quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Biblioteca Popular, ou “Livro de Rua”...

Foto: http://educacaoitatira.wordpress.com
Na oportunidade em que foi publicado o artigo “Projeto ‘liberta’ 5 mil livros nas ruas em 2 anos”, de autoria da Márcia Vieira (jornal “O Estado de S. Paulo, Cidades/Metrópole, 23 de maio de 2010), enviei e-mail ao referido jornal, e também à “Folha de S. Paulo”, sugerindo que temas como este passassem a compor, com alguma frequência, o elenco das chamadas de primeira página, ao lado das manchetes mais “vendáveis”, geralmente ligadas a política, polícia, futebol, economia e tragédias, por exemplo.

“Criada por cariocas em regiões carentes, proposta batizada de ‘Livro de Rua’ espalha bibliotecas em que não é preciso fazer cadastro nem devolver a obra”, revela Márcia Vieira. Segundo a jornalista, a ideia nasceu de um projeto americano, o “Book Crossing”. “Você deixa um livro em qualquer lugar público: um banco de praça, um café, um cinema. Caso encontre um exemplar, pega, lê e depois passa adiante. E, assim, de mão em mão, o livro vai circulando. O ‘Book Crossing’ ganhou fôlego em mais de cem países, até no Brasil. Mas um grupo de cariocas decidiu ampliar a corrente e criou o Livro de Rua”.

Um fato como este, que, infelizmente, desperta pouco interesse na maioria das pessoas, não pode passar despercebido. Daí o meu interesse em reproduzir artigos que abordam temas instrutivos que possam contribuir para o aperfeiçoamento da natureza humana. Lamentavelmente, ainda é irrisória a parcela da comunidade consciente de seu papel, fundamental para a construção de um mundo melhor.


Em sua obra “Quem me roubou de mim”, Fábio de Melo escreve: “O mundo começa na palavra que dizemos. A próxima palavra a ser proferida é sempre a nova oportunidade que recebemos de mudar a história. Palavras possuem o poder de mover as estruturas. Por meio delas vivemos o processo da ‘metanóia’, palavra de origem grega que significa ‘mudança de mentalidade’. Mudar de mentalidade é assumir um novo jeito de interpretar os fatos, as pessoas e o mundo”. Por isso as palavras são ditas, são escritas, diz o autor, para que tenham o poder de transformar as mentalidades.


E, para complementar, observa Fábio de Melo: “Olha devagar para cada coisa. Aceita o desafio de ver o que a multidão não viu”.


Hábito da leitura


O movimento “Livro de Rua” não só deixa livros em lugares públicos, observa Márcia, como também instala as ‘bibliotecas da liberdade’ em lugares carentes.


“O Book Crossing é uma ótima ideia, mas os livros acabam só circulando em áreas mais nobres, onde as pessoas têm fácil acesso a livrarias e bibliotecas. Acaba sendo um grande clube do livro”, revela à jornalista um dos idealizadores do Livro de Rua, Pedro Gerolimich, de 28 anos. Ele diz também: “Queremos democratizar o acesso à leitura. Nas ‘bibliotecas da liberdade’ não há burocracia. Qualquer pessoa pode levar quantos livros quiser. Não precisa mostrar documento de identidade nem fazer cadastro. Ninguém é obrigado a devolver os exemplares. O único compromisso é passar o livro adiante ou deixar em lugar público”.


Em entrevista a Clarissa Thomé (integrando o artigo de “O Estado), Eliana Yunes, fundadora do Programa Nacional de Leitura, em 1992, avalia o desafio de se transformar o Brasil em um país de leitores. “As famílias não têm livros em casa nem leem para os seus filhos, as escolas não estão dotadas de bibliotecas em sala de aula, as bibliotecas escolares são para cumprir tarefas e não para a alegria e o desfrutar das palavras. E tem o problema do poder aquisitivo. O livro é muito caro. Não faltam nos condomínios, por exemplo, quadra poliesportiva e piscina. Contudo, um espaço para leitura não tem. Você não vê um cuidado com essa questão. Tudo afasta o brasileiro de um convívio mais próximo com a linguagem escrita”.


Márcia Vieira conta que Pedro Gerolimich é filho de um professor de História e de uma advogada. Formado em Geografia, é acostumado a viver cercado de livros por todos os lados. Para ele, o livro serve para que as pessoas possam ler e não para ficar em uma estante. Ele tem de circular. “Já libertamos 5 mil livros em quase dois anos. A maioria foi parar nas cinco bibliotecas montadas pelo grupo. Três na Baixada Fluminense, um bolsão de miséria no entorno do Rio, duas em Belo Horizonte. E já há planos para chegar também em São Paulo e Brasília. As bibliotecas são instaladas em lugares como lan houses e postos de saúde. A gente leva o livro onde as pessoas estão por outro motivo. Mas, quando dão de cara com os livros, elas acabam pegando. Queremos que elas adquiram o hábito da leitura”.


A semente foi plantada por alguns idealizadores, como um jovem de 28 anos. Um grande projeto como este, de valor incalculável para a comunidade, não precisa de recursos financeiros para a sua sustentação, necessita apenas de pessoas bem intencionadas, com espírito de solidariedade e movidas pela esperança.


Como disse o poeta Mario Quintana: “Livros não mudam o mundo. Quem muda o mundo são as pessoas. Livros só mudam as pessoas”, conforme gosta de repetir Gerolimich, para explicar o seu entusiasmo com o projeto, finaliza a jornalista de “O Estado”.

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