segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Quem eu escolheria para percorrer uma longa trilha montanhesca...


A escolha, obrigatória, seria entre duas pessoas com as quais não tenho afinidade

Tom Simões


Imagem: www.comabrisadamontanha.blogspot.com/2011/10/pico-montanha-mais-alta-de-portugal.html



uma lei no Universo conhecida como ‘Lei de Afinidade’. A afinidade entre duas pessoas pode se transformar em um amor fraternal, aquele que é gerado entre irmãos. É uma tendência a combinar-se! Em geral, somos determinadamente afins a poucas pessoas. Na própria família, nem sempre somos necessariamente afins com todos que a integram.


Quem não convive com pessoas inoportunas? Inventei um método para aplicar entre duas pessoas que a gente chega a evitar no dia a dia ou em algumas situações, sem ser deselegante; daquelas com as quais convive-se superficialmente. Pessoas críticas inconsequentes, ou chatas, reclamonas (essas então, ao vê-las de longe, viro na primeira esquina), materialistas, egocêntricas, irônicas, mal-humoradas, agressivas, mexeriqueiras..., com uma e outra indesejável limitação.

A brincadeira consiste em eu ser obrigado a escolher uma entre duas pessoas difíceis para percorrer longa trilha numa montanha difícil de subir, com ponto pra lá de íngreme. Ou escolho ou morro. Eita!

Há várias trilhas convidativas pelo Brasil afora. No caso, a caminhada acontece num lugar incrível, em que rola acampar e percorrer paisagens variadas com diversidade de fauna e flora. O circuito dura de dois a três ou mais dias, ao gosto dos aventureiros. As duas pessoas difíceis dispõem de condicionamento físico satisfatório para a longa caminhada e, o que é fundamental nesta história toda, ambas têm vocação e interesse por esse tipo de aventura.

Aplico então o método maluco: escolher a companhia menos indesejável entre essas duas pessoas. Caro leitor, não raramente eu repriso tal ficção. Chego a me divertir em pensá-la. Daí imaginar, secretamente, durante uma conversa com pessoas difíceis de desvencilhar-me: “Qual delas eu escolheria para o desafio de percorrer uma longa trilha montanhesca?” A pergunta vem precedida de: “Trata-se de um caso de vida ou morte. Ou escolho uma delas ou morro”. Daí não me restar outra alternativa. Risos...

A narrativa é de caráter fictício, é claro, mas pensando bem... É válida a uma boa reflexão! Um ou outro leitor pode identificar-se com tal maluquice. Nessa imaginação toda, há de se pensar que, entre duas pessoas problemáticas, ser possível escolher a um pouco menos difícil.

Moral da história: No meu caso, movido sempre pelo propósito e disposição para agregar bons valores humanos ao outro, o companheiro da trilha montanhesca funcionaria como um desafio! Não tenho dúvida. Na mochila da viagem certamente não faltaria espaço para eu levar meu grande aliado, ‘o silêncio’... O silêncio incomoda o outro; pode levá-lo à autorreflexão. Quem sabe! 

Uma longa caminhada é propícia ao encantamento, reflexão e consequente paz interior. Por se tratar de um percurso sem possibilidade de desistência, conforme definido no projeto imaginário, os dois montanhistas obrigam-se, oxalá, a se suportar e se superar continuamente. Então, com as muitas pedras ao longo do caminho e subidas íngremes, não há como, de alguma forma, não agregar valor um ao outro numa rara oportunidade como essa, ora encantadora e desafiadora, ora sujeita a porções de sofrimento inevitável.

Eis que chega-se ao destino. Ao final da subida, sob uma grossa chuva, os dois se abraçam forte e emocionadamente, festejando. Na viagem, estávamos unidos a um propósito comum: atingir o cume da montanha. E a vida colocou-nos à prova, em exercícios de silêncio, tolerância, superação, compensação... Eu e ele já não somos mais os mesmos! Um agregou valor ao outro. Como as águas do rio, que se renovam a todo tempo...

Mas nem por isso necessariamente inicia-se ali uma verdadeira amizade. Ou quem sabe? É que amizade é sinônimo de afinidade, que brota espontaneamente, desde o primeiro momento do relacionamento. A afinidade é uma sintonia de conjunções da mente, do instinto e do sentimento que estabelece um vínculo, uma complementação. Mas nada impede o indivíduo de mudar sua própria natureza; despertando, num contínuo processo de superação e transformação.  

No projeto fictício, a vida proporcionou ao indivíduo problemático a oportunidade de conviver com uma boa pessoa, que lhe trouxe     ensinamentos primordiais aplicáveis. Surgia ali uma oportunidade para ele sentir-se inspirado a melhorar algo em sua vida.  
  

          
       ·        Revisão: Márcia Navarro Cipólli

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