quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

“CONSCIÊNCIA”, SEGUNDO O INDIANO GOSWAMI, Ph.D. EM FÍSICA QUÂNTICA

“A consciência é o fundamento de todo ser. Além de nosso lado racional, temos de integrar nosso lado místico e intuitivo...”

ELE DEFENDE UMA NOVA VISÃO DE MUNDO em que a origem de tudo o que existe é a consciência e não a matéria: Amit Goswami, 74, físico indiano, filho de um guru hinduísta, é Ph.D. em física quântica pela Universidade de Calcutá, na Índia, professor emérito do Instituto da Física da Universidade de Oregon, nos EUA, e um dos pioneiros nos estudos que buscam conciliar a ciência e a espiritualidade.

O depoimento do físico (“A ciência do espírito”) integra a obra “Palavras de Poder”, de autoria do jovem jornalista mineiro Lauro Henriques Jr. Lauro foi editor do “Almanaque Abril” e da “Revista das Religiões”, também da Editora Abril. (Obrigado, grande amigo Lineu Santos, editor do meu blog, por me presentear com esse produtivo livro, que leva a uma profunda autorreflexão.)

Amit Goswami escreveu vários livros que se tornaram best-sellers mundiais, ficando conhecido também por sua participação no filme “Quem Somos Nós”, no qual expõe muitas das ideias que fizeram dele um dos principais físicos da atualidade. Como ele afirma: “A consciência é o fundamento de todo ser. Além de nosso lado racional, temos de integrar nosso lado místico e intuitivo. Desse mergulho em nossa paisagem interna é que vem o salto quântico que nos permite agir com foco e direção”.

Para o físico, não temos de ficar dentro dos limites impostos por nosso condicionamento social, fazendo só o que já foi feito e testado pelos outros antes, pois, desse modo, nos tornamos um mero dado estatístico, de comportamento pobre e previsível. “É assim, por exemplo, que os marqueteiros preveem o comportamento do consumidor. Porém, quando somos originais, ninguém pode prever nosso comportamento, somos uma pessoa completa, integral. E este é o primeiro objetivo do ser humano, tornar-se, de fato, uma pessoa.”

A liberdade da consciência para escolher entre as várias possibilidades somente é plenamente utilizada ao optarmos por algo novo, revela Goswami. Mas, como ele diz, a tragédia humana é que nos tornamos condicionados, usamos apenas uma espécie de fac-símile da verdadeira liberdade: temos uma série de opções, mas escolhemos sempre as condicionadas. Nunca fazemos nada de inesperado. Será que, nem que seja uma vez, não podemos optar por algo realmente inesperado? Essa é a questão, admite.

Isso lembra algo dito pelo mestre Osho, filósofo indiano: “Quando tiver de escolher entre duas alternativas, escolha sempre a nova, a mais ‘difícil’. Aquela na qual é necessária uma percepção maior”.

ESTRADA MENOS PERCORRIDA

Conforme cita Goswami, no trecho de um famoso poema de Robert Frost, poeta americano, é preciso seguir pela ‘estrada menos percorrida’:

“Duas estradas separavam-se num bosque amarelo. Pena eu não conseguir seguir por ambas... Mesmo sabendo como caminhos sucedem a caminhos, duvidava se alguma vez lá voltaria... Duas estradas separavam-se num bosque, e eu – eu segui pela estrada menos percorrida. E isso fez toda a diferença.”

O físico revela ao jornalista mineiro que, quando temos uma encruzilhada diante de nós, quando temos dois caminhos a seguir, se conseguirmos optar pela estrada menos percorrida, isso nos abre para a VERDADEIRA LIBERDADE. “Entretanto, isso raramente acontece. Por quê? Porque é mais arriscado. A estrada menos percorrida é muito assustadora, pois só Deus sabe que obstáculos podemos encontrar por lá. Com isso, acabamos sempre optando pelo caminho batido, por onde outras pessoas já passaram antes, várias e várias vezes. Mas, a toda hora, é preciso nos lembrarmos daquilo que a nova ciência está mostrando: que há forças criativas dentro de nós, que, em vez de escolher os aspectos condicionados do mundo, podemos viver a partir desse estado de consciência pautado pela criatividade”, orienta.

COMO ENCONTRAR NOSSO SENSO DE DIREÇÃO?

Pergunta o jornalista Lauro a Goswami, que responde: “Antes de qualquer coisa, temos de abandonar essa visão condicionada de que tudo é apenas matéria. Uma percepção materialista da vida serve apenas para denegrir toda a nossa experiência interna. Porém, coisas como propósito, significado, sentido, tudo isso nasce apenas a partir de nós, vem de níveis mais altos de nossa existência, de nossa consciência, de nossa energia vital, de nossa capacidade intuitiva. O que acontece é que nós denegrimos nossa intuição, não a valorizamos mais. Nós até intuímos que devemos ser bons, que o amor é a melhor coisa que pode nos acontecer, mas não damos valor a essa intuição. Então, gradualmente, abandonamos o amor em troca de sexo barato, abandonamos os sentimentos e pensamentos mais elevados de nossa vida em troca de competitividade e de emoções ordinárias. E é isso o que acontece em nossa sociedade, em que a ganância e a avareza são o tema dominante – ganância significa isto: ‘Eu não quero compartilhar’. É esse paradigma materialista o responsável por toda a destruição que temos visto no planeta.”

TRANSFORMAÇÃO INCESSANTE...

É preciso perceber a vida de um modo novo. Em sua obra “O caminho da autotransformação”, escreve Eva Pierrakos: “Sua vida – e você é vida porque está vivo – representa a vida toda, a natureza toda. Uma das marcas da vida é seu incalculável potencial para a mudança e para a expansão. Para ser mais específico: quando você percebe a vida como ela é, você sente que até a mais ínfima das criaturas destrutivas tem possibilidades para a mudança, para a bondade, para a grandeza e para o desenvolvimento. O pensamento sempre pode mudar e criar atitudes e comportamentos novos, novos sentimentos e novas maneiras de ser. Se isso não acontece agora, o fato não altera nada, pois algum dia as coisas são obrigadas a mudar, e sua verdadeira natureza deve, por fim, emergir”.

Observe a natureza, diz Pierrakos, em qualquer circunstância da vida, e você verá que ela está sempre em mudança; ela morre e renasce ininterruptamente; está sempre se expandindo, se contraindo e pulsando. “A natureza está sempre se movimentando e se ramificando. Isso se aplica especialmente à vida consciente e ainda mais à vida que tem consciência de si mesma.”

Pois bem, a autora acrescenta que, se no mais diminuto dos átomos – tão diminuto que não se pode sequer vê-lo a olho nu – existe um poder capaz de liberar energias ilimitadas para construir ou para destruir, tão infinitamente maior é o poder da mente: o poder do pensamento, do sentimento e da vontade.

“Assim, nada do que existe no universo está de fato sem vida. O que dizer, então, da consciência! Seu pensamento é um movimento constante. O único problema é que você se condicionou a permitir que ele fique se remoendo na negatividade habitual, na autorrejeição e na limitação inútil. Uma vez que você se decida a usar o seu pensamento de uma nova maneira, você sentirá a verdade da mutabilidade cheia de esperança da vida, as possibilidades infinitas que ela tem de se movimentar em novas direções. Você pode expandir constantemente o seu pensamento, adotar ideias novas, abraçar novas realizações e, portanto, atrair a você mesmo novas direções da vontade, novas expansões, novas metas, novas energias e novos sentimentos. Tudo isso é mudança da personalidade”, complementa Eva Pierrakos.

Como lembra Osho em “Emoções”, a consciência é ampla, infinita. As emoções, os desejos, as ambições estão todos na sua cabeça; eles vão acabar. Mas, quando a sua cabeça tiver parado de funcionar e desaparecido na terra, a sua consciência não terá desaparecido. Você não contém em si a consciência: a consciência contém você. Ela é maior do que você.

Segundo ele, é a mais absoluta verdade: as suas emoções, os seus sentimentos, os seus pensamentos – toda parafernália da mente – vêm de fora, são manipulados pelo que está fora. “Mesmo sem investigação científica, os místicos, há milhares de anos, dizem exatamente a mesma coisa – que nenhuma dessas coisas que existem na sua mente é sua; você está além delas. Você se identificou com elas, e esse é o único pecado que existe”.

Finalmente, diz Osho: “Por trás da mente está o eu verdadeiro, que nunca vai a lugar nenhum. Ele está sempre aqui”.

Tudo isto me lembra algo escrito por Karen Armstrong, em sua obra “Em Defesa de Deus”: “A razão é indispensável para a ciência, a medicina e a matemática, porém só com processos de pensamentos mais intuitivos é possível abordar uma realidade que transcende os sentidos”.

Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com

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