quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Religião e espiritualidade

Ilustração: http://restaumaesperanca.blogspot.com
Ed René Kivitz é teólogo, escritor e pastor da Igreja Batista da Água Branca (São Paulo). É ele quem fala sobre a diferença entre religião e espiritualidade.

“A religião baseia-se nos ritos, dogmas e credos, tabus e códigos morais de cada tradição de fé. A espiritualidade fundamenta-se nos conteúdos universais de todas e de cada uma das tradições de fé”, explica Kivitz.

Segundo o pastor, quando você começa a discutir quem vai para o céu e quem vai para o inferno; ou se Deus é a favor ou contra a prática homossexual; ou mesmo se você tem de subir uma escada de joelhos ou dar o dízimo na igreja para alcançar o favor de Deus, você está discutindo religião. Ele diz também que, quando você começa a discutir se o correto é a re-encarnação ou a ressurreição, a teoria de Darwin ou a narrativa de Gênesis, e se o livro certo é a Bíblia ou o Corão, você está discutindo religião. Quando você fica perguntando se a instituição social é espírita kardecista, evangélica ou católica, você está discutindo religião.

“O problema é que toda vez que você discute religião, você afasta as pessoas umas das outras, promove o sectarismo e a intolerância. A religião coloca de um lado os adoradores de Alá, de outro os adoradores de Yahweh e de outro os de Jesus. Isso sem falar nos adoradores de Shiva, Krishna e Buda, e por aí vai. E cada grupo de adoradores deseja a extinção dos outros, ou pela conversão à sua religião, o que faz com que os outros deixem de existir enquanto outros se tornem iguais a nós, ou pelo extermínio através do assassinato em nome de Deus, ou melhor, em nome de um deus, com ‘d’ minúsculo, isto é, um ídolo que pretende se passar por Deus”.

Mas, comenta Kivitz, quando você concentra sua atenção e ação, sua práxis, em valores como reconciliação, perdão, misericórdia, compaixão, solidariedade, amor e caridade, você está no horizonte da espiritualidade, comum a todas as tradições religiosas. “E quando você está com o coração cheio de espiritualidade, e não de religião, você promove a justiça e a paz. Os valores espirituais agregam pessoas, aproxima os diferentes, faz com que os discordantes do mundo das crenças se deem as mãos, no mundo da busca de superação do sofrimento humano, que a todos nós humilha e iguala, independentemente de raça, gênero e, inclusive, religião”.

Em sua obra “Deus é para todos”, Swami Kriyananda diz: “Diante das decisões sobre qual o caminho a seguir, normalmente deveríamos seguir qualquer um que traga interiorização, a partir do ponto onde nós próprios nos encontremos”. Swami ensina que “os verdadeiros ensinamentos vibram com o poder espiritual. Não são produtos de reflexão intelectual, que quando muito só oferece deduções razoáveis. A mais profunda filosofia não consegue ir além de recomendar, ela não consegue elevar”.

Para finalizar, busco inspiração no mestre Chico Xavier: “A sabedoria inferior é dada pelo quanto uma pessoa sabe e a superior, pelo quanto ela tem consciência do que não sabe. Tenha a sabedoria superior. Seja um eterno aprendiz na escola da vida. A sabedoria superior tolera, a inferior julga. A superior alivia, a inferior culpa. A superior perdoa, a inferior condena. Tem coisas que o coração só fala para quem sabe escutar!”
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A propósito, a Folha de S. Paulo (Editoriais, “À sombra do Irã”) de hoje, 7/8/2010 - abordando a história de Sakineh Ashtiani, presa desde 2006 na cadeia de Tabriz, a iraniana condenada à morte por apedrejamento pelo “crime” de adultério, uma das mais cruéis penas de morte do mundo -, comentou: “Seria um esforço hercúleo, mesmo para o mais fanático dos relativistas, ver na condenação de Sakineh algo diferente de uma manifestação brutal e machista de um Estado que se apresenta como guardião de leis divinas, mas atua segundo sórdidos desígnios humanos”.

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