quarta-feira, 23 de novembro de 2011

HITLER: SUA INFÂNCIA DEPLORÁVEL

Reflexões sobre o bem e o mal...
Leio, leio muito para poder compartilhar com o leitor a sabedoria de grandes pensadores. Sobre o bem e o mal, Arthur Jeon dá uma lição em sua obra “Calma no Caos”, permitindo a revisão de alguns conceitos arraigados em nossa mente. Arthur é bacharel em Humanidades pela Universidade de Harvard, Estados Unidos. Estudou cinema e passou a atuar como roteirista. Ele iniciou sua jornada espiritual no início dos anos 1990, praticando ioga. Após muita dedicação e estudo, tornou-se professor.

“Era o melhor dos tempos, era o pior dos tempos, era a idade da sabedoria, era a idade da insensatez, era a época da crença, era a época de incredulidade, era a estação da Luz, era a estação das Trevas, era a primavera da esperança, era o inverno do desespero... – em resumo, era um tempo como o nosso tempo”, declara Charles Dickens, citado por A. Jeon.

Para Jeon, é tentador começar uma frase sobre violência dizendo “nesses tempos difíceis...”. Cada geração acredita estar enfrentando o pior tempo da história da humanidade, mas, como sugere Dickens, nossa época não é mais nem menos violenta que qualquer outra do passado.

“Apesar dos atentados, guerras e insurreições nos vários cantos do mundo, ainda vivemos um período relativamente pacífico se comparado aos demais da trajetória humana. No entanto, a questão do bem e do mal perdura. O que é o mal? Ele realmente existe no mundo?”, questiona o professor.

Num primeiro instante pode parecer uma pergunta ridícula, e então argumenta Jeon: “Aparentemente, atos de maldade são cometidos todos os dias. Assassinato, estupro, genocídio e pedofilia estão nas manchetes dos jornais com muita frequência, da mesma forma que relatos sobre a degradação do ar, água e terra em razão do lucro fácil e rápido.”

NOVA ERA

Na obra “Consciência Emocional - uma conversa entre Dalai Lama e Paul Ekman”, observa o monge: “Tudo é significativamente interdependente. No século XVI, os budistas tinham a mesma visão que têm hoje, mas o mundo não se encaixava nela, explica Ekman. Era possível viver sem pensar muito sobre como outras pessoas no planeta viviam. Agora é um fato da vida que o que uma pessoa faz tem efeitos sobre as outras, somos todos interdependentes. O problema da nossa era, do nosso século, é atingir uma compaixão global; de outra forma, corremos o risco de nos destruir”.


E prossegue o Dalai Lama: “Agora nós moramos em cidades enormes. Pela tevê, vemos sofrimento em todo o mundo. Algumas pessoas – comentadores políticos – sugerem que isso faz com que nos sintamos impotentes. Mas, se analisarmos a reação, no nível individual, ao tsunami no Sul da Ásia ou ao furacão Katrina, muitas pessoas, sem serem solicitadas, voluntariamente quiseram confortar e consolar aqueles que sofriam naqueles locais distantes. Podemos ver um lado positivo nisso, uma razão para esperança. Esses atos de compaixão com frequência ocorrem fora do clã da pessoa ou mesmo da nação da pessoa. Precisamos encontrar uma maneira de promover essa reação”.

A INFÂNCIA DE HITLER

Em sua obra, Arthur Jeon indaga sobre o que vai pela cabeça de alguém que tira a vida de outra pessoa. Ele sempre estranha quando ouve que alguém escapou dessa acusação por alegar insanidade. “Será que uma pessoa que mata a outra não é, por definição, ao menos temporariamente insana? Quem, em seu juízo perfeito, psicologicamente equilibrado, mataria outra pessoa?”

Para esse escritor, a verdade é que quase todos os perpetradores do mal são também vítimas: “No livro clássico de Alice Miller sobre a crueldade na criação e as raízes da violência, ela mostra que essas pessoas passam a batata quente do condicionamento para o próximo”.

Jeon conta que num dos trechos mais apavorantes da obra, a autora descreve os abusos sofridos por um menino de quatro anos, sistematicamente surrado e trancado num armário, onde passava vários dias sem água nem comida. Ele não tinha permissão de expressar suas emoções e nem sequer contava com o conforto de sentir a empatia de algum outro ser humano. “No final do parágrafo, estamos chorando pelo menino. Ao virar a página, descobrimos que essa é a descrição da infância de Adolf Hitler, um tenebroso prenúncio dos campos de concentração.”

Alice Miller continua, descrevendo o que chama de “pedagogia venenosa” própria dos métodos de criação da Alemanha antes da guerra, acrescenta Jeon. “A regra era bater nas crianças para que ficassem alinhadas em fila, privando-as da sensação de autonomia e segurança. Elas aprendiam de forma totalitária a obedecer ao pai, sem jamais questionar a autoridade.”

No entendimento desse escritor, muitas pessoas que apresentam um comportamento hediondo foram horrivelmente deformadas, e suas ações resultam de uma versão pervertida de amor recebida durante a infância. “De que adianta colocar nelas o rótulo de más? Poderia ser eu ou você, caso nos encontrássemos nas mesmas circunstâncias. Os dados estão lançados, desde a mais tenra infância. Se submetidos à imensa dor, qualquer um de nós se deformaria. Todos temos a capacidade de ser cruéis, assim como de ser o amor de Buda ou Cristo.” 

Arthur Jeon não quer desculpar o comportamento dos outros, nem tampouco dizer que, eventualmente, outras criaturas que sofreram pressões imensas não conseguem superá-las e se tornar autorreferentes. Para o estudioso, muitas vezes isto depende de sua resiliência genética e do fato de ter tido ou não uma pessoa empática a quem confidenciar suas dores.

“Quando Sócrates declarou para o mundo que ninguém pratica deliberadamente o mal, que todo mundo age de acordo com o que considera bom, o que ele realmente quis dizer?”, menciona o filósofo Jacob Needleman em sua obra “Por que não conseguimos ser bons?”, que li recentemente. Ele analisa que talvez Sócrates tenha querido dizer que mesmo a pessoa mais desprezível do mundo ainda é um ser humano que tem duas naturezas – uma parte que procura o bem e outra que é levada a obedecer impulsos de medo, ânsia ou violência pessoal. “O homem mau é aquele que é completamente incapaz de jamais perceber a contradição entre as suas duas naturezas, em quem nunca existiu e nunca poderá existir um canal para a voz da consciência”, comenta Needleman.

“Nós, que vivemos em campos de concentração, podemos lembrar dos homens que andavam de alojamento em alojamento, oferecendo seu último pedaço de pão e confortando os outros. Talvez não fossem muitos, do ponto de vista numérico, mas eram a prova cabal de que o ser humano pode ser privado de tudo, menos de uma coisa: sua derradeira liberdade – a de escolher a atitude a tomar em qualquer conjunto de circunstâncias, a de escolher seu próprio caminho”, escreveu Victor Frankl, citado por Jeon.

COMPAIXÃO

Imagem: http://mantenedordafe.org
“Quando você relaxa e se entrega à consciência desperta, momento a momento você se liberta das crenças, dos pensamentos, das superstições e dos condicionamentos. Em vez de rezar pela paz, você é a paz. Em vez de procurar compaixão e compreensão fora de si, você se torna compaixão e compreensão. E, particularmente nas cidades, em vez de ‘precisar de espaço’ você abre espaço em suas relações com as pessoas”, admite o autor.

E então Arthur Jeon complementa: “Porque você não está mais protegendo a fortaleza do pequeno ego, seu inferno interior é reduzido ou mesmo eliminado. A compreensão toma o lugar do julgamento, o que permite o surgimento da compaixão e da tolerância. Cria-se um círculo virtuoso em que o amor gera mais amor. A reatividade diminui e em seu lugar temos a experiência direta de:


Eu sou você.
Você sou eu.
Nós somos eles.
Tudo é consciência.”
***

Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com

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