primeiro lugar, já que estamos falando no tempo de hoje, eu daria a Michael Jackson. Mas já estou com pena de Michael Jackson - porque os americanos inventam um mito falso como ele e depois destroem".





GMN: Em que situação o senhor compraria um disco de uma artista como Madonna ou Michel Jackson?

Ariano Suassuna: "Numa situação de extrema penúria intelectual, econômica, moral e mental. Se você me vir comprando qualquer coisa desse tipo, pode me internar, porque não estaria no meu juízo perfeito".





GMN: Ao reagir contra manifestações da cultura de massa, o senhor não teme ser considerado um grande dinossauro?

Ariano Suassuna: "Eu ‘temo’, não: já fui chamado! E já fui chamado de ‘Dom Quixote arcaico’, por viver, segundo diziam, esgrimindo contra os moinhos de vento da globalização. Não me incomodo".





GMN: Qual é a maior obra de arte já produzida no Brasil?

Ariano Suassuna: "Em artes plásticas: o Santuário de Congonhas, onde estão os 12 profetas esculpidos em pedra sabão pelo Aleijadinho. Em música, a obra de Villa-Lobos. Em literatura, Os Sertões - de Euclides da Cunha".



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Observação:

AQUI, o meu propósito é reunir material de interação social significativa que gere autorreflexão e, quem sabe, a conversação, usando as palavras para o conhecimento útil, aquele que, segundo Sócrates, nos torna melhores. É nessas buscas que percebo o quão incompleto é o conhecimento humano.

Quem sabe, algumas vezes poderei estar correndo o risco de atribuir frases não correspondentes a um ou outro pensador mencionado, apesar do meu rigor em relação às fontes de consulta. Neste sentido, o leitor poderá sugerir eventuais correções, contribuindo para o aprimoramento da informação.

Um amigo tranquilizou-me certa vez, mostrando que, mesmo se involuntário de minha parte, o pensamento não corresponder ao do verdadeiro autor, devo considerar o meu propósito e a essência da ideia.

Por outro lado, de cada autor, sintetizo apenas os pensamentos com os quais me identifico mais.


Tom Simões, tomsimoes@hotmail.com, março 2018






* Edição: Guilherme Rodrigues

2 comentários:

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