quarta-feira, 27 de novembro de 2013

A ORAÇÃO BASEIA-SE NO ‘EGO’?

Ao rezar, a gente não se concentra no Todo, mas tão somente em si mesmo, movido por desejos pessoais


NORMALMENTE, quando pensamos em rezar? Ainda que rezemos com frequência, em benefício de quem costumamos pedir a proteção divina? Rezamos normalmente com o foco em algo a ser alcançado. E esse foco tem sempre a ver com algum interesse próprio. Quem é capaz de orar para alcançar algo que não lhe traga benefício direto? Por outro lado, passada a circunstância do propósito da oração, a sua prática é normalmente esquecida até que surja uma nova necessidade do pedido de proteção. Quem se identifica com tudo isso?

Em “A Matriz Divina”, o autor, Gregg Braden, diz: “Ao rezar, a gente não se concentra no Todo, mas tão somente em si mesmo, movido por desejos pessoais”. Para alguns é assim, mas devemos generalizar? Este texto é construído com base na obra de Braden.

Em abril de 2013, escrevi algo sob o título “Oração do Tom”: “Há três coisas que incluo no meu dia a dia e exercito várias vezes: o alongamento do corpo, a meditação e a oração. Esteja eu onde estiver, são três coisas que considero tão importantes como o próprio alimento: comer, alongar e orar. Orar ao deitar antes de dormir, ao presenciar cenas tristes (moradores de rua, idosos andando com dificuldade, fatos que chocam...), ao me sentir feliz com algo, ao chegar logo cedo na sala de trabalho... Meditar sempre que possível para esvaziar a mente, ainda que por breves instantes! E orar, buscando a conexão com o inexplicável da existência humana”.


Eu creio que a oração é sempre poderosa, seja ao pedir algo de que preciso, seja ao pedir por outrem. Se eu a reconheço de forma a me conectar com as forças universais superiores, buscando a paz interior, e servir desinteressadamente como instrumento de transformação dos meus semelhantes, o Universo responde naturalmente, muitas vezes surpreendendo-me. É quando em determinadas circunstâncias chego até mesmo a imaginar: “Isto aconteceu por conta da Providência Divina!”. Quem ainda não se surpreendeu na vida com um acontecimento oportuno, desejado, e não experimentou tal sensação?


DESEJOS FUNDAMENTADOS NO NOSSO ‘EGO’


Para chegar nesse ponto de entendimento, escreve Gregg Braden, devemos ‘pedir sem motivos ocultos’. “Outra maneira de deixar mais claro esse ponto tão importante da instrução é afirmar que, em termos modernos, precisamos tomar nossas decisões a partir de desejos não fundamentados no nosso ego. O grande segredo para trazermos o foco de nossa imaginação, fé, capacidade de cura e paz interior para a realidade presente é fazermos isso sem forte apego ao resultado de nossas escolhas. Em outras palavras, somos convidados a fazer nossas orações sem julgar o que deveria estar ou não ocorrendo”, observa o autor.

Para ele, parece que, quanto mais forte for nosso desejo de mudar o mundo, mais ilusório se torna nosso poder de fazê-lo. Isso acontece porque o que queremos muitas vezes se baseia no ego. Essa liberdade de possuir o poder sem dar a ele tanta importância é que nos permite ser mais eficazes em nossas orações, revela o escritor.

De acordo com Braden, ainda que cada ato tenha sido indubitavelmente bem-intencionado, muitas vezes deve ter havido um forte apego ou desejo de que a cura da pessoa querida acontecesse. “Acreditou-se imprescindível uma recuperação milagrosa. Note que, se a cura ainda precisava ocorrer, era sinal de que ainda não tinha acontecido – pois, se tivesse, não estaríamos rezando pela pessoa nesse particular. É como se, pelo fato de desejarmos a cura, os esforços para consegui-la reforçassem a realidade na qual a doença estava presente! Isso leva a algo que frequentemente nos passa despercebido enquanto tentamos trazer os milagres para nossa vida”.

No entender do autor, quando se faz o pedido simplesmente dizendo ‘por favor, permita que esta cura aconteça’, não se usa a linguagem do campo universal, compreensível pela Matriz Divina. “Jesus lembra a seus discípulos que eles têm de ‘falar’ com o Universo de uma maneira que seja significativa. Ao sentir que estamos cercados pela cura de nossos entes queridos e envolvidos pela paz de nosso mundo, estamos fazendo uso de ambos os códigos que abrem a porta para todas as possibilidades. Além disso, apesar de os cientistas ainda não terem chegado a um acordo sobre uma teoria que explique de que modo mudamos nossa realidade, todos eles dizem que o Universo é alterado pela nossa presença. É como se ‘estar consciente’ fosse, por si só, um ato criativo. Como declarou o físico John Wheeler, vivemos em um Universo ‘participativo’ – não em um onde manipulamos ou impomos nossa vontade, ou em que possamos controlar completamente o mundo em que vivemos”, sustenta Braden.

O PODER DA ORAÇÃO


Com base em vários estudos e testes de campo desenvolvidos por importantes universidades de países destroçados pela guerra constatou-se claramente que o modo de nos sentirmos dentro do nosso corpo não só nos afeta como também afeta o mundo em nosso entorno, escreve Gregg Braden. “Por exemplo, durante os experimentos das orações pela paz, os estudos mostraram claramente que havia um declínio estatisticamente significativo nos indicadores mais importantes observados pelos pesquisadores. A incidência dos acidentes de tráfego, as entradas nos prontos-socorros dos hospitais e até mesmo os crimes violentos contra a comunidade diminuíram bastante. Na presença da paz, tudo o que poderia acontecer era a paz. Entretanto, por mais interessantes que possam ser esses resultados, o que eles demonstraram a seguir continua sendo um mistério para os estudiosos desse efeito.”

Braden conta que, quando fazemos uma pequena mudança aqui e outra ali, subitamente tudo parece mudar. “Realmente, uma pequena mudança em um lugar pode alterar permanentemente todo um padrão. As mudanças que desejamos que ocorram no mundo – não importa tratar-se de curar ou dar segurança aos que nos são próximos ou favorecer a paz no Oriente Médio ou em uma das nações no momento empenhadas em conflitos armados – não precisam ser enviadas do nosso íntimo para os locais onde são necessárias. Não é necessário ‘enviar’ alguma coisa para algum lugar. Se temos nossas orações dentro de nós, elas estão presentes em todos os lugares”, complementa o escritor.

Conversando sobre esse assunto com o meu amigo Roberto da Graça Lopes, ele mostrou a sua opinião: “É certo que propósitos egoísticos são óbices ao progresso humano. Mas, em termos de oração, de estabelecer contato com a Espiritualidade Superior, é também necessário o foco no pessoal. Os Mestres são claros em dizer que aquilo que desejamos precisa ser pedido claramente, detalhadamente, pois assim liberamos o nosso livre-arbítrio, impeditivo soberano à ação das forças do Bem, caso não expressemos com todas as letras que queremos que algo aconteça em nossa vida. E esta ‘declaração’ se faz pelos pedidos contidos nas orações. Assim, pode-se entender que orar por coisas que dizem respeito a si, neste caso, não se traduz em exercício do ego. Claro que não devemos pedir por coisas que nos beneficiem em detrimento do outro, pois o mundo superior não nos atenderia, mas devemos pedir por aquilo que nos beneficia para que possamos, melhor postados no mundo, servir ao outro. Isto é música aos ‘ouvidos’ dos Seres de Luz, ainda que estejamos pedindo por algo muito pessoal e, portanto, aparentemente egoístico.”

O que importa mesmo é que a evolução pessoal e espiritual passa necessariamente pela ausência do ‘ego’ em nossos desejos e conquistas. E quanto mais eu penso e me esforço neste sentido, mais sinto que tenho obrigação de fazer isso.


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Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com

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