terça-feira, 10 de junho de 2008

O Sorriso do Morador de Rua

Imagem: http://reikipro.files.wordpress.com
Incomoda-me muito esses seres humanos, deitados nas calçadas das ruas, embrulhados em lençóis, largados ao destino, sabe-se lá por que razão. Quem consegue passar por um deles e não se sensibilizar?

Talvez seja mais fácil, segundo a concepção da maioria das pessoas, alegar que se tratam de vagabundos desejosos de viver à mercê de quem trabalha. Essa maioria então, com base na falsa convicção, passa indiferente pelos moradores de rua, sem se render à emoção. Tal convicção garante o alívio diante do cenário e o conseqüente descompromisso: – “Não posso resolver o problema do mundo”. E a maioria segue em frente, insensível a esse desconfortante cenário público.

Quem é capaz de pensar no que leva indivíduos a morar nas ruas? Que tipo de alicerce tiveram esses indivíduos, bem ou mal sustentados pelas famílias, para chegar a esse tipo de sobrevivência desumana, carregando o seu “patrimônio”, resumido a uma trouxa de pertences, de uma a outra calçada de rua, onde “reside” por períodos de curta permanência?

Quem é capaz de pensar em possíveis traumas que essas pessoas podem ter sofrido, ao longo de suas existências? Quem é capaz de pensar que elas podem apresentar possíveis patogenias? Quem é capaz de pensar que elas não têm oportunidade de expressar os seus males, por conta de uma sociedade indiferente e individualista? Quem é capaz de transformar egoísmo em compreensão e generosidade, quem é capaz?

Tudo o que as pessoas necessitam é despertar para a verdadeira transformação pessoal: O que faço hoje de diferente em relação ao ontem? Onde percebo a minha mudança para melhorar? Em que aspecto consegui superar alguma limitação de meu ser? Onde avancei hoje, em relação a um novo entendimento? Quando iniciarei a busca de propósitos mais elevados para a minha vida? Neste estágio de consciência, não há mais retrocesso. Incorpora-se no indivíduo a prática da responsabilidade.

Como expressa Klaled Hosseini, em “O caçador de pipas”, sua emocionante obra: “Um homem que não tem consciência, que não tem bondade, não sofre.

Imagem:
http://reikipro.files.wordpress.com
Outro dia, ao passear com o cachorro de minha filha, deparei-me com um morador de rua, deitado em uma calçada, próximo à minha residência. Ao olhar o cachorro, o morador, um jovem, ali embrulhado sob panos encardidos, com apenas o rosto de fora, abriu um sorriso absolutamente expressivo para o cachorrinho, que se gravou em minha mente. Ao observar o sorriso cativante do jovem morador, imaginei a sua solidão, a sua tristeza, o seu abandono, a sua falta de perspectivas, a sua fome. Mas também li, naqueles olhos brilhando, o amor ali se expressando e, quem sabe, a esperança!

Acostumei-me, há algum tempo, ao me deparar com um desses moradores, a me concentrar,  após o choque, e a rezar, pedindo a Deus que ilumine e traga oportunidades a essas pessoas. É claro que jamais nego uma contribuição material, quando solicitado; na maioria das vezes, sou eu quem toma a iniciativa.

Não desejo saber por que o indivíduo encontra-se ali, ao abandono, buscando argumentos para me omitir. Ajo com o coração! E sigo em frente, até que outro morador de rua me leve novamente à emoção e ao desconforto!

 2008, 26 de maio

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Para comentar mais facilmente, ao clicar em “Comentar como – Selecionar Perfil”, selecione NOME/URL. Após fazer a seleção, digite seu NOME e, em URL (preenchimento opcional), coloque o endereço do seu site.