sexta-feira, 23 de outubro de 2009

“Em Busca de Sentido” - não deixe de ler este livro! Notável !

“Em Busca de Sentido” - não deixe de ler este livro! Notável ! 

Na impossibilidade de arcar com uma psicoterapia, é claro que, dependendo do caso, enxergo uma tentativa para a “cura” do incômodo. Cada um deve se esforçar para se libertar de seus desconfortos, e como eu gostaria que todas as pessoas tivessem acesso à terapia. Quem não tem algum problema, alguma mania..., da qual gostaria de se libertar? Costumo dizer que, se tivesse de optar hoje por outra atividade profissional, escolheria sem dúvida a psicologia.

Qual seria a solução para o incômodo? Com a consciência aberta e grande disposição pessoal, a leitura habitual de boas obras de psicologia e filosofia aplicadas, muito bem selecionadas, se não auxiliar no processo da cura, ao menos pode ampliar a capacidade de o indivíduo entender alguns aspectos da complexidade da psique. Paralelamente ao hábito da leitura, o desenvolvimento do lado espiritual é certamente fundamental para a melhoria da qualidade de vida como um todo.


Por experiência própria, com base em tal crença, devo dizer que me livrei (sozinho?...), recentemente, de um tipo de síndrome do toque, que me atormentou ao longo de toda vida. Mas é claro que há ainda o desejo de me submeter a uma terapia para desvendar eventuais “eus” inconscientes e, assim, explicar outros incômodos psíquicos...

Esta breve introdução leva ao livro “Em busca de sentido”, Viktor E. Frankl (1905-1997), cuja leitura, sugerida por Gilberto Dimenstein, terminei neste sábado chuvoso (17/10/2009), um dia perfeito para reflexão. Para quem anda chateado com a vida, desmotivado, a leitura deste livro pode levar, certamente, a “mudar a cabeça”. Ao custo aproximado de R$ 32,00, ele vale como uma sessão de terapia. Jamais esquecerei da experiência de Frankl no campo de concentração, do sentido da grandeza humana, espiritual e profissional que caracterizou a sua vida.

Frankl foi professor de Neurologia e Psiquiatria na Universidade de Viena. Ele fala de tentativas psicoterapêuticas individuais, como muitas vezes um “tratamento” de emergência pode salvar a vida. Descreve como sentiu e observou a si mesmo e as demais pessoas e seu comportamento na situação-limite no campo de extermínio nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Ao fazê-lo, toca na essência do que é ser humano: usar a capacidade de transcender uma situação extremamente desumanizadora, manter a liberdade interior e, desta maneira, não renunciar ao sentido da vida, apesar dos pesares, escreve o autor.

Frankl diz que o fato de seu livro (na 27ª. edição) ter se transformado num “best- seller” expressa a miséria dos nossos tempos: “Se centenas de milhares de pessoas procuram um livro cujo título promete abordar o problema do sentido da vida, este problema deve ser uma questão que as está incomodando muito. Havia querido simplesmente transmitir ao leitor, através de um exemplo concreto, que a vida tem um sentido potencial sob quaisquer circunstâncias, mesmo as mais miseráveis. E considerava que, se a tese fosse demonstrada numa situação tão extrema como a de um campo de concentração, meu livro encontraria um público mas não tão grande como se constatou”.

Em sua experiência com o horror, Frankl relata que, apesar de todo o primitivismo que toma conta da pessoa no campo de concentração, não só exteriormente, mas em sua vida interior, percebem-se, embora esporadicamente, os indícios de uma expressiva tendência para a vivência do próprio íntimo. Pessoas sensíveis, originalmente habituadas a uma vida intelectual e culturalmente ativa, dependendo das circunstâncias e a despeito de sua sensibilidade, experimentarão a difícil situação externa no campo de concentração de forma, sem dúvida, dolorosa; essa, não obstante, terá para elas efeitos menos destrutivos em sua existência espiritual. Pois justamente para essas pessoas permanece aberta a possibilidade de se retirar daquele ambiente terrível para se refugiar num domínio de liberdade espiritual e riqueza interior. Essa é a única explicação para o paradoxo de, às vezes, justamente aquelas pessoas de constituição mais delicada conseguirem suportar melhor a vida num campo de concentração do que as pessoas de natureza mais forte, analisa o autor.

Frankl refere-se a Dostoiévsky, que afirmou certa vez: “Temo somente uma coisa: não ser digno do meu tormento”. Essas palavras ficavam passando, muitas vezes, pela cabeça de Frankl quando ficava conhecendo aquelas pessoas tipo mártir, cujo comportamento no campo de concentração, cujo sofrimento e morte testemunharam essa liberdade interior última do ser humano, a qual não se pode perder. Sem dúvida, elas poderiam dizer que foram “dignas dos seus tormentos”. Elas provaram que, inerente ao sofrimento, há uma conquista, que é uma conquista interior, escreve Viktor.

“A liberdade espiritual do ser humano, a qual não se lhe pode tirar, permite-lhe, até o último suspiro, configurar sua vida de modo que tenha sentido. Pois não somente uma vida ativa tem sentido, por dar à pessoa a oportunidade de atuar criativamente. Não há sentido apenas no gozo da vida, que permite à pessoa experimentar o que é belo, na arte ou na natureza. Também há sentido naquela vida que – como no campo de concentração – dificilmente lhe oferece uma chance de se realizar criativamente e em termos de experiência, mas que lhe reserva apenas uma possibilidade de configurar o sentido da existência, que consiste precisamente na atitude com que a pessoa se coloca face à restrição forçada de fora sobre seu ser”, narra o escritor austríaco.

E prossegue: “Faz muito que o recluso está privado de realizar ações criativas. Mas não se encontra sentido apenas em realizações criativas ou experimentais. Se é que a vida tem sentido, também o sofrimento necessariamente o terá. Afinal de contas, o sofrimento faz parte da vida, de alguma forma, do mesmo modo que o destino e a morte. Aflição e morte fazem parte da existência como um todo”, complementa.

O sentido da vida

“Quando um homem descobre que seu destino lhe reservou um sofrimento, tem de ver nesse sofrimento também uma tarefa sua, única e original. Mesmo diante do sofrimento, a pessoa precisa conquistar a consciência de que ela é única e exclusiva em todo o cosmo dentro deste destino sofrido. Ninguém pode assumir dela o destino, e ninguém pode substituir a pessoa no sofrimento. Mas na maneira como ela própria  suporta esse sofrimento está também a possibilidade de uma realização única e singular”, observa Frankl.

Para ele, o que o ser humano realmente precisa não é um estado livre de tensões, mas antes a busca e a luta por um objetivo que valha a pena, uma tarefa escolhida livremente. O que ele necessita não é a descarga de tensão a qualquer custo, mas antes o desafio de um sentido em potencial à espera de seu cumprimento.

“Uma vez mostrado o impacto benéfico da orientação para o sentido, volto-me agora para a perniciosa influência daquela sensação da qual se queixam tantos pacientes hoje em dia, ou seja, a total e extrema falta de sentido de suas vidas. Eles carecem da consciência de um sentido pelo qual valesse a pena viver”. O autor diz também que esses pacientes sentem-se perseguidos pela experiência de seu vazio interior, de um vazio dentro de si mesmos; que estão presos na situação que chama de ‘vazio existencial’.

Frankl deixa perfeitamente claro, no entanto, que o sofrimento não é de modo algum necessário para que se encontre sentido. Insiste apenas que o sentido é possível mesmo a despeito do sofrimento – desde que, naturalmente, o sofrimento seja inevitável. “Se ele fosse evitável, no entanto, a coisa significativa a fazer seria eliminar sua causa, fosse ela psicológica, biológica ou política. Sofrer desnecessariamente é ser masoquista, e não heróico”, admite o psiquiatra.

Esse ser humano notável fala também que, cada vez mais, os psiquiatras são procurados por pacientes com problemas psicológicos e não tanto com sintomas neurológicos. Parte das pessoas que hoje buscam um psiquiatra teriam procurado um pastor, sacerdote ou rabino em épocas anteriores. Agora, elas frequentemente não costumam procurar clérigos e, ao contrário, procuram o médico com questões como: “Qual é o sentido da minha vida?”

“Em Busca do Sentido” nos leva ainda a esta reflexão: “O ser humano não está  completamente condicionado e determinado; ele mesmo determina se cede aos condicionantes ou se resiste a eles. Isto é, o ser humano é autodeterminante, em última análise. Ele não simplesmente existe, mas sempre decide qual será sua existência, o que ele se tornará no momento seguinte. A qualquer momento, a pessoa precisa decidir, para o bem ou para o mal, qual será o monumento de sua existência”.

Frankl traz tantas revelações importantes em sua obra que fica difícil selecionar o que sintetizar. O livro tem de ser lido com toda vontade. É tudo muito rico de significados, como “Mesmo se a pessoa não puder mudar a situação que causa seu sofrimento, pode escolher sua atitude. Viva como se você estivesse vivendo pela segunda vez e como se tivesse agido tão erradamente na primeira vez como está por agir agora. Algo que nos estimula e desafia a fazer o melhor uso possível de cada momento de nossas vidas”.

Para finalizar, Viktor Frankl leva a esta importante reflexão: “Conforme diz a última frase da Ética de Espinoza, ‘Mas tudo o que é grande é tão difícil de compreender quanto de encontrar’. Naturalmente, você pode perguntar se realmente precisamos referir-nos a ‘santos’. Não seria o suficiente referir-nos a pessoas decentes? É verdade que elas formam uma minoria. Mais que isso, sempre serão uma minoria. E, no entanto, vejo justamente neste ponto o maior desafio a que nos juntemos à minoria. Porque o mundo está numa situação ruim. Porém, tudo vai piorar ainda mais se cada um de nós não fizer o melhor que puder. Portanto fiquemos alerta – alerta em duplo sentido: desde Auschwitz nós sabemos do que o ser humano é capaz. E desde Hiroshima nós sabemos o que está em jogo”.   


“Em Busca do Sentido” é realmente uma obra daquelas que se encaixam muito adequadamente no propósito de mudar a mente e a atitude das pessoas.
Um livro indispensável, ou melhor, uma produtiva aula de laboratório.

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