domingo, 30 de julho de 2023

O soneto ‘Como é bom ser bom’ é considerado o verso mais famoso de Martins Fontes e, antes de tudo, um lema de vida que ele sempre cultivou como médico


Tom Simões, jornalista, Santos (SP), Brasil, www.tomsimoes.com

 

"Tu, que vês tudo pelo coração,

Que perdoas e esqueces facilmente,

E és, para todos, sempre complacente,

Bendito sejas, venturoso irmão,

Possuis a graça como inspiração,

Amas, divides, dás, vives contente.

E a bondade que espalhas, não se sente.

Tão natural é a tua compaixão.

Como o pássaro tem maviosidade (*),

Tua voz, a cantar, no mesmo tom,

Alivia, consola e persuade.

E assim, tal qual a flor contém o dom,

De concentrar no aroma a suavidade,

Da mesma forma, tu nasceste bom".


(*) maviosidade: doce, suave, meiguice, harmonioso, 'canto mavioso'.

 

   Martins Fontes (José Martins Fontes), 1884-1937: médico, poeta e tradutor brasileiro. É considerado o melhor poeta de sua geração na lusofonia (conjunto de países que têm o português como língua oficial ou dominante), e um dos dez melhores na língua portuguesa; os outros nove são Camões, Bocage, António Nobre, Guerra Junqueiro, Fernando Pessoa, Castro Alves, Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto de Oliveira (o brasileiro).

Foi considerado um dos mais importantes poetas de seu tempo. Deixou uma extensa obra e exaltou as coisas de sua terra.

O soneto “Como é bom ser bom” é considerado o seu verso mais famoso e, antes de tudo, um lema de vida que Martins Fontes sempre cultivou, como médico tisiologista (atendimento ambulatorial das doenças dos pulmões) da Santa Casa de Santos (a primeira do Brasil, fundada por Brás Cubas).

Segundo Ulysses Cláudio Pereira, “Ele não só disse essa frase, como também soube vivê-la. Em vida, foi um exemplo de criatura humana, soube compartilhar a dor do seu semelhante, soube estar presente no momento certo para aliviar a dor do ser humano. Não só do ser racional, mas também dos animais irracionais. Dizem os que o conheceram que ele socorria um animal doente abandonado nas ruas, recolhendo-o, e quando recuperava a saúde, liberava-o.”

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