quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

O Santos fez uma despedida à altura de Pelé


“Pelé joga futebol como Deus jogaria, se Deus decidisse se dedicar seriamente ao assunto". 



Guilherme Simões, jornalista, janeiro 2023

Parabéns ao Santos pela organização do velório do Rei Pelé, impecável e inesquecível. Cerca de 230 mil pessoas passaram pela Vila Belmiro em 24 horas, numa demonstração de agradecimento por tudo o que Ele representou ao clube e ao país. Pelé revolucionou o futebol com sua genialidade. Como escreveu o atual artilheiro da Premier League e craque do Manchester City, Erling Haaland, “Tudo o que fizeram, Pelé fez primeiro”.

Durante o cortejo do corpo pelas ruas de Santos, as pessoas, aglomeradas em diversos cantos, apresentavam um misto de orgulho e gratidão em seus semblantes. A cidade de Santos, conhecida mundialmente por conta do futebol, parou por algumas horas e abraçou Pelé em sua despedida. Quem vivenciou o dia 3 de janeiro de 2023 jamais esquecerá.


Cortejo de Pelé, no Canal 6, passando pela casa de sua mãe. Muita emoção!


O carinho do povo foi a melhor e mais bonita homenagem que Pelé poderia receber. Lamento apenas as ausências de ex-campeões mundiais no velório - somente Clodoaldo e Mauro Silva prestaram suas homenagens presencialmente. Os demais não podem reclamar depois de “falta de reconhecimento” no Brasil, pois muitos deles parecem ter memória curta também.

Pelé merece todas as homenagens possíveis. O seu legado é eterno. Alguns torcedores e cronistas defendem a aposentadoria da camisa 10 do Santos, outros não. O próprio Pelé disse não gostar da ideia em certa ocasião. Também acho que a melhor maneira dela (a camisa 10) não cair em esquecimento é seguir em campo, desfilando pelos gramados do Brasil e do mundo.

O Santos de Pelé excursionava pelos mais diversos continentes encantando multidões - o Rei marcou 361 gols no exterior com a camisa santista. Pelé era reverenciado em todos os locais do mundo, mesmo quando era adversário e algoz. Em 17 de julho de 1968, o Santos disputava um amistoso contra a seleção olímpica da Colômbia em Bogotá, quando o árbitro Guillermo Velasquez resolveu expulsá-lo. Eis que Pelé, já nos vestiários, foi convocado a voltar para o jogo após pressão da torcida colombiana. Quem acabou "expulso" foi o árbitro.

O jornalista Eduardo Galeano escreveu certa vez: “Pelé joga futebol como Deus jogaria, se Deus decidisse se dedicar seriamente ao assunto. Pelé marca encontro com a bola onde for, quando for e como for, e ela nunca falha. Para os altos ares ela é enviada: descreve uma ampla curva e volta para o pé dele, obediente, agradecida, ou talvez atada por um elástico invisível. Pelé a levanta, encolhe o peito, deixa-a rodar suavemente pelo corpo: sem que toque o chão vai mudando-a de perna enquanto se lança, corre-corre a caminho do gol. Não há quem consiga agarrá-lo, a laço ou no braço, até que ele deixe a bola pregada, branca, fulgurante, no fundo das redes. Dentro e fora de campo, se cuida. Jamais perde um minuto de seu tempo, nem deixa cair jamais uma moeda do bolso. Até pouco tempo, engraxava sapatos no cais do porto. Pelé nasceu para subir; e sabe disso.”

As jogadas, as conquistas e as histórias de Pelé precisam ser vistas e lembradas todos os dias, principalmente pelos jogadores do Santos, pois eles vestem uma das camisas mais importantes e emblemáticas do futebol mundial. Quis o destino, por sinal, que Rodrygo, Menino da Vila, marcasse um gol de placa pelo Real Madrid no dia do sepultamento de Pelé e comemorasse com um soco no ar, marca registrada do Rei. Rodrygo parece ter aprendido o maior dos ensinamentos de Pelé: a humildade.

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Blog Guilherme Simões / jornalista esportivo: ww.rendeunoticia.wordpress.com

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