segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Releitura de jornais

Ilustração: http://mundodeinformaçoes.blogspot.com
Rubem Alves é um dos meus cronistas preferidos. Em seu artigo recente, “Os dois tempos” (Folha de S. Paulo, Cotidiano, 5/1/2010), Rubem aborda a condição efêmera do jornal, que vale por um dia; no dia seguinte, ele vira papel velho. “Não leio de novo o jornal de ontem. Ele está morto. Mas leio o poema que já li, e sempre que o faço a vida ressuscita”, diz o articulista.
 
Parodiando meu mestre, não leio de novo o jornal de ontem. Mas utilizo sempre como referência em meus textos alguns “Rubem Alves” que reciclo diariamente de algumas páginas do jornal.
 
Para Rubem, “Jornalista tem de estar sempre informado do que está acontecendo. Jornalista que noticia notícia velha, já acontecida, acaba por perder o emprego (esse é o meu dilema: quero noticiar de novo notícia já noticiada...)”.
 
Mas, diz o cronista, há um outro tipo de escritura que não tem prazo de validade. Nenhuma data informa a sua idade porque a sua idade não importa: ela nunca fica velha. “Quem entende isso são os poetas e os místicos. Poesia não tem data, está sempre jovem, não envelhece com a passagem do tempo – porque ela nasce de um outro tempo. O místico Ângelus Silésius explicou assim: ‘Temos dois olhos. Com um vemos as coisas eternas, que permanecem. Com o outro, as coisas efêmeras, que desaparecem’. Então, há dois tempos, um tempo das coisas que não passam e, portanto, não têm prazo de validade, e um tempo das coisas que valem só por um dia e logo desaparecem...”
 
O que há de melhor
 
Eu também prefiro ler sobre algo que não tem prazo de validade, que não é efêmero. Algo que permanece e leva à expansão da consciência, renovando hábitos e mudando atitudes.
 
Daí não raramente eu separar do meu lixo, destinado à reciclagem, algumas páginas de jornal com textos susceptíveis de nova leitura ou de servir como referência para artigos que produzo. Como crônicas, especialmente.
 
É comum deparar-me com ideias tão originais, que sou incapaz de levá-las ao lixo, imaginando como seriam produtivas a tanta gente que não teve a oportunidade de ler esse jornal. O mesmo ocorre com os livros. Ainda que livros não se joguem no lixo, ao selecionar o que há de melhor nas obras que leio, é sempre muito prazeroso compartilhar com os meus leitores a filosofia de tantos escritores.
 
Para finalizar, busco inspiração mais uma vez em Rubem Alves, ao dizer que é preciso ter paciência com os sonhadores: “Porque esse tempo eterno são os sonhadores que o sentem na sua alma e o transformam em literatura”.

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