sexta-feira, 13 de julho de 2018

Nikos Kazantzákis, 1883-1957


Escritor, poeta e pensador grego. Comumente considerado o escritor e pensador grego mais importante do século XX. É também o autor grego contemporâneo mais traduzido. Para o escritor, conhecido por romances como ‘Zorbás, o Grego’ e ‘A Última Tentação de Cristo’, não existe um Deus fora e acima da humanidade e da natureza.





Deus, diz ele, é uma força (ou um sopro, ou um grito, pois todas as metáforas são imperfeitas) em permanente construção por todos e cada um dos indivíduos.





O MAIS profundo de nossos deveres humanos não é o de analisar o ritmo da marcha de Deus, mas de ajustar a ela o ritmo da nossa vida precária.”





VERDADEIRAMENTE, nada se parece tanto com o olhar de Deus como o da criança."





"NÃO espero nada. Não temo nada. Sou livre."





O CORAÇÃO do homem é um mistério negro e incontrolável; um jarro furado e com a boca sempre aberta e, mesmo que todos os rios da terra corram para dentro dele, permanece vazio e sedento. A maior das esperanças não o enche, será que a maior das desesperanças vai enchê-lo?"





O TEMPO tem sido para mim um bem supremo. Quando vejo os homens passear-se, ou gastar mal o seu tempo em discussões vãs. Tenho o desejo de ir a uma esquina e estirar a mão como um mendigo e dizer:
‘Dei-me uma esmola, boas pessoas; dei-me um pouco do tempo que perdeis, uma hora, duas horas, o que quereis’.”










NÃO existem ideias, existem indivíduos que carregam as ideias, e elas elevam os homens que as carregam."





QUE COISA simples é a felicidade: uma taça de vinho, uma castanha assada, um braseiro espalhado, o som do mar... Tudo o que se necessita para sentir que a felicidade está aqui, e agora é um coração leve e simples.”





"QUANDO você luta pela liberdade [...] você já é um homem livre."





QUANDO você vai para a selva, o único lugar que você pode confiar é o que você tem consigo próprio."





A POESIA é o sal que impede as pessoas de apodrecer."









Yuri Vieira, em seu artigo ‘Ascese’ de Nikos Kazantzakis, 6/6/2002,  http://textos.yurivieira.com/terceiros/ascese-de-nikos-kazantzakis/#sthash.gO3hHZuR.dpbs, retirou vários trechos da obra ‘Ascese’.

Diz Yuri: “[...] apesar do tom revolucionário de algumas assertivas, atente para o fato de que tal ardor não tem nada a ver com política, estando mais para o que Hilda Hilst afirmou em entrevista concedida ao ‘Cadernos de Literatura Brasileira’:



A VERDADEIRA revolução é a santidade.”


ou, em certo sentido, para aquilo que Jiddu Krishnamurti repetiu tantas vezes:


A REVOLUÇÃO fundamental é revolucionar-se.”


Trata-se, enfim, da transformação, pela fé, da alma humana individual, escreve Yuri.









Eis alguns dos trechos selecionados por Yuri Vieira:



TEU PRIMEIRO dever consiste em perceber e aceitar, sem inútil revolta, os limites do entendimento humano, e em respirar e trabalhar sem tréguas dentro da rigidez dos limites.”





AMA a responsabilidade. Dize a ti mesmo: só eu tenho o dever de salvar a Terra. Se ela não for salva, a culpa é minha.”






TU ÉS responsável. Não controlas apenas a tua própria existência insignificante e efêmera. Mas és um lance de dados em que se joga, num momento fugaz, todo o destino de tua raça.”






NÃO É meu coração que bate e se agita no meu sangue; é a Terra inteira, que olha para trás e revive a terrível ascensão para sair do caos.”





AS GERAÇÕES futuras não existem num tempo distante e vago, mas já estão agindo e desejando em tuas entranhas mais íntimas.”





QUANDO falo aos homens, distingo Deus que luta em seus cérebros mesquinhos e grosseiros.”





POR TRÁS de todas essas aparências, sinto que uma essência luta. Quero unir-me a ela.”





QUAL será o meu dever? Romper o corpo; lançar-me à união com o Invisível; impor silêncio ao meu cérebro, a fim de ver e ouvir o apelo do Invisível.”





A OUTRA voz – que chamaremos de sexto sentido ou coração – contesta e grita: ‘Não e não! Não admitas jamais as limitações do homem! Rompe esses limites! Nega tudo o que teus olhos veem; morre, dizendo: a morte não existe!”










DEIXEMOS nossa porta aberta ao pecado. Não tapemos os ouvidos com receio de ouvir as sereias; e, sem nos fazer amarrar, por fraqueza, ao mastro de uma grande ideia, não nos percamos ao ouvir e abraçar as sereias.”





SOU uma criatura débil e efêmera, massa de argila e sonho. Mas, em meu interior, sinto turbilhonar todas as forças do Universo.”





BEIJEMO-NOS, abracemo-nos, de corações uníssonos, nós que somos humanos! Tanto quanto a temperatura da Terra nos permita, enquanto não tenhamos sido exterminados pelos terremotos, dilúvios, avalanchas e cometas! Criemos um cérebro e um coração para a Terra. Criemos, atribuamos o sentido humano ao inumano combate!”





DESPEDE-TE de tudo a cada instante. Fixa teu olhar, lento e apaixonado, sobre todas as coisas, e diz contigo: nunca mais!”





CONGREGA tuas forças e escuta. O coração do homem é todo ele um grito; debruça-se sobre teu peito para ouvi-lo; alguém dentro de ti luta e reclama.”





MANTÉM-TE sempre insatisfeito e revoltado. Assim que um hábito se torna agradável, elimina-o. O maior dos grandes pecados é a satisfação.”





NEM a dor, nem a esperança terrestre, nem a esperança futura, nem a alegria, nem a vitória – nada disto é por si só a essência do meu Deus. Toda religião que ergue um culto a uma dessas máscaras de Deus tolhe o nosso coração e a nossa mente.”






Melancholy’, de Albert György, representando o homem sem Deus. Ele olha para dentro de si mesmo e sente o vazio da alma!  





QUAL é o fim desse combate? Assim indaga o pobre cérebro do homem, preocupado apenas, como sempre, com o seu próprio interesse, e esquecido de que o grande Sopro não opera no tempo, no espaço ou na causalidade humana.”





SÓ ASSIM é que nós, mortais, poderemos criar o imortal: colaborando com Ele.”




ASSIM, pois, a salvação do Universo é ao mesmo tempo nossa própria salvação. A solidariedade entre os homens já não é um luxo dos corações sensíveis, mas uma necessidade, uma profunda necessidade de autodefesa. Como na batalha, a salvação de teu próximo é também a tua.”





PELA primeira vez, Deus pode contemplar, através de nosso espírito e de nosso coração, sua luta sobre a Terra.”





É SEU dever realizar seus próprios trabalhos antes de morrer. Sem isso, não pode ser salvo. É a sua própria alma, dispersa em tudo que o rodeia, nas árvores, nos animais, ideias e homens, que ele salva ao realizar suas tarefas.”




"O que esperais de um Deus? Ele espera dos
homens que O mantenham vivo."
Hilda Hilst 






Imagem: http://franciscanos.org.br/?p=27102




Ascese - Os Salvadores de Deus


Em https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/3/29/ilustrada/19.html, “O escritor Nikos Kazantzákis busca a nova face de Deus em Ascese”, José Geraldo Couto (especial para o jornal ‘Folha de S.Paulo’) escreve:


As religiões monoteístas (crença na existência de apenas um Deus) postulam a salvação do homem por um Deus onipotente e justo. Em ‘Ascese’, o grego Nikos Kazantzákis propõe o contrário: conclama os homens a salvarem Deus. Trata-se de uma nova e extremamente pessoal concepção das relações entre o homem e a espiritualidade. O livro, que foi escrito em 1926 e editado em livro só em 1945, chegou ao Brasil em 1997, em primorosa tradução direta do grego por José Paulo Paes.


Para Nikos Kazantzákis, não existe um Deus fora e acima da humanidade e da natureza. Deus, diz ele, é uma força (ou um sopro, ou um grito, pois todas as metáforas são imperfeitas) em permanente construção por todos e cada um dos indivíduos.










Existem, segundo Kazantzákis, dois caminhos contrários permanentemente diante do homem e de todos os seres do Universo: uma força ascendente, que aponta para a síntese, a vida, o espírito; e uma força descendente, que aponta para a dissolução, a matéria, a morte.
Desbravar diariamente o caminho que ascende é ajudar a Deus em sua luta para existir e libertar-se.



AO LUTAR com o mundo visível que nos circunda e ao submetê-lo, não libertamos Deus apenas: nós o criamos.’





Exercício


Nessa tarefa, que Kazantzákis descreve com todas as tintas de uma guerra sangrenta, é preciso submeter-se a uma certa disciplina e seguir uns tantos passos. É essa a ‘ascese’ (exercício) que o autor propõe.



Seria impossível resumir aqui os passos dessa jornada, não só pela sutileza e complexidade da argumentação de Kazantzákis, mas principalmente pela qualidade poética da prosa em que está modelada.



Conseguir verter para o português essa dicção elevada, modulada em parágrafos curtos que remetem aos versículos bíblicos, é uma proeza de que só é capaz um poeta sensível e experiente como José Paulo Paes.



Pode-se discutir pontualmente as concepções de Kazantzákis - sua ambígua defesa da guerra, o papel subordinado que reserva à mulher -, mas não o vigor visionário de seu canto.



Numa época em que todos parecem empenhados unicamente em cercar-se de lixo industrial e adorar o próprio umbigo, é um alento poder ouvir uma voz que diz:



"SOU uma criatura fraca e efêmera, feita de barro e sonhos. Mas sinto em mim o turbilhonar de todas as forças do Universo. Antes de ser despedaçado, quero ter um instante para abrir os olhos e ver."




***





Outras fontes de consulta: PENSADOR, Frases e Pensamentos; livros, jornais e fontes da Internet.






Observação:

AQUI, o meu propósito é reunir material de interação social significativa que gere autorreflexão e, quem sabe, a conversação, usando as palavras para o conhecimento útil, aquele que, segundo Sócrates, nos torna melhores. É nessas buscas que percebo o quão incompleto é o conhecimento humano.

Quem sabe, algumas vezes poderei estar correndo o risco de atribuir frases não correspondentes a um ou outro pensador mencionado, apesar do meu rigor em relação às fontes de consulta. Neste sentido, o leitor poderá sugerir eventuais correções, contribuindo para o aprimoramento da informação.

Um amigo tranquilizou-me certa vez, mostrando que, mesmo se involuntário de minha parte, o pensamento não corresponder ao do verdadeiro autor, devo considerar o meu propósito e a essência da ideia.

Por outro lado, de cada autor, sintetizo apenas os pensamentos com os quais me identifico mais.


Tom Simões, tomsimoes@hotmail.com, março 2018

2 comentários:

  1. Genial a frase na qual em verdade o porque de nossa existência se resume.
    “A VERDADEIRA revolução é a santidade.”

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