quinta-feira, 17 de julho de 2008

Veja o exemplo deste homem, com o lado esquerdo do corpo semiparalisado

Wilson Jacob Filho (**), wiljac@usp.br, "Necessidade de desafios" (*), caderno Equilíbrio, Folha de S.Paulo de 17 de julho de 2008

[...] "Fui com minha irmã a um asilo de idosos, desses que vivem da abnegação de uma ordem religiosa e das doações de pessoas generosas, seja na forma de bens, seja na de trabalho.

Em meio a esse cenário de múltiplas percepções, atentei para um dos moradores, com o lado esquerdo do corpo semiparalisado, varrendo folhas e gravetos na calçada.

Chamavam a atenção os detalhes daquela atividade, cuidadosamente realizada, apesar da grande limitação. Perguntei-me o que motivaria alguém, naquelas condições, a se dedicar a um trabalho que para muitos não teria importância.

Aquele homem, embora limitado, não se permitia passar sentado ou deitado o dia todo, apenas à espera de cuidados e alimentos. Tinha a necessidade de fazer algo que lhe justificasse a existência. Por não abdicar dos seus desafios, tornou sua vida ilimitada, a despeito da sua duração.

Prestei bem atenção na sua fisionomia enquanto retornava ao portão de entrada. Serena, expressava o incomparável prazer do fazer bem feito. Não emitiu nem ouviu qualquer comentário. Bastava-lhe a agradável sensação de estar vivo e ativo para poder testar constantemente os seus limites.

Quisera que todos pudessem sentir-se assim nas diferentes fases das suas vidas".
_________________

(*) Síntese do artigo

(**) Professor da Faculdade de Medicina da USP e diretor do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas (SP), é autor de "Atividade física e envelhecimento saudável" (ed. Atheneu) 

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