quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

“Vida sintética” contribui para abolir a ignorância humana?

Foto: http://www.flickr.com/photos/pablobasile
Enquanto a ciência surpreende com os seus constantes achados revolucionários, a natureza do homem, em seus aspectos humanos, permanece no mesmo estágio dos ancestrais. Não há experiência científica capaz de anunciar uma revolucionária maneira de progredir consistentemente no âmbito das relações humanas, de retirar delas todo ato da irracionalidade.
 
No dia 21 de maio de 2010, a mídia anunciou a criação de uma forma de “vida sintética” em laboratório. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, o trabalho, que deverá entrar para a história como um dos maiores e mais polêmicos feitos científicos da biologia moderna, foi capitaneado por Craig Venter, cientista americano que ajudou a sequenciar o genoma humano, há dez anos.
 
No passo mais próximo da vida artificial, noticiou o jornal Folha de S. Paulo, cientistas criaram a primeira célula viva controlada por DNA (código genético) construído com informações vindas de computadores.
 
Opiniões
 
“Mas não é criação de vida, e há muito marketing aí”, afirma Gonçalo Pereira, cientista da Unicamp (Folha de S. Paulo, Ciência, ‘Produzir vida do zero é desnecessário’, 23 de maio). Para Pereira, o DNA foi introduzido em uma ‘sopa’ pré-formada [‘cascas’ de bactérias sem seu DNA]. “Essa sopa é que é difícil de construir sinteticamente”.
 
Enquanto cientistas e filósofos debatem as potenciais consequências e implicações morais do trabalho, a força que motiva Venter é comercial, observa Ian Sample (“The Guardian”), no artigo “Avanço genético pode valer US$ 1 trilhão), publicado na Folha, Vida, no dia 23 de maio. “Sua equipe tem um sonho mais ambicioso: criar organismos que não são apenas novos, mas lucrativos. Venter garantiu um acordo com a petrolífera Exxon Mobil para criar algas que podem absorver C02 da atmosfera e convertê-lo em combustível – uma inovação que ele acredita valer mais que US$ 1 trilhão.”
 
Em seu artigo “A luta contra a mediocridade da vida” (jornal O Estado de S. Paulo, 11 de maio de 2010), Lya Luft diz o seguinte: “Para mim, a complexidade incrível do nosso mundo atual, da qual a gente percebe só uma fração mínima, o torna muito sedutor, perigoso, esmagador, se a gente não preserva alguma lucidez, algum desejo, alguma força, alguma individualidade. O que me espanta é que no turbilhão de tanta inovação, no espanto de tantos avanços, a gente continue tão infantil, tola, presa a estereótipos e falsos mitos culturais, como alguns sobre os quais falo no livro “Múltipla escolha”: a eterna juventude, a beleza ideal, o ‘ter de’, os preconceitos, a burrice, a inércia diante dos maus governos, o desinteresse diante do sofrimento alheio, enfim. Certa vez perguntei a um sábio: o ser humano tem jeito? Ele, sendo sábio, respondeu: esse é o jeito da humanidade”.
 
Por sua vez, Roberto da Matta, em seu artigo “Trocas e mudanças” (jornal O Estado de S. Paulo, 12 de maio de 2010), comenta: “E eu, caro leitor, confesso que até hoje não sei muito bem se nós, humanos, melhoramos ou pioramos nas nossas mais diversas versões históricas e culturais que, no fundo são alternativas: outros modos de conceber e fazer as mesmas coisas que, por isso mesmo, ficam diferentes. Sei simplesmente que, a despeito de todos os avanços tecnológicos, continuamos a matar e a morrer como os homens de Neanderthal. E a chorar de mágoa e de saudade...”
 
Cá entre nós: talvez uma das chaves para conquistas fundamentais pela humanidade possa ser, por exemplo, o que transcorre numa pequena sala comercial transformada em “templo”, na cidade de Santos (SP), onde uma monja budista emociona os seus dez, quinze... “fiéis”, falando apenas sobre o que é essencial à vida humana. Conversando sobre valores. Faz parte desse caminho, como tarefa de cada um, trabalhar para aumentar a audiência em iniciativas deste tipo.
 
E não há como falar sobre (ou vivenciar) valores humanos mergulhados apenas na rotina da vida material. As múltiplas dimensões do humano precisam ser respeitadas. “Aqueles que continuam dominados pela mente – a grande maioria – não percebem a existência da energia espiritual. Ela pertence a uma outra ordem e vai criar um mundo diferente quando um número suficiente de seres humanos entrar no estado de entrega e se tornar totalmente livre da negatividade. Se a Terra sobreviver, essa será a energia daqueles que a habitarem”, escreve Eckhart Tolle, em sua obra “O poder do agora”.

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