segunda-feira, 4 de abril de 2016

POLÍTICA: QUANDO O DISCURSO DE GENTE CHATA E EGOÍSTA É VAZIO

Tom Simões, jornalista, tomsimoes@hotmail.com, Santos (SP), Brasil, 04/04/2016


http://tokdehistoria.com.br/2015/07/06/11122/, ‘Que importância têm as bandeiras?’


UMA LEITURA útil pode cumprir a função de despertar o leitor e libertá-lo das velhas formas repetitivas e condicionadas de pensar. Uma leitura útil pode levar alguém a um estágio melhor do que o anterior, como elemento transformador. Revoltadas, muitas pessoas esbravejam e xingam o governo, chegando até mesmo a insultar, por vezes com agressividade, quem discorda. Neste caso, o insensato deseja impor a sua ‘verdade’. Sem possibilidade de diálogo, vale o monólogo dos intolerantes, para não dizer ignorantes. Não raramente, os mais sensatos não têm a menor oportunidade de manifestar a sua opinião; e já que compreendem mais, se calam. Mas como, na prática, costumam agir os inconsequentes revoltados?...


Eles se unem à população que participa de passeatas contra o sistema atual de governo? Não! Eles desenvolvem algum tipo de ação social? Não! São absolutamente isentos de supostos envolvimentos desonestos, buscando o benefício próprio? Não! (Neste sentido, escreve o psicanalista Contardo Calligaris, ‘Lembranças de Mani Pulite’, Folha de S.Paulo, 31/3/2016: “[...] Você dá R$ 20 a um colega para que ele faça seu dever de casa. Isso é possível porque os políticos, lá em cima, são corruptos? Ou é o contrário: os políticos, lá em cima, se permitem ser corruptos porque sabem que a corrupção é a regra aqui em baixo, na nossa vida cotidiana? O cidadão médio vive de pequenas corrupções: venda e compra de pontos na carteira, notas fiscais não emitidas, colas numa prova, pequenas sonegações e fraudes... 
Ele pede transparência e honestidade até se dar conta de que muitas de suas ações são filhas da mesma confusão que ele denuncia no político: uma incapacidade de distinguir os interesses públicos dos interesses privados. Não basta que uma boa faxina seja iniciada pelas calçadas e pelas praças; ela precisa acontecer em casa. Isso seria uma verdadeira mudança cultural...”.
 Prosseguindo, esse cidadão esbravejador se queixa regularmente das coisas erradas do seu prédio? Sim! Mas participa das reuniões de condomínio? Geralmente, não! Tem alguma atitude generosa com funcionários do edifício onde mora? Quem sabe! Dispõe-se a colaborar de alguma forma com a escola onde estuda  seu(sua) filho(a)? Não! Tem alguma atitude generosa com moradores em situação de rua? Não, nem mesmo os percebe! Reconhece o árduo trabalho dos homens que recolhem o lixo e varrem as calçadas da sua cidade? Não, passam despercebidos esses trabalhadores! Costuma ser tolerante na fila do supermercado, padaria, consultório médico...? Não, muitas vezes é até malcriado! Costuma ser tolerante no trânsito? Não! Tem muita facilidade de colocar a mão na buzina do automóvel? Sim! Costuma reclamar de tudo o que não condiz com a sua comodidade? Sim! Algumas vezes, a gente acaba até evitando certos(as) idosos(as) que reclamam, reclamam e reclamam... Coisa mais chata! Eles têm todo o tempo do mundo, mas costumam agir egoisticamente, e agora então com esse benefício preferencial... Não há quem aguente um intolerante! É claro que existem os idosos exemplares, que educam o mundo, mas esses, diferenciais, são raros. Eles não escondem a sua generosidade, pelo simples olhar, até mesmo sem falar. Quem não gosta de estar ao seu lado, ‘roubar’ algo de sua sabedoria? Isto tudo tem a ver com o estado emocional interior do indivíduo? Sim! O cidadão revoltado fala com amigos sobre problemas pessoais? Não! Então falar mal do mundo pode ser uma forma de aliviar o seu sofrimento emocional? Sim! Qual é então a verdadeira utilidade dos lastimáveis esbravejadores? Que efeito produtivo tem a sua conduta intransigente?

Certamente os cidadãos sensatos acabam evitando o discurso acusador, sobretudo quando reconhecem que o(a) revoltado(a) é incapaz de um gesto de generosidade desinteressada, que não destina tempo algum, por pouco que seja, para beneficiar a sociedade. Para esse cidadão insatisfeito, mas que paga seus impostos em dia, quem precisa mudar de atitudes são os outros; ele tem mesmo é de cuidar de seus interesses pessoais e ‘botar a boca no trombone’ com as coisas públicas que julga erradas. ‘Botar a boca no trombone (ou no mundo)’ pode significar, de alguma forma, desaguar as mazelas do seu próprio estado emocional. Dá vontade de dizer: “Mas que papo chato, improdutivo, desnecessário. Amigo, vai fazer algo de produtivo para a comunidade e, então, compartilhe isso comigo. Aí, sim, a gente vai poder conversar!” Quando me deparo com um desses chatos, ensaio aquele sorriso sem graça e, tão logo tenha oportunidade, afasto-me com certo alívio.

E, por falar em análise sensata da corriqueira onda de corrupção política instalada neste país, tem muito texto escrito por especialistas das mais diferentes áreas, capazes de levar o leitor a reflexões úteis. Mas, infelizmente, poucos os leem. O que prevalece, na verdade, para os chatos e intransigentes, é a espetacular repercussão virtual e da mídia de ofensas e piadas sobre a classe política, que servem mais para distrair muitas pessoas de suas mazelas interiores. Ter moderação não significa que a gente não compartilhe da indignação com a banda podre do poder público. Mas apenas que devemos ter consciência da diferença entre uma opinião com conteúdo lógico e um discurso de revolta, vazio, inadequado, que não raro reflete uma atitude egoísta, capaz de mascarar o descompromisso social ativo. Infelizmente, os exemplos são para os poucos que podem absorvê-los; os insensatos não se sentirão atraídos por eles. O que deve haver é mais espaço para o pragmatismo, ou seja, o bom êxito prático, do que para a retórica. Para finalizar, cito algo do filósofo Friedrich Nietzsche, oportuno para esta discussão: “Não me roube a solidão sem antes me oferecer verdadeira companhia”.

O que você acha disso?


* Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com

2 comentários:

  1. Para reflexão (autor desconhecido)

    Tá Reclamando do Lula? do Serra? da Dilma? do Arruda? do Sarney? do Collor? Do Renan? do Palocci? do Delúbio? Da Roseana Sarney? Dos políticos distritais de Brasília? do Jucá? do Kassab? Dos mais de 300 picaretas do Congresso?

    Brasileiro reclama de quê?

    O brasileiro é assim:

    1 - Saqueia cargas de veículos acidentados nas estradas.
    2 - Estaciona nas calçadas, muitas vezes debaixo de placas proibitivas.
    3 - Suborna ou tenta subornar quando é pego cometendo infração.
    4 - Troca voto por qualquer coisa: areia, cimento, tijolo e até dentadura.
    5 - Fala no celular enquanto dirige.
    6 -Trafega pela direita nos acostamentos num congestionamento.
    7 - Pára em filas duplas, triplas, em frente a escolas.
    8 - Viola a lei do silêncio.
    9 - Dirige após consumir bebida alcoólica.
    10 - Fura filas nos bancos, utilizando-se das mais esfarrapadas desculpas.
    11 - Espalha mesas, churrasqueira nas calçadas.
    12 - Pega atestados médicos sem estar doente, só para faltar ao trabalho.
    13 - Faz ‘gato’ de luz, de água e de televisão a cabo.
    14 - Registra imóveis no cartório num valor abaixo do comprado, muitas vezes irrisórios, só para pagar menos impostos.
    15 - Compra recibo para abater na declaração do imposto de renda, para pagar menos imposto.
    16 - Muda a cor da pele para ingressar na universidade através do sistema de cotas.
    17 - Quando viaja a serviço pela empresa, se o almoço custou 10 pede nota fiscal de 20.
    18 - Comercializa objetos doados em campanhas de catástrofes.
    19 - Estaciona em vagas exclusivas para deficientes.
    20 - Adultera o velocímetro do carro para vendê-lo como se fosse pouco rodado.
    21 - Compra produtos piratas com plena consciência de que são piratas.
    22 - Substitui o catalisador do carro por um que só tem a casca.
    23 - Diminui a idade do filho para que este passe por baixo da roleta do ônibus, sem pagar passagem.
    24 - Emplaca o carro fora do seu domicílio para pagar menos IPVA.
    25 - Frequenta os caça-níqueis e faz uma fezinha no jogo de bicho.
    26 - Leva das empresas onde trabalha pequenos objetos como clipes, envelopes, canetas, lápis.... Como se isso não fosse roubo.
    27 - Comercializa os vales-transporte e vales-refeição que recebe da empresa onde trabalha.
    28 - Falsifica tudo, tudo mesmo... Só não falsifica aquilo que ainda não foi inventado.
    29 - Quando volta do exterior, nunca diz a verdade quando o fiscal aduaneiro pergunta o que traz na bagagem.
    30 - Quando encontra algum objeto perdido, na maioria das vezes não devolve.

    E quer que os políticos sejam honestos...
    Escandaliza- se com a farra das passagens aéreas...
    Esses políticos que aí estão saíram do meio desse mesmo povo, ou não?
    Brasileiro reclama de quê, afinal?
    E é a mais pura verdade, isso que é o pior! Então sugiro adotarmos uma mudança de comportamento, começando por nós mesmos, onde for necessário!

    Vamos dar o bom exemplo!
    Espalhe esta ideia!

    ‘Fala-se tanto da necessidade de deixar um planeta melhor para os nossos filhos e se esquece da urgência de deixarmos filhos melhores (educados, honestos, dignos, éticos, responsáveis) para o nosso planeta, através dos nossos exemplos’.

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  2. Cansei de tanto bá-blá-blá
    Mirian Goldenberg, antropóloga, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autora de ‘A vela velhice’ (Ed. Record), Folha de S.Paulo, 5/4/2016
    “[...] Um engenheiro de 69 anos disse que não sabe mais o que é ser de direita ou de esquerda. ‘Minha família está em guerra. Meus netos acham que é um golpe da direita, meus filhos querem se mudar para Miami, minha mulher quer que eu rompa com todos os meus amigos de esquerda e minha mãe, que tem 91 anos, quer que todos os corruptos morram na prisão. Quando me cobram uma posição tenho a desculpa perfeita: sou um velho dinossauro, não quero desperdiçar o meu tempo sendo cúmplice de uma guerra insana, prefiro investir no amor, na paz, no respeito e na gentileza’.
    Ele está deprimido por não conseguir enxergar uma saída para a crise do país. ‘Podem me chamar de velho gagá, mas cansei de tanto blá-blá-blá raivoso! Não aguento mais a repetição de discursos que só estimulam a violência. Não suporto mais ver minha família se xingando na internet, amigos indignados quando digo que não quero ficar vomitando ódio contra aqueles que estão do outro lado. Muita gente se acha no direito de incomodar todo mundo com atitudes belicosas. O que mais me assusta é a violência e o ódio generalizado dentro e fora das nossas casas’.
    Ele pede um pouco mais de reflexão e serenidade: ‘A quem interessa a guerra que está destruindo o país? O que cada um de nós está fazendo para ajudar a encontrar uma saída pacífica? [...]”

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