sábado, 6 de setembro de 2008

Na era do blog, jornalistas vibram com a liberdade de escrever

Eis aqui um interessante texto para reflexão, enfocando o advento da blogosfera e o futuro dos jornais impressos. Nele se diz, por exemplo, que o internauta, em busca de informação, acaba dando num espaço virtual que, simplesmente, reúne trabalhos jornalísticos provenientes de jornais impressos.


É verdade, eu também procedo assim com o blog; apenas tenho o cuidado de tornar original este instrumento e de levar em conta alguns aspectos fundamentais: 1) O uso estratégico da informação do jornal, através de adequação didática, como forma de multiplicar o acesso da população a acontecimentos do dia-a-dia e conhecimentos de seu interesse. Há aqui a característica da fidelidade em relação ao registro obrigatório da autoria dos textos citados; é justamente neste particular que se apoiará a credibilidade da informação pelo internauta; 2) Ao se utilizar textos de outros veículos, o blog precisa manter a sua personalidade, ou seja, uma linha de conduta que alie tais textos de referência com textos do próprio bloguista e de seus colaboradores; e 3) Uma das características principais de um blog é a possibilidade de interação do internauta com o blogueiro no processo da construção e/ou complementação de textos; para tanto, é indispensável a checagem da fonte, antes da inserção da informação.

Sou rigoroso em relação à seleção e/ou produção de textos jornalísticos para este veículo. Tal auto-exigência se explica por eu atuar, ao longo de minha vida profissional, no jornalismo científico. Ou seja, conforme diz Wilson Bueno, um dos nomes mais importantes do jornalismo científico brasileiro, “... como mediador nesse processo complexo de decodificação do discurso especializado da ciência”. Este blog também trilha esse caminho, o de selecionar fatos e conhecimentos e redigi-los em linguagem objetiva e atraente. Preocupo-me, inclusive, em trabalhar os textos, tanto os pessoais como de outros veículos, de forma a apenas produzir informações que não percam o caráter da atualidade, que possam ser lidas a qualquer momento. Permito-me ainda inserir na íntegra, com a devida procedência, artigos externos que considero especiais e se encaixam na filosofia do blog.

Pela terceira vez neste blog vou citar Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior (artigo “Estética da Recepção”, revista Discutindo Filosofia, ano 3, nº. 3), quando diz que “o texto literário só se efetiva de verdade quando é recriado e concretizado, ao vivo, pelo ato de leitura, conforme Machado de Assis parece ter percebido, com muita antecipação, já no século 19, segundo observado no estudo “O Leitor na Obra de Machado de Assis”, de autoria do professor João Ferreira.”

Penso na quantidade de informações úteis publicadas em jornais, sobretudo as informações com caráter de permanência, que vão para o lixo no dia seguinte à leitura do jornal. Então, por que não recriar informações, valorizando simultaneamente o autor do texto original e o veículo correspondente?

O futuro dos jornais

O texto que segue é uma síntese do artigo “O futuro dos jornais”, de autoria de Eleonora de Lucena (editora-executiva da Folha) publicado na Folha de S.Paulo (caderno Mais!) de 8 de junho de 2008.

... “Nos últimos anos, a discussão  sobre o futuro dos jornais passou a freqüentar o debate sobre comunicações. A internet – e suas infinitas possibilidades de informação e interação – é colocada como rival dos meios impressos, tachados de  lerdos e opacos.

Preocupados com a adesão avassaladora dos jovens à rede de computadores, os jornais buscam a renovação e discutem sua função neste momento e seu espaço como negócio.

Tradicionais empresas jornalísticas já há muitos anos investem na internet e aproximam suas plataformas de informação. Embora sejam âncoras importantes na rede e ganhem audiências em crescimento exponencial, não encontram contrapartidas em suas receitas que possam justificar uma eventual transição do papel para a tela.

Ao mesmo tempo, a venda de jornais continua a crescer no mundo (2,6% em 2007), muito impulsionada por países como China e Índia – e Brasil, que teve alta de 11,8%.

Por aqui, onde a televisão ainda reina quase absoluta como em nenhum outro lugar do globo, a fatia dos jornais no bolo publicitário engordou. Foi de 19,4% em março último. A internet ficou com apenas 3,2%. Só no primeiro trimestre deste ano, a publicidade em jornais brasileiros aumentou 24%.

Esse vigor mostra o interesse e a confiança de leitores e anunciantes nos diários impressos e coloca em cheque previsões pessimistas. Os jornais condensam uma credibilidade difícil de ser replicada em outros meios e funcionam como uma bússola para o leitor imerso no caos informativo atual.

Apresentam um resumo organizado das notícias mais importantes das últimas 24 horas, selecionando e hierarquizando fatos, análises e opiniões. Já foi dito que os editores atuam como curadores de notícias para seus leitores.

Os jornais também são os principais responsáveis pelos chamados furos de informação, fatos inéditos e relevantes que são trazidos à luz contra interesses e em benefício da democracia. Trazem um mosaico de opiniões único e se tornam referência na discussão de idéias do país. Finalmente, são elogiados também por serem práticos, portáteis.

Nem por isso deixam de enfrentar questionamentos variados. Nos EUA, sempre referência nesse e em outros debates, os jornais registram vendas estáveis ou declinantes e sofrem golpes – muitos advindos da internet – que atingem sua imagem de credibilidade e independência.

Lá e aqui não existem respostas definitivas sobre os caminhos para os jornais.

Como podem ampliar seu universo de leitores – especialmente em países, como o Brasil, onde o analfabetismo ainda é uma vergonhosa realidade? Como conseguir atrair as novas gerações bombardeadas pela multimídia? Como trabalhar com a internet? Como, enfim, melhorar a qualidade do produto despachado diariamente até a porta do consumidor antes do seu café da manhã?

No texto que segue, publicado originalmente na revista norte-americana “The New Yorker”, o autor, Eric Alterman, lembra que bons jornais devem ser como um país conversando consigo mesmo. Numa sociedade extremamente desigual e cada vez mais preocupada com o bem-estar em escala privada, os jornais colocam o foco sobre o interesse público. Têm a tarefa de fazer uma reflexão cotidiana sobre a realidade. É o seu papel e o seu futuro...”

“Falar da morte dos jornais é ridículo”

Segundo Eleonora de Lucena, há uma disputa de mercado e de poder. Os jornais estão nesse emaranhado tratando de achar o seu rumo. É disso que trata o texto que a Folha também publicou no referido caderno. Eric Alterman garimpa, nos 300 anos de história da imprensa nos EUA, explicações para os desafios de hoje.

... ”Pouca gente acredita que os jornais, na forma impressa de hoje, tenham chance de sobreviver. Eles estão perdendo anunciantes, leitores, valor de mercado e, em alguns casos, o próprio senso de missão, num ritmo que teria sido difícil imaginar meros quatro anos atrás.

Num discurso recente em Londres, Bill Keller, editor-executivo do ´New York Times´, declarou: ´Onde quer que editores e publishers se encontrem, a atmosfera é funerária. Os editores perguntam ´como você está?´naquele tom que se usa com um amigo que acaba de sair de uma desintoxicação ou um divórcio´.

Nos últimos três anos, os jornais americanos independentes perderam 42% de seu valor de mercado, segundo o empresário de mídia Alan Mutter.

Até pouco tempo atrás, os jornais estavam acostumados a operar como monopólios de alta margem de lucro. Por muitas décadas, publicar o jornal dominante – ou único – de uma cidade dos EUA de porte médio equivalia a deter uma licença para imprimir dinheiro.

Mas na era da internet ainda não apareceu ninguém com uma solução para salvar os jornais, nos EUA e no mundo. Os jornais criaram sites que se beneficiam da alta da publicidade on-line, mas os valores vindos dessa fonte ainda não cobrem, nem de longe, a perda de faturamento com a queda da circulação e da publicidade impressa.

Em ´The Vanishing Newspaper´(2004), Philip Meyer arrisca a previsão de que o último exemplar do último jornal aparecerá na porta de seu leitor em algum dia de 2043. Talvez não seja muito delicado lembrar que essas declarações coincidem com a inauguração, neste ano, do Newseum [museu de notícias] de Washington, D.C., projeto de US$540 milhões.

Quem vai tomando o lugar, como se sabe, é a internet, que está a ponto de ultrapassar os jornais como fonte de informação política para os leitores americanos – coisa que já aconteceu entre os jovens e os politicamente engajados. Já em maio de 2004, os jornais ocupavam o último lugar entre as fontes de notícia preferidas pelos leitores mais jovens.

Há um elemento de injustiça irônica no fato de que o leitor que navega pela internet em busca de notícias políticas muitas vezes acaba dando num site que meramente reúne trabalho jornalístico proveniente de um jornal – embora esse fato não seja capaz de salvar os empregos ou aumentar as cotações do ramo jornalístico.

Um dos aspectos mais significativos na transição dos jornais de papel para o mundo da informação digital diz respeito à própria natureza da ´notícia´.

Muitos jornais, no afã de demonstrar equilíbrio e imparcialidade, não permitem que seus jornalistas exprimam suas opiniões em público, participem de passeatas, trabalhem em campanhas políticas, usem broches políticos ou colem adesivos em seus carros.

Numa conversa particular, jornalistas e editores podem até admitir que a objetividade é um ideal, mas, como membros de uma fraternidade suscetível, poucos dentre eles se permitiriam demonstrar em público o menor laivo de parcialidade.

Os jornalistas preferem desdenhar a possibilidade de que suas crenças pessoais possam interferir em sua capacidade de cobrir uma história com perfeito equilíbrio.

Nesse meio tempo, a confiança pública nos jornais vem caindo vertiginosamente.

Em abril de 2005, numa palestra diante da Sociedade Americana de Editores de Jornais, dois anos antes da aquisição, por US$5 bilhões, da Dow Jones & Co. e do ´Wall Street Journal´, Rupert Murdoch advertiu os principais editores e publishers do ramo jornalístico: tinham chegado ao fim os dias em que ´as notícias e a informação eram firmemente controladas por uns poucos editores, que decidiam o que podíamos e devíamos saber´. Ninguém mais aceitaria essa ´figura divina´, que apresentava as notícias como quem revela o Evangelho. Os consumidores de hoje querem ´notícias no calor da hora, atualizadas constantemente. Querem um ponto de vista, não apenas sobre o que aconteceu, mas também sobre as razões pelas quais aconteceu. Finalmente, querem poder usar essa informação em comunidades mais vastas – querem discutir, debater, questionar e até mesmo encontrar pessoas que pensam o mundo de modo semelhante ou diverso´.

Um mês depois da palestra de Murdoch, um mestre em computação, Jonah Peretti, e um ex-executivo da AOL, Kenneth Lerer, se juntaram à ubíqua comentadora-candidata-ativista Arianna Huffington para lançar um novo site, que batizaram de Huffington Post.

Blog de política mais popular dos EUA, Huffington Post radicaliza a noção de interatividade, mas ainda depende das reportagens dos grandes diários; para sua fundadora, falar da morte dos jornais é ´ridículo´. Ele é de esquerda e um dos mais acessados do mundo (é o primeiro na lista do Technorati, site que ranqueia os blogs com mais atalhos em outros blogs).

Fazendo eco a Rupert Murdoch, Jonah Peretti diz que a internet oferece ao editor uma ´informação imediata´sobre quais matérias interessam aos leitores, suscitam comentários, são enviadas a amigos e geram mais pesquisas nos sites de busca. Um site de notícias, segundo Peretti, tem ´uma vida que seria impossível à base de papel e tinta.

O Huffington tem uma equipe de jornalismo (diminuta, mas há esperanças de expandi-la no futuro), a maioria das matérias provém de outras fontes: impressas, televisivas ou particulares – a câmera ou o celular de alguém. Os editores criam links para o que lhes parece ser a melhor matéria sobre um determinado tópico e lhes dão uma manchete chamativa e de viés liberal, seguida de um espaço aberto para comentários dos leitores.

Ao redor dos artigos noticiosos, encontram-se as postagens muito veementes de uma hoste de blogueiros célebres (Nora Ephron, Larry David) ou nem tanto – mais de 1.800. Os blogueiros não são remunerados.

O efeito final pode parecer caótico e confuso, mas, segundo Lerer, ´esse modo de pensar e apresentar a notícia é tão transformador quanto foi a CNN, 30 anos atrás´.

Arianna Huffington e seus sócios acreditam que esse momento aponta para o futuro da indústria jornalística. `Todo mundo fala da morte dos jornais, como se fosse um caso encerrado. Eu acho isso ridículo´, diz ela. `A mídia tradicional só precisa perceber que a palavra digital não é o inimigo. Na verdade, é a palavra digital que vai salvar os jornais, contanto que eles a adotem de verdade.`

Jornalistas mais tradicionais tendem a não se impressionar com o estilo de reportagem praticado pelos blogs. O jornalismo de verdade, em especial o investigativo, é caro, não cansam de lembrar; compilação e opinião são baratos.

E é verdade: não há nenhum site que gaste o que os melhores jornais gastam em suas reportagens.  Com todos os cortes, o ´New York Times´conserva 1.200 pessoas na Redação – 50 vezes mais que o Huffington Post.

Em outubro de 2005, numa conferência em Phoenix, Bill Keller reclamou dos blogueiros que apenas ´mastigam e reciclam notícias´, em contraste com o ´jornalismo de verificação´do ´Times´.

´Os blogueiros não mastigam notícias, eles cospem notícias´, protestou Arianna Huffington numa postagem em seu blog.

Como muitos blogueiros de esquerda, ela se irrita com a idéia de que a imprensa tradicional é superior à blogosfera quando se trata de publicar a verdade mais dolorida.

Hoje, todos os jornais sérios estão fazendo o que podem para se adaptar. Alguns, como o `Times` e o `Post`, provavelmente sobreviverão a esse momento de transformação tecnológica, cortando pessoal e aumentando sua presença on-line. Outros vão tentar nichos locais. Os editores dizem que agora ´sacaram a coisa´.

Arianna Huffington, por sua vez, acredita que os modelos vão acabar por convergir, à medida que os dólares da publicidade continuem a migrar para a esfera on-line: ´O HuffPost vai gerar mais e mais reportagem original, enquanto o `Times´ e o ´Post´ vão continuar a seguir o modelo de hoje, mas cada vez mais on-line´.

Por sua vez, os grandes jornais que sobreviverem não poderão desdenhar o apoio do terceiro setor. O Instituto ProPublica, financiado pelos bilionários liberais Herb e Marion Sandler e dirigido pelo ex-editor do ´Wall Street Journal´, Paul Steiger, quer propiciar à grande mídia o tipo de jornalismo investigativo que hoje parece em via de abandono por muitos jornais.”

Blog: prática do chamado “jornalismo autônomo”

Gabriel Kwak falou sobre o assunto no site: http://portalimprensa.uol.com.br, publicado em 28 de julho de 2005, que ora sintetizo.

“Os dez anos da internet comercial estão sendo comemorados no momento em que os blogs vivem no auge da sua popularidade. De mero diário eletrônico, repleto de confidências e passagens do dia-a-dia das pessoas, passou a veículo de jornalismo com peso na balança, assinado por nomes que o leitor de há muito se acostumou a ver nas páginas dos jornais impressos, reproduzindo uma prática já muito comum nos Estados Unidos (o próprio romance entre o então presidente Bill Clinton com a sua estagiária Mônica Lewinski foi noticiado pela primeira vez num site de jornalista, o Drudge Reports).

O jornal `O Globo´ foi o primeiro a oferecer a seus colunistas a opção de manterem blogs no site do jornal. Tereza Cruvinel, Cora Ronái e mais dezesseis articulistas não precisam seguir qualquer padrão técnico em suas páginas. Exige-se apenas que o blog não passe mais de uma semana sem atualização.

Outra jornalista experiente que se destaca na blogosfera é Rosana Hermann. A idéia de manter um blog com notícias e comentários surgiu quando ela saiu da TV Record, onde apresentava o noticiário ´Fala Brasil´. Sua página tem em média 10 mil visitantes únicos por dia.

Os blogs também são um complemento, um braço das atividades que esses jornalistas desempenham em outras mídias, como jornal e televisão. A página de Mauro Ventura, repórter especial de Ó Globo´, procura contar os bastidores das suas reportagens, ou seja, aquilo que a versão impressa não disse. Marcelo Tas usa seu blog para discutir com o internauta idéias para sua coluna em ´O Estado de S. Paulo´e o seu programa no Canal 21, ´Saca-rolha´.

Os analistas da internet dizem que os blogs vieram para pôr em prática o chamado ´jornalismo autônomo´, ou seja, um jornalismo sem intermediações que permite ao cidadão comum ser editor de si próprio. ´Os blogs deram para cada brasileiro o sonho de ter sua própria mídia. Pelos anos de repressão, o brasileiro tem uma grande sede de expressão´, conclui Rosana Hermann.”

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