sexta-feira, 11 de março de 2011

RAIVA

Leio atualmente “Introdução ao Budismo”, escrito pelo monge tibetano Geshe Kelsang Gyatso, da tradição Kadampa. Em minhas leituras tenho o hábito de selecionar trechos para compartilhá-los com meus leitores. 

É neste sentido que busco inspiração no monge Gyatso, ao abordar uma lamentável situação de descontrole emocional que ocorreu comigo recentemente.

Ao substituir a tampa de um vaso sanitário de meu apartamento, perdi o controle por não conseguir montar a peça de encaixe da tampa. O que aconteceu então? Num determinado momento, irado, joguei ao chão a pequena chave de fenda que eu utilizava, quebrando-a. Essa chave integra um pequeno e antigo estojo de ferramentas caseiras.


Ao presenciar meu estado enfurecido, esposa e filho aproximaram-se. E me deram uma verdadeira lição de paciência. Calmos, fizeram o que precisava ser feito: consultar o manual de instruções para a montagem da tampa. 

Sou normalmente uma pessoa calma. Numa situação como essa, chego a sentir vergonha de mim mesmo. Passei dois dias refletindo sobre a lamentável circunstância, prometendo ter controle da mente de raiva. 

Apenas não me senti pior pela consciência sempre desperta. Ao errar, vem o arrependimento que me faz refletir a não repetir o erro, para eu não comprometer a calma interior que tanto busco exercitar.    

A PRÁTICA DA PACIÊNCIA...  

Gyatso reporta que precisamos cultivar a virtude da paciência mesmo que não tenhamos nenhum interesse pelo desenvolvimento espiritual, porque, sem paciência, ficamos expostos à ansiedade e frustração e dificilmente conseguimos ter relacionamentos harmoniosos. 

Paciência é o oponente da raiva, a mais poderosa destruidora de virtudes, diz ele. “Vemos, por experiência pessoal, quanto sofrimento nasce da raiva. Ela nos impede de avaliar corretamente uma situação, levando-nos a agir de modo lamentável. Destrói nossa paz mental e perturba todos os que estão ao nosso redor”.
 
Para o mestre tibetano, até os que normalmente gostam de nós afastam-se ao nos verem enraivecidos. “Em geral, a raiva é desencadeada por coisas insignificantes, tais como levar a mal uma crítica, achar um hábito irritante ou não suportar a frustração de expectativas. Com base nisso, a mente de raiva urde uma elaborada fantasia, exagerando os aspectos desagradáveis da situação e fornecendo racionalizações e justificativas para sentimentos de decepção, ultraje ou mágoa. Então, proferimos injúrias e cometemos ações ruins que ofendem os outros e transformam uma pequena dificuldade num grande problema”. 

Gyatso orienta: “Reconhecendo que os sofrimentos provocados pela raiva são horríveis e desnecessários, devemos gerar renúncia por eles e, depois, nos esforçar para abandonar sua causa, a mente de raiva. Fazemos isso por meio da prática da paciência. Dessa maneira, atingiremos uma cessação da raiva”. 

Para finalizar, o mestre revela que a raiz de toda a nossa felicidade futura é o potencial cármico virtuoso que trazemos em nosso continuum mental, ou seja, a energia positiva produzida pelas ações virtuosas que executamos no passado. “A raiva destrói essas potencialidades, privando-nos, assim, de colher os efeitos positivos gerados por nossas ações virtuosas. Além disso, por nos levar a cometer pesadas ações negativas, a raiva pode nos arremessar nos tormentos do inferno, em vidas futuras. Nada nos prejudica mais do que a raiva”, ensina o monge. 
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Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com

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