terça-feira, 12 de maio de 2009

Em defesa do “Fenômeno” (II)

No último domingo, 26 de abril, na primeira final do campeonato paulista, o Corinthians venceu o Santos F.C. por 3 a 1. É claro que meu filho, 20, estava lá no estádio da Vila Belmiro, com o tio, ambos santistas fanáticos. Lá em casa estavam eu, minha esposa, a filha, o namorado, torcedor do Corinthians e, veja só, o “Jaiminho”, o cachorrinho de minha filha, que não sabia pra quem torcer! Jaiminho queria mesmo é que os corintianos parassem de estourar aqueles fogos ensurdecedores!

Naquele segundo gol fenomenal de Ronaldo, minha filha perguntou-me: E aí, continua gostando dele? Isto porque todos sabem lá em casa da admiração que tenho por Ronaldo, independentemente de suas “cabeçadas” na vida. Gosto mesmo é da sua simplicidade, coisa que não é muito comum nos jogadores de futebol.


Apesar do pouco tempo no Corinthians, dos nove jogos que participou, o Fenômeno marcou oito gols. No jogo contra o Santos, Ronaldo lançou dois para dentro da rede. “O que ele fez ali, só gênio faz. O filme dele tá todo na cabeça. É a diferença que o craque faz. Participa pouco, mas vai lá e marca”, disse Rivelino. Até Pelé, presente naquele dia na Vila Belmiro, elogiou o craque.


Em seu artigo na Folha de S.Paulo de 27/4, Juca Kfouri fez o seguinte comentário: “Ontem, por exemplo, ele não fez quase nada, além de ter errado um ou dois passes bisonhamente. Na verdade, ele ‘só’ fez dois gols”.


Para Kfouri, “Ronaldo voltou, como o Corinthians voltou. E, se não voltará a ser o que foi, insista-se, como ele mesmo admite, depois de tanto esforço, depois de fazer tanta bobagem que não precisava ter feito, ainda precisando perder peso, será que será uma demasia voltar a chamá-lo de Fenômeno?”


“Mas no domingo eu estava na Vila Belmiro. Vi o toque preciso e suave, vi a bola descrevendo uma bela e larga parábola, vi o goleiro no meio do caminho, sabendo-se inútil, e vi as redes balançando suavemente. Foi um golaço. E o curioso é que a torcida não xingou o goleiro, não pôs a culpa no técnico santista, não arrancou os cabelos ou socou a cadeira. Nada disso”, conta José Roberto Torero na crônica “Gol feio ou bonito?” (Folha de S.Paulo de 28/4). Torero diz ainda que, onde estava, uns olharam para os outros, como se dissessem: “Você viu o que eu vi?”, “Vou lembrar desse gol para sempre” e “O desgraçado é bom mesmo”. 


Ao ver os reflexos do golaço de Ronaldo em inúmeros santistas, sinto-me até aliviado por não ter sido o único a reconhecer o grande espetáculo. É claro que havia tristeza, admite Torero, pois o 3 a 1 praticamente enterrou as chances do Santos. Mas também havia certa alegria no ar. Uma alegria por ter presenciado um grande lance, um momento raro, um lindo gol... uma obra de arte. E, no fim das contas, é para isso que vamos ao estádio, finaliza o cronista da Folha.


Em busca de outros caminhos...


Ainda tenho certa dificuldade de me acostumar com a idéia de Ronaldo no Corinthians. Ele, um dos maiores jogadores do mundo, que jogava no Milan,  na Itália! Regressou ao Brasil tão desacreditado, tão desmoralizado... Daí a Bárbara Gancia, cronista da Folha, dedicar uma crônica incrível a ele, “Em defesa do Fenômeno”, que, por gostar tanto, até a inseri em meu blog (25/7/2008). 


Retomando o artigo que escrevi recentemente sobre o jogador Adriano, “Há pouco espaço no topo da pirâmide, a competição é feroz e sangrenta e chegar ao topo é apenas o começo da batalha”, narra Claude M. Steiner em “O outro lado do poder”. Ele diz: “Você poderá permanecer lá por algum tempo; se o fizer, será somente através de uma competição impiedosa. A ironia mais cruel de todas é que mesmo que você consiga, após anos de esforço exaustivo, tornar-se poderoso e rico e manter a sua riqueza, provavelmente isso não o fará feliz”. 


Por que falar sobre isto? Porque imagino que a atual experiência de Ronaldo no Corinthians, com tudo que ele vem conquistando, certamente está contribuindo para a recuperação de sua autoestima, após tantas atribulações. Apesar de rico e famoso, creio que o que Ronaldo precisa mesmo agora é conciliar o seu sucesso com outros caminhos que o despertem para o essencial da vida. Tarefa difícil, mas não impossível.


E para finalizar, trago algo de Dulce Critelli, terapeuta existencial, professora de filosofia e cronista da Folha, que poderia inspirar Ronaldo em sua atual fase: “Nossa história e nosso passado não são nem cargas indesejáveis, nem determinações. Sem eles, não teríamos de onde sair, nem para onde nos projetar. São heranças e pontos de orientação. Nossa capacidade de dar um novo início para as mesmas coisas e situações é nosso poder original e está na raiz da nossa condição humana. É ela que dá à vida uma direção e um destino. Somos livres quando, ao agir, recomeçamos”.


E então, Ronaldão, que tal uma terapia especial (se é que já não procurou...) para não comprometer mais esse abençoado talento que Deus te deu e para poupar os teus fãs de mais manchetes depreciativas da tua vida? Falo sério, e não vem não com esse jeitão de ingênuo, com esse trejeito infantil de moleque e aquele teu sorriso matreiro característico de desarmar a platéia!

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