quarta-feira, 19 de outubro de 2011

AMIGO: IMPOSSÍVEL NÃO SE IDENTIFICAR COM TUDO ISTO

Você não necessita provar nada para ele, pois você é amado e aceito como você é, e o que você é basta 

(*) Tom Simões

Localizei algo mais de interessante sobre amigos. É bom falar sobre eles. Há sempre algum escritor tentando definir o verdadeiro significado da palavra “amigo”. Também não é incomum alguém dizer: “Não encontro palavras para expressar a importância dessa pessoa em minha vida”.

Tom Simões
“Amizade é provavelmente o mais valorizado entre todos os relacionamentos, porque um amigo é uma escolha totalmente nossa. Pais e parentes não são escolhidos, mas dados a nós. Isto também tem o seu próprio valor. No entanto, um amigo é alguém que fala ao nosso coração, alguém com quem temos afinidade magnética. Quando há afinidade entre duas pessoas que estão se tornando amigas, então este relacionamento pode durar pela vida toda, ou até mesmo além da vida”, escreve Anthony Strano em “O Ponto Alfa”. 

O autor explica que amizade é a aproximação de iguais; mesmo que haja uma diferença nas habilidades, papéis ou posições, há uma visão de igualdade que não permite nenhum sentimento de superioridade ou inferioridade. “Esta igualdade de visão permite uma aceitação completa um do outro. Isto cria proximidade. E tal proximidade é tão respeitosa que um não invade a personalidade do outro, nem abriga qualquer aversão por alguma fraqueza observada no outro. Uma vez que esta visão é ilimitada, a verdadeira bondade do outro é sempre usada para mensurar sua realidade. As fraquezas são vistas como algo alheio que, na hora apropriada, deixarão de existir”.

Amigo, para mim, é essa pessoa ao lado de quem a gente quer estar o tempo todo, contando as nossas experiências e ouvindo interessadamente as suas histórias. Não raramente, há tanto o que falar por ambas as partes, que os dois acabam rindo...

Para Strano, amigos verdadeiros nunca se divorciam. “Há um amor que não apenas se ajusta a qualquer imperfeição, mas ativamente a transforma com uma palavra de encorajamento, um sorriso paciente, um ato de gentileza. Você não necessita se provar para um amigo, pois você é amado e aceito como você é, e o que você é basta. Não há necessidade de nenhuma aquisição em especial. Tudo que um amigo quer é que você seja você mesmo”.

 IMPOSSÍVEL NÃO SE IDENTIFICAR COM TUDO ISTO

Para o escritor, outro ponto interessante é que amigos sempre têm uma profunda proximidade um do outro, mesmo que eles estejam distantes fisicamente. Para ele, o companheirismo supera a distância, o tempo e, de fato, qualquer tipo de separação. “Sua mútua empatia é a base de sua comunicação. Esta comunicação é algo mais do que simplesmente falar; é a habilidade de ‘ouvir’ os sentimentos do outro, sintonizar-se com o outro ser. Tal comunicação verdadeira permite a mais pura interação porque há um espelho de clareza, onde nada pode permanecer escondido. Nada pode ser distorcido ou mal-entendido”, diz o autor.

Amizade significa disponibilidade, escreve Strano, para quem um amigo está disponível todo o tempo e nunca diz “eu não tenho tempo”, “espere”, “mais tarde” ou “não me incomode agora”. Quando há necessidade, o amigo corre para estar lá.

Cada palavra confiada a um amigo é sagrada e lacrada aos olhos e ouvidos dos outros, observa o autor. “Absolutamente nada irá induzir alguém a trair a confiança do amigo. Confiança é uma aliança entre dois corações que aprenderam, por meio da experiência, que esta aliança nunca pode se romper ou ser traída. A confiança dispersa todo o medo de ser mal-entendido ou ser abandonado”.

Penso nas pessoas tímidas. Penso nas pessoas que não se abrem a outros, que não conseguem extravasar as suas queixas, lutas internas, medos, esperanças, limitações, ilusões, complexos, inseguranças, alegrias... Ah! Se elas conseguissem se superar, dispondo-se a prestar mais atenção nas pessoas especiais com que a vida a presenteia, periódica e generosamente, e se dedicar a essa dádiva divina... Essas pessoas não imaginam o tamanho da recompensa que teriam pela coragem de despertar para uma mudança de comportamento dessa natureza.

“Os dias vêm e vão como figuras ocultas e veladas, enviadas de alguma amistosa e distante parte, mas não dizem coisa alguma. E se não usarmos as dádivas que eles nos trazem, estas serão silenciosamente levadas de volta”, descreve o escritor, filósofo e poeta americano Ralph Waldo Emerson (1803-1882).

É claro que pode acontecer até de um amigo nos decepcionar. Alguém a quem nos dedicamos plenamente, mas que não pudemos conhecer verdadeiramente. Mas, ainda assim, é preciso respeitar um passado produtivo de trocas mútuas. E também disso colher lições.

Isto me lembra Jean-Paul Sartre, “A Idade da Razão”, 1945: “Uma amizade morta. Sentia-se nervoso e triste porque iria revê-lo. Gostava de estar com..., mas não sabia nunca o que lhe dizer...”

Num caso como esse, nem sempre há a separação definitiva. As pessoas podem continuar se encontrando. Mas, é claro, não há mais aquele desejo de estar junto, de compartilhar tudo igualmente.

Quando conquistamos a confiança de alguém, chegamos ao ponto de nos sentirmos absolutamente seguros para falar de coisas muito particulares. Infelizmente, as pessoas que não conseguem confidenciar com um amigo, também não se encorajam a se abrir nem mesmo com um terapeuta. Permanecem com pesos nos ombros, presas a uma intransponível solidão.

É triste quando pessoas acreditam que alguns problemas só acontecem com elas. Se derem a si próprias a oportunidade de compartilhá-los com um verdadeiro amigo, é possível ver que ele até tenha o mesmo problema ou conheça alguém em situação semelhante. Quem ainda não experimentou essa realidade?

Pessoa muito fechada sofre muito, calada, por não ter coragem de compartilhar os seus incômodos com alguém. Mas é preciso libertar-se da insegurança e acreditar que alguém pode ouvi-la.

É comum pessoas acreditarem ser muito difícil encontrar alguém comparado a um “padre no confessionário” com sua compulsória discrição. Mas, na verdade, somente uma insuperável desconfiança lhes impede de investir em relacionamentos sólidos e produtivos. Quando realmente buscamos, a vida nos sinaliza pessoas especiais que podem se tornar grandes amigas. Mas para isso é preciso estar atento e se esforçar para mudar.

Em sua obra “Por que não conseguimos ser bons?, cita o filósofo Jacob Needleman: “Como dizem, onde quer que viva um homem, um guia é providenciado; o guia só aparece para aquele que busca e deseja, talvez em silêncio, repetidamente”.

Ocorre que as pessoas ficam sempre no aguardo de o outro mudar ou demonstrar um sinal de interesse para que elas possam se abrir. Quando a real mudança de comportamento ocorre na gente e não no outro. O outro pode mudar sim, como efeito da minha mudança. Digo isto por experiência própria, pois desde quando despertei a consciência para essa prática, posso afirmar que consegui melhorar significativamente alguns relacionamentos pessoais e profissionais. 

 “Cada um de nós precisa encontrar o que nos faz avançar, em vez do que é habitual ou agradável”, escreve Joseph Goldstein em “Dharma – o Caminho da Libertação”.

Para finalizar, gosto especialmente de Sartre ao falar sobre um amigo de verdade: “É quando te vejo que me encontro melhor, parece-me que me deixei em depósito com você [...] Pensei muitas vezes que nos deveríamos ver mais. Creio que envelheceríamos menos depressa se nos pudéssemos encontrar de quando em quando...” 

(*) tomsimoes@hotmail.com, jornalista especializado em divulgação de Ciência, Santos (SP), Brasil 

Revisão gramatical do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com

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