quinta-feira, 10 de julho de 2014

O INCÔMODO HÁBITO DA FALAÇÃO

Certamente todo mundo convive com alguém assim, não é mesmo?


NADA DISSO importa. Falação desnecessária. Para que tanto argumento sobre o desnecessário? Há pessoas que são assim mesmo. Aconteceu algo, independente da possível bobagem ou da gravidade do caso, haja detalhes! Até que o ouvinte faça de conta que está ouvindo, interessando-se pela narração..., mas que nada! Essa espécie de ‘falador’ fala apenas de si próprio, não há ouvido para o outro. Só o ‘falador’ não percebe que fala sozinho, jogando palavras ao vento. O outro então silencia e sempre arma um jeito de se livrar do novo capítulo da ‘novela’. O personagem já é conhecido. Lá vem ele, cedo, com uma nova história, geralmente com algo a lamentar; dificilmente uma história com final feliz. Como escapar? Porque não adianta ouvir e tentar dialogar, sugerir algo produtivo. O ouvinte está ali tão somente para ouvir e concordar com a narrativa. O ‘falador’ precisa descarregar em alguém a sua solidão, tristeza, revolta, insatisfação, o seu egocentrismo... Há nesse gênero pessoal a incapacidade de ser compreensivo e solidário com a natureza humana!

É comum a pessoa que vive se lamentando não ter noção de como cansa o ouvinte. Ela pode inclusive se magoar com alguém que a estima, ao tentar lhe falar sobre esse tipo de comportamento. Mas há também o falador que reconhece alguém que chame sua atenção para o fato de que quem não gosta da falação evitar quem tem esse lamentável hábito.


Em sua obra “A felicidade existe”, Luiz de Queiroz, praticante do Racionalismo Cristão, revela que o indivíduo deve habituar-se a pensar antes de falar, antes de agir, sempre afinado com o desejo de ser agradável e útil ao semelhante. “Cada um deve procurar educar-se a si mesmo, sem necessidade de esperar que outros lhe apontem eventuais falhas. É necessário ver onde está o erro na sua conduta para, então, tratar de suprimi-lo.”

É preciso, pois, parar de dramatizar o “Você não sabe o que aconteceu hoje comigo!”, e passar a se interessar igualmente pelo outro: “E, aí, o que conta de novo?”. Porque o outro também tem histórias a contar, mas não tão prolongadas, cansativas. Porque o outro não é perfeito, é humano, como todo mundo! Porque o diálogo é fundamental ainda em qualquer relacionamento.

Eu mesmo chego a me surpreender, algumas vezes, ao falar com um amigo, um colega de trabalho. Chega um momento da conversação que desperto: “Só eu falando. Não me interessei em nada pelo outro”. É importante despertar nesse sentido, o de estar sempre atento ao nosso lado egoístico. 

Passemos então a observar. Logo cedo no trabalho, por exemplo, quem costuma perguntar como foi o seu final de semana, como está o seu netinho..., esse alguém que demonstra interesse pelo seu bem-estar. Paralelamente, observe o semblante, a voz e a tristeza da pessoa que descreve rotineira e detalhadamente a sua mais recente insatisfação com o mundo, alguém que não muda, que precisa descarregar de alguma forma a sua incompreensão, vaidade, caprichos ou revoltas, sem fim.

Há uma característica comum entre as pessoas de ‘mal com a vida’. Não há chance de tentar convencê-las a mudar a sua visão do mundo. Elas são teimosas; quem as conhece já desistiu de trabalhar nesse sentido – da autorreflexão e mudança positiva de comportamento. Para o eterno insatisfeito, ele sabe o que faz, o mundo é que é injusto com ele.

Quem se identifica aqui, com o dito ‘falador’ ou com o dito ‘ouvinte’? Certamente todo mundo convive com alguém assim, não é mesmo?

Mudança de comportamento


Veja o que diz Andrew Weil, formado pela Escola de Medicina de Harvard (professor de saúde pública e de medicina da Universidade do Arizona, bem como diretor do Centro de Medicina Integrativa do Arizona), em sua obra “Felicidade Espontânea”: “Não podemos controlar sempre o que nos acontece, mas podemos aprender a controlar nossas interpretações do que nos acontece e, ao fazê-lo, sermos mais otimistas e nos sentirmos melhor com nós mesmos. Acredito que esse seja um processo que exija atenção e prática. Como a maioria dos autores que conheço, considero artigos e livros que escrevo como uma extensão de mim mesmo e tenho a tendência de considerar as críticas de forma pessoal. Com a prática, aprendi a interpretar rejeições e críticas do meu trabalho criativo como incômodos que não impactam em minha autoestima. Procuro absorvê-las de forma desapaixonada para ver o que posso aprender com elas. Essa mudança – ainda em processo – poupou-me enorme sofrimento emocional”.  

Como você pode ver, assinala Weil, sou fã da psicologia positiva. “Concordo plenamente com a afirmação de Martin Seligman, doutor em psicologia pela Universidade da Pensilvânia, de que grande parte da infelicidade moderna vem do que ele chama de ‘sociedade do eu total’, que encoraja o foco obsessivo no indivíduo, em detrimento do grupo. Muitos estudos mostram que as pessoas mais felizes são aquelas que dedicam suas vidas a cuidar dos outros em vez de se concentrarem em si mesmas. É por isso que muitas das intervenções de Seligman - como conversar com pessoas sem teto, fazer trabalho voluntário ou passar três horas por semana escrevendo cartas para elogiar pessoas que fizeram algo heroico, têm como objetivo promover a generosidade na vida diária, criando oportunidades para desenvolver a empatia e a compaixão, colocando os interesses dos outros antes dos seus”.

Leia também: “Blá... blá... blá...!!!”,


            ·    Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com

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