quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Isay Weinfeld: numa era de megaprojetos, arquiteto faz questão de repetir a simplicidade do modernismo

Em termos de arquitetura, sou admirador de Oscar Niemeyer, pela sua obra inigualável e pela singularidade de sua personalidade. Agora, o artigo "Isay Weinfeld reafirma o moderno para comover" (de autoria de Silas Martí, publicado na Folha de S.Paulo, caderno Ilustrada, de 29/11/2008) despertou-me o interesse também por Weinfeld.


O tema conduz-me ao mestre Oscar Niemeyer, 101 anos, com base na fonte: http://diversao.uol.com.br/niemeyer/ : Para o designer Ricardo Ohtake, "O ideal de Niemeyer é mais ou menos igual ao do modernismo, o da arquitetura para todos". Segundo o arquiteto João da Gama Filgueiras Lima, o Lelé, "A característica principal da obra de Niemeyer é a intuição, baseada na lógica da natureza. Por isso mesmo, a sua obra é capaz de emocionar qualquer ser humano, independente de sua formação intelectual ou categoria social".

Eis o que Silas Martí escreveu sobre o arquiteto Isay Weinfeld (*):


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... Poucos projetos arquitetônicos do século 21 conseguem "mover um cílio" de Isay Weinfeld. Menos ainda o "levam às lágrimas". E isso é importante para quem faz prédios como se escrevesse roteiros de cinema.

No lugar das torres dramáticas, esferas e arroubos orgânicos que dominam projetos badalados mundo afora, nada emociona mais este arquiteto do que uma grande caixa de ângulos retos, que abre de fora a fora para revelar um amplo jardim, preceito de Le Corbusier e do modernismo, estilo que Weinfeld, em vez de aposentar, faz questão de repetir, mesmo dizendo que é sem querer.

"Um professor me ensinou que o importante num texto era o começo e o fim, a primeira e a última linha", lembra Weinfeld em entrevista à Folha. "E isso eu levei para a arquitetura, do primeiro impacto ao abrir a porta à forma como o ‘espectador’ é conduzido pelo espaço".

É o que fica claro no livro que leva seu nome ("Isay Weinfeld", de autoria de Raul A. Barreneche, editora Bei), um grande volume, desses feitos para ficar na mesa de centro, com 15 de seus maiores projetos residenciais.

"Eu prefiro o modernismo hoje a essa arquitetura que está sendo feita fora do país, muito mega, muito Disney, muito Epcot Center", afirma ele... (**) "Eu vejo obras de agora e nenhum cílio meu se move. Prefiro fazer coisas que me emocionem, que me levem às lágrimas; não me preocupo se o modernismo acabou ou não".

Mas se depender dele, não acabou. Construída na capital federal, a casa Brasília, com quase metade do segundo andar em balanço – como se flutuasse sobre o jardim – e uma varada sustentada por pilotis, além de vastas plantas abertas nos dois pisos, de horizontalidade exacerbada, podia muito bem ter surgido nos dias de glória do estilo internacional.

A casa Pau-Ferro, no Jardim Paulistano, privilegia as áreas de convivência, deixando boa parte de seus 814m2 livres de obstáculos. Em todas as residências que projeta, e também em desenhos para endereços comerciais, Weinfeld lança mão de outro artifício modernista: o jardim que parece invadir as áreas internas, numa fusão do edifício com o entorno.

"Quando alguém tem um terreno numa cidade como São Paulo, quer privilegiar o contato com o pouco jardim que tem", opina Weinfeld, sentado à mesa de seu escritório, um pequeno prédio que, mesmo encravado numa rua do Itaim Bibi, tem metade de sua área reservada para um jardim no térreo. "Eu procuro enfatizar esse contato com o verde de forma contundente."

No prédio chamado 360º, ainda em construção na zona oeste de São Paulo, projetou apartamentos que se dividem meio a meio entre área interna e externa. "O terraço é fundamental, e eu exagero nisso."

Esse exagero virou arma de Weinfeld no combate à proliferação do neoclássico nas cidades brasileiras. "Eu abomino isso, acho que está tudo errado", afirma. "Quando construtores dizem que é isso que vende, me fazem subir o sangue à cabeça, porque não existe oferta do contrário para saber se outras coisas vendem ou não."

É talvez por isso, pela crença no neoclássico como garantia de vendas, que Weinfeld recusa quase todos os projetos para grandes incorporadoras. "As plantas hoje são vergonhosas", afirma. "As pessoas não sabem o que é arquitetura e acabam comprando gato por lebre."
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(*) http://www.isayweinfeld.com/site/

(**)... , que projetou a Livraria da Vila da Alameda Lorena, em São Paulo, o restaurante Fasano e a área interna da boate Disco.

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