terça-feira, 6 de setembro de 2011

VOCÊ SABE LIDAR COM UM DEFICIENTE FÍSICO?

Costumo ler às terças-feiras a coluna de Jairo Marques, no caderno “Cotidiano” da Folha de São Paulo. No dia 16 de agosto de 2011, Jairo, também chefe de reportagem desse periódico, escreveu sobre “Você sabe mexer com um PC?”. “PC” significa portador de paralisia cerebral.

De quando em quando escrevo para Jairo. Fico muito à vontade com ele, que me acolhe sempre especialmente. Parece até que nos conhecemos pessoalmente há algum tempo. Desta vez, ao ler o seu artigo, perguntei-lhe como eu devo agir quando me deparo com um deficiente físico. Porque algumas vezes tenho vontade de me aproximar e falar com eles e até tocá-los...

“Por mais que você seja um cara bacana, do bem, se você não conhece a pessoa com deficiência, eu sugiro que não a toque ou abrace assim do nada. Isto já aconteceu comigo diversas vezes e é um bocadinho constrangedor”, disse-me Jairo. Ele pergunta: “Isso acontece com quem não é deficiente? Raramente, concorda? Então, a gente fica com a impressão de que é reconhecido e quisto apenas por sermos diferentes”.

“Com certeza, você já trombou com um cabra PC alguma vez na vida. Rotineiramente, eles passam por bocós ou incapacitados totais de juntar cré com lé. Isso porque a paralisia cerebral pode dar uma boa prejudicada no esqueleto do sujeito, e quem vê cara torta e boca aberta não vê coração, não vê cérebro, não vê nada capaz de fazer uma conexão”, relata o jornalista.

E o que Jairo percebe como mais “broca na peleja” do PC para ser reconhecido como gente em sociedade são os casos graves, aqueles em que, da carapaça, sobrou pouco para o sujeito: “não anda, não fala e mal consegue abanar a mosca do bolo, mas pensa, raciocina, faz sinapse, respira e quer seu espaço, sua cidadania” (grifo meu).

VALORES PREDETERMINADOS

Para Jairo, “A principal dica para ‘enfrentar’ um caboclo com paralisia cerebral é tentar ao máximo mudar aquele olhar 43, com uma carga cheia de pessimismo, de valores predeterminados, de incapacidades suas que são projetadas no outro. Tentar ver o PC como um ser apenas diferente, que pode atuar no mundo de forma diferente, é o caminho”.

O colunista diz que ignorar a presença de pessoa com paralisia cerebral em seu ambiente ou fazer papel de “ridicoloman” tratando-a como uma “despombalizada” das faculdades mentais sem saber se ela tem mesmo um comprometimento cognitivo grave é atitude do século passado.

Jairo Marques,
“Assim como há computadores de todas as potências e desempenhos, há PCs com diferentes avarias na funilaria. Eles podem circular normalmente por aí, apenas descompensados de uma perna, com uma parte do rosto meio repuxadinha, ou podem andar em cadeira de rodas e ser bem prejudicados no todo. Mas isso não importa. O que importa é que eles são seres viventes superiores e mais capazes que qualquer máquina tecnológica, que tende a ficar inútil de seis em seis meses”, comenta o articulista.

Agora, cá entre nós, observa Jairo, a coluna em que falei recentemente sobre a morte do leão paraplégico Ariel (“Gosto muito de você, leãozinho”, 2/8/2011) bateu recorde de manifestação de leitores. “A que falei de gente (os PCs) houve somente poucas manifestações... O mundo está ou não está fora da ordem?”..., indaga.
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Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com

Um comentário:

  1. Tom, o poder da comunicação é algo que me deixa encantado! Uma mensagem no jornal consegue mobilizar pessoas, da forma como vc se mobilizou para.... informar! E é exatamente isso que milhares de pessoas precisam para entender melhor a vida de quem é "abatido da guerra": mais informação, mais conhecimento. Por anos e anos, os deficientes foram subtraídos do convívio social por uma série de conceitos errados que pairavam sobre a sociedade e sobre eles mesmos (a tal incapacidade de poder fazer). Hoje, estamos tomando as ruas, tentando ganhar mais espaços em sociedade e como cidadão. Ajudas como essa sua, são fundamentais! Um forte e fraterno abraço... Jairo Marques

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