quinta-feira, 29 de março de 2018

Tzvetan Todorov, 1939–2017


Filósofo e linguista búlgaro radicado em Paris, França desde 1963. Era considerado um dos grandes intelectuais europeus da atualidade. Seus ensaios influenciaram também a sociologia, a semiótica e a antropologia. Para além da teoria literária, Todorov se dedicou a estudar a história das ideias. Deixa uma obra que fala sobre a alteridade, o amor, a barbárie, a democracia e a vida comum, entre outros temas.


"LITERATURA não é teoria, é paixão. Quando lemos, nos tornamos, antes de qualquer coisa, especialistas em vida. Adquirimos uma riqueza que não está apenas no acesso às ideias, mas também no conhecimento do ser humano em toda a sua diversidade.”






“O SÉCULO 21 se apresenta como aquele em que muitos homens e mulheres deverão abandonar seu país de origem e adotar, provisória ou permanentemente, o status de estrangeiro. (...) Todos os países estabelecem diferenças entre seus cidadãos e aqueles que não o são, justamente os estrangeiros. [Eles] não gozam dos mesmos direitos, nem tem os mesmos deveres. (...) Isto nos atinge a todos, porque o estrangeiro não é só o outro, nós mesmos o fomos ou o seremos, ontem ou amanhã, ao acaso de um destino incerto: cada um de nós é um estrangeiro em potencial. Pode-se medir nosso grau de barbárie ou civilização por como percebemos e acolhemos os outros, os diferentes. Os bárbaros são os que consideram que os outros, porque não se parecem com eles, pertencem a uma humanidade inferior e merecem ser tratados com desprezo ou condescendência. Ser civilizado não significa haver cursado estudo superior ou ter lido muitos livros (...): todos sabemos que certos indivíduos com essas características foram capazes de cometer atos de absoluta barbárie. Ser civilizado significa ser capaz de reconhecer plenamente a humanidade dos outros, ainda que tenham rostos e hábitos diferentes dos nossos.”
(Trechos do discurso do pensador ao receber o Prêmio Príncipe de Astúrias (hoje Princesa de Astúrias) por sua contribuição às ciências sociais, em 2008.)
 “A NOÇÃO de choque de civilizações é passível de crítica do ponto de vista científico, porque as civilizações não correspondem aos blocos impermeáveis de que falam os autores. O choque não acontece entre as civilizações, mas entre Estados e grupos de Estados. Os conflitos de hoje não são de natureza religiosa, mas de natureza política.”
(Em entrevista à emissora ‘Euronews’, em 2008)
 “ESCREVI meu primeiro livro de História das Ideias, que se chama ‘Nós e os Outros’. Era uma obra sobre a pluralidade das culturas analisada sob o ponto de vista da tradição francesa. Estudei autores desde Montaigne (...) até Lévi-Strauss. Tentei ver como esses autores trataram esta questão difícil para nós ainda hoje: a unidade da humanidade e a pluralidade das culturas. Nessa série de autores, descobri que aqueles dos quais me sentia mais próximo eram os humanistas.”

“PERCEBI que, tanto como historiador como ensaísta, aproveitei mais a literatura em si que os estudos sobre literatura, e que lia com mais prazer romances, poesias e histórias diversas do que análises literárias ou teses escritas sobre a literatura, que me parecem hoje em dia se dirigir quase exclusivamente aos outros especialistas de literatura. Enquanto que o romance interessa a todo mundo, e me sinto mais próximo de todo mundo que dos especialistas.”
(Em entrevista concedida durante o evento ‘Fronteiras do Pensamento’, em 2012)

“ENQUANTO EXISTIAM ditaduras de um e outro tipo, podia-se sonhar com o fim delas, não como se isso fosse o paraíso, mas como o momento em que se poderia começar a solucionar os problemas. Mas nós seres humanos necessitamos de algo mais que a falta de uma opressão direta. Precisamos encontrar um sentido na vida. E aos que vieram logo depois [do fim dos regimes autoritários do século 20], faltou esse sentido, um projeto político, uma perspectiva.” 
(Em entrevista ao jornal espanhol “El País” em junho de 2016)

 “A FUNÇÃO da literatura é criar, partindo do material bruto da existência real, um mundo novo que será maravilhoso, mais durável e mais verdadeiro do que o mundo visto pelos olhos do vulgo.”


“O ESCRITOR não faz a imposição de uma tese, mas incita o leitor a formulá-la: em vez de impor, ele propõe, deixando, portanto, seu leitor livre ao mesmo tempo em que o incita a se tornar mais ativo.”

 “O CONHECIMENTO da literatura não é um fim em si, mas uma das vias régias que conduzem à realização pessoal de cada um.”

“HOJE, se me pergunto por que amo a literatura, a resposta que me vem espontaneamente à cabeça é: porque ela me ajuda a viver.”

“LER poemas e romances não conduz à reflexão sobre a condição humana, sobre o indivíduo e a sociedade, o amor e o ódio, a alegria e o desespero, mas sobre as noções críticas, tradicionais ou modernas.”
 ***


Observação:

AQUI, o meu propósito é reunir material de interação social significativa que gere autorreflexão e, quem sabe, a conversação, usando as palavras para o conhecimento útil, aquele que, segundo Sócrates, nos torna melhores. É nessas buscas que percebo o quão incompleto é o conhecimento humano.

Quem sabe, algumas vezes poderei estar correndo o risco de atribuir frases não correspondentes a um ou outro pensador mencionado, apesar do meu rigor em relação às fontes de consulta. Neste sentido, o leitor poderá sugerir eventuais correções, contribuindo para o aprimoramento da informação.

Um amigo tranquilizou-me certa vez, mostrando que, mesmo se involuntário de minha parte, o pensamento não corresponder ao do verdadeiro autor, devo considerar o meu propósito e a essência da ideia.

Por outro lado, de cada autor, sintetizo apenas os pensamentos com os quais me identifico mais.


Tom Simões, tomsimoes@hotmail.com, março 2018

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