terça-feira, 19 de setembro de 2023

FANATISMO: PRECONCEITO, INTOLERÂNCIA E INSENSATEZ

“O que espanta não é a loucura que vivemos, mas a mediocridade dessa loucura” (Mia Couto, 1955, escritor moçambicano). O fanático ignora o princípio da lógica e do bom senso – ou seja, a capacidade de discernimento entre o verdadeiro e o falso.


 

Tom Simões, jornalista, Santos (SP), 19 de setembro de 2023

 

Para o crítico do papel das novas tecnologias no processo de disseminação de informação, o escritor e filósofo italiano Umberto Eco, 1932-2016, as redes sociais dão também o direito à palavra a uma ‘legião de imbecis’ que antes falavam apenas ‘em um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade’. "O drama da Internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade", diz ele.

Com o excesso de informações da web ninguém é capaz de saber o que é confiável ou não, sem a devida citação da fonte. Há muita informação sem critérios e até mesmo desqualificada. O uso de plataformas digitais para compartilhar notícias que acreditamos ser   verdadeiras, quando podem não ser, pode ter um poderoso efeito cascata, influenciando pessoas a tê-las como fatos.

Daí a oportunidade para o fanatismo ganhar relevo nos últimos anos com a escalada da tensão política no Brasil e no mundo. Para alguns especialistas, o fanatismo é uma resposta à insegurança e medo ao julgamento dos demais, funcionando como um escudo de proteção. A pessoa se encerra em convicções absolutistas e inquestionáveis para não ter que lidar com sua própria fragilidade e questionamentos.

Infelizmente, o fanatismo pode chegar ao extremo. Observando o comportamento das pessoas mais radicais na defesa de suas crenças, nos acostumamos a testemunhar cenas de intolerância e até violência. O fanático não consegue se conscientizar dos próprios pensamentos e ideias. E todos os absurdos que os seus ídolos cometerem, o obstinado defenderá como certo e até como ideal a seguir, buscando sempre justificá-los, desqualificando quem se colocar contra eles.


 

 

·        Mia Couto: escritor e biólogo moçambicano

  

Seja por meio da idolatria ou do fanatismo, os comportamentos excessivos de indivíduos com essas características podem culminar em uma série de perturbações de caráter político, econômico e social. São, na verdade, transtornos mentais e de comportamentos, caracterizados por um certo tipo de cegueira, às vezes transitórios    (melhor que seja), podendo evoluir de modo a causar danos irreversíveis.

Na perspectiva Freudiana, um sujeito fanático é aquele que entrega o seu superego, abandona seus princípios morais, à benesse de uma outra pessoa, objeto ou causa idealizada.

 

O fanático extremista não se possui, pois se torna a causa ou pessoa que defende. Ele ignora o princípio da lógica e do bom senso – ou seja, a capacidade de discernimento entre o verdadeiro e o falso, aplicando-se corretamente a razão para julgar ou raciocinar sobre determinada causa. E aí, com familiares ou pessoas amigas contrárias à sua crença, a ruptura poderá ocorrer se alguém tentar abrir os seus olhos. Melhor então o silêncio. Há algo que diz: “Não tente abrir os olhos de quem está cego, deixe que o tempo se encarregue de mostrar quem é quem”.

 

Necessidade de conscientização


A intolerância é uma atitude mental caracterizada pela falta de habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar diferenças em crenças e opiniões, ou seja, de aceitar pessoas com pontos de vista diferentes. 

“Algumas pessoas acreditam que, porque estão na internet, estão anônimas e não são obrigadas a respeitar o outro, não são obrigadas a cumprir as leis, não são obrigadas a ter um comportamento minimamente decente que se espera de qualquer cidadão que tenha consciência dos seus direitos e também dos seus deveres”, diz Thiago Tavares, presidente da SaferNet.  A SaferNet, fundada em 2005, é uma organização não governamental, sem fins lucrativos, que reúne cientistas da computação, professores, pesquisadores e bacharéis em direito com a missão de defender e promover os direitos humanos na Internet.  

 

"Ande com aqueles que buscam a verdade. Fuja daqueles que dizem que a encontraram".

 

Deepak Chopra: médico indiano formado em medicina pela Universidade de Nova Deli e radicado nos Estados Unidos.


Como explica Valéria Lessa, influenciadora digital: “Nós estamos numa geração em que hoje a realidade é ter as telas nas mãos, não é? Então, não há como impedir isso. É o efeito manada, não é? Porque quando você fala de um coisa ruim, você também pode incentivar, instigar outras pessoas que já de alguma forma tinham aquilo ali internamente para aflorar, precisando só de coragem”, diz. Valéria conhece no dia a dia de trabalho os efeitos do discurso de ódio, preconceito nas redes sociais. Ela faz o que pode para limitar o que a filha de 7 anos e o filho de 12 assistem.

“Consciência você não empurra. Consciência você constrói. Não adianta a gente achar que esse é um papel só da escola. Esse é um papel dos meios de comunicação, um papel das redes sociais, um papel dos parlamentares, um papel do cidadão consciente. Se não combatermos essa realidade, não poderemos revertê-la na sociedade brasileira”, revela a professora Catarina de Almeida, especialista em educação pela Universidade de Brasília.

 

       ·        Fontes consultadas

https://www.terra.com.br/noticias/educacao/redes-sociais-deram-voz-a-legiao-de-imbecis-diz-umberto-eco,6fc187c948a383255d784b70cab16129m6t0RCRD.html

https://moshebergel.com.br/fanatismo-politico-e-uma-doenca/

https://www.cidadedaluz.com.br/jose-medrado/artigos/2020/04/27/fanatismo-politico.html

https://orcoaching.com.br/idolatria-e-fanatismo-uma-doenca-sem-sintoma-aparente/#:~:text=Na%20perspectiva%20Freudiana%2C%20um%20sujeito,aos%20instintos%20b%C3%A1sicos%20do%20indiv%C3%ADduo.

https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2023/05/01/denuncias-de-crimes-envolvendo-discurso-de-odio-nas-redes-sociais-triplicaram-nos-ultimos-6-anos-aponta-levantamento.ghtml

 

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