terça-feira, 29 de janeiro de 2019

EMIL CIORAN


1911 (Romênia) - 1995 (França): escritor e filósofo romeno radicado na França. ‘Esse autor trágico é o desvario da elegância em frases capazes de levar aos extremos.’





Os grandes pensadores estudaram, pensaram e escreveram sobre os temas essenciais com os quais ainda lidamos no mundo contemporâneo. Conheça as ideias deste filósofo:






     
“O DESTINO do homem é esgotar a ideia de Deus.”




QUE lástima que para chegar a Deus tenha que se passar pela fé.”




PARA mim, no fundo, o ato de escrever
é uma espécie de diálogo - diria - com Deus. Eu não sou crente. Eu não sou crente, mas não posso dizer que seja incrédulo. Porém, para mim, o encontro com Deus se produz, talvez no ato de escrever... Uma solidão que encontra a outra, uma solidão diante de outra solidão; estando Deus mais solitário que qualquer um.”




A TIMIDEZ, inesgotável origem de tantas infelicidades na vida prática, é a causa direta, mesmo única, de toda a riqueza interior.”







“O COMBATE que travam em cada indivíduo o fanático e o impostor faz com que não saibamos nunca a quem nos dirigir.”




ENQUANTO preparavam a cicuta, aprendia Sócrates uma canção na flauta. ‘Para que te servirás? Perguntaram-lhe.’ ‘Para sabê-la antes de morrer.’ Ouso recordar esta resposta que os manuais banalizaram, pois que ela me parece a única justificação séria da vontade de conhecer, que se dá até mesmo às portas da morte ou em outro momento qualquer.”




NÃO queria viver em um mundo vazio de todo sentimento religioso. Não penso na fé, mas nessa vibração interior, independente de qualquer crença que nos projeta para Deus e, às vezes, mais acima.”





“SEM Bach, a teologia careceria de objeto,
a Criação seria fictícia, o nada decisivo.
Se alguém deve tudo a Bach, sem dúvida, é Deus.”





APENAS escrever possui algum valor, a escrita nascida das tensões mesmas da vida, das obsessões orgânicas e das intuições surgidas da solidão e da noite.”




NÃO são, contudo, as minhas leituras que me formaram, mas os acidentes e os encontros. Tudo o que descrevi é fruto de circunstâncias, azares, conversas, ruminações noturnas, crises de abatimento mais ou menos cotidianas, obsessões intoleráveis. Meu estado de saúde, felizmente comprometido, é em grande medida responsável pela direção, da cor, dos meus pensamentos.”




SEM nossas dúvidas sobre nós mesmos, nosso ceticismo seria letra morta, inquietude convencional, doutrina filosófica.”




UM livro deve mexer nas feridas, aliás, deve alargá-las. Um livro deve ser um perigo.”




AFASTEI-ME da filosofia no momento em que se tornou impossível para mim descobrir em Kant alguma fraqueza humana, algum acento de verdadeira tristeza.”




COMO não se voltar então para a poesia? Ela tem - como a vida - a desculpa de não provar nada.”




“OS FILHOS que não quis ter, se soubessem a felicidade que me devem!”




“NÃO sou pessimista, eu amo este mundo horrível.”




“ODEIO a sabedoria desses homens a quem as verdades não afetam, que não sofrem por causa dos seus nervos, da sua carne e do seu sangue. Só amo as verdades vitais, as verdades orgânicas saídas da nossa inquietude.”




                                             Imagem: https://twitter.com/emilmcioran
 



“PREFIRO mil vezes uma existência dramática, atormentada pelo seu destino e submetida aos suplícios das chamas mais ardentes, à existência do homem abstrato, atormentado por questões menos abstratas e que só afetam superficialmente. Desprezo a ausência de risco, da loucura e da paixão. Que fecundo, pelo contrário, é um pensamento vivo e apaixonado, irrigado pelo lirismo. Que dramático e interessante resulta um processo mediante o qual os espíritos em primeiro que tudo atormentados por problemas puramente intelectuais e impessoais, espíritos objetivos até ao esquecimento de si, são, uma vez surpreendidos pela enfermidade e o sofrimento, fatalmente obrigados a refletir sobre a sua subjetividade e sobre as experiências que devem afrontar!”




“ACUMULAS, conquistas, ganhas e lutas para fugir de ti, para vencer tua aflição de que, no fundo, não existe outra coisa senão tu mesmo.”




A FONTE de nossos atos reside em uma propensão inconsciente a nos considerar o centro, a razão e o resultado do tempo. Nossos reflexos e nosso orgulho transformam em planeta a parcela de carne e de consciência que somos. Se tivéssemos o justo sentido de nossa posição no mundo, se comparar fosse inseparável de viver, a revelação de nossa ínfima presença nos esmagaria. Mas viver é estar cego em relação às suas próprias dimensões.”





SOMENTE tem valor aquilo que surge da inspiração, do fundo irracional de nosso ser, aquilo que brota do ponto central da nossa subjetividade. Todo produto exclusivo do esforço e do trabalho é desprovido de valor, assim como todo produto exclusivo da inteligência é estéril e desinteressante. Em contraste, enfeitiça-me o espetáculo da projeção bárbara e espontânea da inspiração, a efervescência dos estados de alma, do lirismo essencial e de tudo aquilo que é tensão interior - todas as coisas que fazem da inspiração a única realidade viva na ordem da criação.”





A FORÇA explosiva da mais pequena mortificação. Todo o desejo vencido nos torna poderosos. Quanto mais nos afastamos dele, e a ele deixamos de aderir, melhor dominamos este mundo. A renúncia confere um poder infinito.”




é saudável em nós aquilo pelo que não somos especificamente nós mesmos: são nossas aversões que nos individualizam; nossas tristezas que nos concedem um nome; nossas perdas que nos fazem possuidores de nosso eu. Só somos nós mesmos pela soma de nossos fracassos.”




Sobre ele:

NUMA existência contínua e ininterrupta de flagelo, a ‘arte’ (especialmente a música) causa uma experiência humana concentrada no sentimento de tristeza do indivíduo, e este torna a vida menos insuportável; assim, a ‘arte’ adquire um caráter quase divino. O fazer filosófico de Emil Cioran está ligado, portanto, mais às emoções que às razões; a primazia do sentir ao pensar; assim, ao unir a arte à filosofia, torna esta última elevada.

Enfatizando o instinto em detrimento da razão, o filósofo se colocará contra o modo com que é feito o exercício filosófico de seu tempo: um saber artificial e frio, que não toca nas aflições humanas, indiferente ao ‘homem’ e apático ao mundo, que suprime pensamentos mais elevados em prol de uma produção fechada em si mesma. Uma de suas ideias notáveis é o ‘pessimismo’. Cioran tornou-se um agnóstico, tomando por axioma ‘a inconveniência da existência’. 

Considerado por alguns o maior prosador da língua francesa desde Paul Valéry (1871-1945: filósofo, escritor e poeta francês), e chamado pela crítica, entre outras coisas, de ‘pensador crepuscular’, ‘arauto do pessimismo’, ‘cínico fervente’, ‘cavaleiro do mau-humor’, Emil Cioran se dedicou a falar sobre os temas que o preocuparam e atormentaram ao longo da vida: a solidão, o tédio, a morte, o sofrimento, o ceticismo e a fé, Deus e o problema do mal. Caminhando nas fronteiras entre a filosofia, a religião, a literatura e a história, deixou uma contundente obra que está em fina sintonia com o itinerário de sua vida, marcada pelo trágico e o irônico, o incompleto e o fragmentário, o paradoxal e o absurdo. 


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