quarta-feira, 19 de novembro de 2008

“Trabalhadores invisíveis”: muitos passam diariamente por eles e simplesmente os ignoram

Sempre tenho um olhar atento aos “seres invisíveis” para a maior parte da sociedade: garis, lixeiros, carrinheiros, porteiros, trabalhadores da limpeza... Em se tratando de cena pública desta natureza, sou sensível a percebê-los, dispondo-me sempre a me aproximar gentilmente dessas pessoas. 

Por ser obcecado por Rubem Alves, evoco-o sempre: “Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem... O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido”.


Acolho “seres invisíveis” como irmãos, com base em uma concepção, pessoal, universal. Alguém já enxergou a alegria estampada no rosto de algum lixeiro no sobe e pula do caminhão do lixo?

 

Não raramente, surpreendo algumas pessoas por não estarem acostumadas a ser notadas e alvo de atenção e acolhimento. Elas passam pela gente com a cabeça baixa;  sentem-se envergonhadas, simples ferramentas de trabalho. 


Certo dia, logo pela manhã, reunido na copa com duas amigas para tomar o café da manhã, ao convidar para a nossa companhia uma senhora que cuidava da limpeza da sala ao lado, ela me olhou surpresa, mas aceitou o convite, muito encabulada. Em geral, o “ser invisível”, por se sentir naturalmente excluído, acanha-se quando “algum ser com trabalho visível” o acolhe fraternalmente. 


Psicólogo finge ser gari


O psicólogo social Fernando Braga da Costa fingiu ser gari por oito anos, vivendo como um “ser invisível”, sem nome. Ele varreu as ruas da Universidade de São Paulo (USP) para defender sua tese de mestrado abordando a invisibilidade pública. Fernando comprovou que, em geral, as pessoas enxergam apenas a função social do outro. Esse fato foi abordado pelo jornalista Plínio Delphino, do Diário de São Paulo, no artigo “Fingi ser gari por oito anos e vivi como um ser invisível”. 


O psicólogo descobriu que um simples bom dia, que nunca recebeu como gari, pode significar um sopro de vida, um sinal da própria existência. Ele diz que chorava ao chegar em casa, mas que essa experiência o curou da doença burguesa. Agora, Fernando nunca deixa de cumprimentar um trabalhador: “Faço questão de o trabalhador saber que eu sei que ele existe. Eles são tratados pior do que um animal doméstico, que sempre é chamado pelo nome. São tratados como se fossem uma COISA”. 


No artigo “Em busca de pessoas invisíveis”, redigido por Paloma Abdallah e Wellington Nogueira (Observatório da Imprensa, Jornalismo Social, 26/9/2006, http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br), segundo o professor Marcus Eugênio, da Universidade Federal de Sergipe, “Na psicologia, há basicamente duas teorias sobre as causas da invisibilidade social. A primeira vê a invisibilidade a partir da percepção dos indivíduos: as pessoas estariam tão familiarizadas com o ambiente que ele não lhes produziria nenhum estímulo. Assim, como um pedinte já faz parte da paisagem do centro das grandes cidades, muitas vezes passamos por eles e não nos damos conta... Criamos mecanismos para despersonificar esses indivíduos”.

Marcus Eugênio diz ainda que a outra teoria é a da banalização. Essa tem a ver com a despersonalização dos indivíduos, muito empregada no exercício de certas profissões – por exemplo, médicos que tratam os pacientes pelo número do quarto em que estão internados ou pela doença de que são portadores.

A invisibilidade é a principal causa da violência, maior ainda do que a pobreza. O que gera a violência é a sensação de não ter conhecimento, de não pertencer à sociedade. Ao se tornar visível, o sujeito vira cidadão”, revela o jornalista Gilberto Dimenstein durante o lançamento de seu livro “O mistério das bolas de Gude” (Folha de S.Paulo, 22/1/2006). 


Para Abigail Van Buren, “O melhor indicador do caráter de uma pessoa é como ela trata as pessoas que não podem lhe trazer benefício algum e como ela trata as pessoas que não podem revidar”.


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Penso em Neale Donald Walsch, “Conversando com Deus” (Livro I): ... “Ouça-Me na verdade da sua alma, nos sentimentos do seu coração, no silêncio da sua mente. Ouça-me em toda a parte. Então preste atenção ao seu mundo. Minha resposta pode estar em um artigo que já foi publicado. No sermão que já foi escrito e está prestes a ser dado. No filme que está sendo feito. Na canção composta ontem. Nas palavras ditas por um ente querido. No coração de uma pessoa com quem fará amizade. Por isso, chame-Me sempre que estiver separado da paz que Eu sou”.
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“E você Me prometeu, repetidamente, que se viesse saber passaria o restante de sua vida – todos os momentos em que estivesse desperto – partilhando a Verdade Eterna com o próximo... não por uma necessidade de ser glorificado, mas por um desejo profundo de pôr fim ao sofrimento alheio; de alegrar, ajudar e purificar; de proporcionar novamente ao próximo o sentimento de união com Deus que você sempre teve”. 


Por que finalizar com Neale Donald? O que tem a ver o meu artigo com palavras de Deus? Nesta semana de novembro, por duas vezes, em situações diferentes, o tema “invisibilidade de trabalhadores” caiu em minhas mãos; em outra situação, alguém me procurou para dar uma entrevista sobre Jornalismo Social.
 


... “O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido”. O mestre Rubem Alves entende bem dessa coisa da alma e do coração!

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