domingo, 5 de outubro de 2008

O que os jornais não costumam destacar...

Ao ler "A doçura do mundo", de Thrity Umrigar (editora Nova Fronteira, 2008), identifiquei-me com um fragmento da obra, quando a autora relata: "Olhem, essa é uma boa história, um assunto de interesse humanitário, que faz a gente se sentir bem. Meu editor até a transmitiu para a agência nacional de notícias ontem à noite... É... é para que qualquer outro jornal do país possa acompanhá-la. Vocês têm que entender... as pessoas precisam de alguma notícia com que se sintam bem. Olhem para o resto do jornal de hoje: é tudo sobre guerra e bombas explodindo, e toda essa porcaria. E aí aparece uma mulher que nem é americana e faz o que a maioria de nós não faria. Entendem o que eu quero dizer? Olhem - continuou, inconsolável -, muita coisa boa pode sair dessa matéria. Vocês podem convencer outras pessoas a fazer o que é certo. Isso pode inspirar mais alguém..."


Creio que notícias que narram as "excelências" do cotidiano, como o dia-a-dia dos heróis anônimos, não vendem jornais. Portanto, não são estampadas na primeira página. A não ser, por exemplo, quando um desses heróis protagoniza uma tragédia.

Imagens e Vozes de Esperança

"Alguns jornalistas insistem: "Apenas informamos o que acontece no mundo. Não somos nós que fazemos essas imagens ou essas histórias. Apenas comparecemos com nossa câmera ou processador de textos e as captamos. São os outros que praticam a ação; tudo que fazemos é contar o que aconteceu – difundindo a notícia, passando adiante a história para que os outros também a conheçam. Somos apenas os olhos e os ouvidos das sociedades que representamos". Tratam-se de palavras de Judy Rodgers, primeira diretora mundial do projeto IVE (Imagens e Vozes de Esperança), www.ive.org.br , diretora executiva do Business as an Agent of World Benefit (BAWB) e consultora de mídia e comunicações. Ela foi produtora de vários programas para rádio e TV nos Estados Unidos onde recebeu prêmios de grande prestígio pelo seu trabalho.
Para Judy, "Em um dia qualquer, em qualquer lugar do mundo, há centenas e milhares de eventos acontecendo, de histórias se desdobrando.  De tudo o que acontece temos de escolher o que vale a pena contar e é aí que nos distinguimos uns dos outros: na escolha que fazemos e como transmitimos as histórias. Há um mistério nesse processo". 

Judy diz ainda que "As sociedades se voltam para os seus artistas e para a mídia quando precisam encontrar um sentido naquilo que está acontecendo ao seu redor; elas querem saber qual é a coisa mais importante e em que deveriam prestar atenção.  Querem saber como interpretar o que aconteceu e talvez, mais importante de tudo, o que elas podem fazer. Estamos num momento da história em que a humanidade necessita de um sentido sobre o que é melhor para o mundo, que tipo de futuro pode haver diante de nós e o que devemos fazer juntos para criar esse tipo de futuro. Podemos fazer muito para esclarecer isso.  Mas em primeiro lugar devemos limpar as correntes de pensamento que correm em nossas mentes.  Não podemos fazer uma luz brilhar nos acontecimentos atuais ou nas possibilidades futuras se não houver luz em nossas próprias mentes.  Não podemos ver e ampliar os milhares de pequenos atos de gentileza e heroísmo se não tivermos bondade em nossos corações".

Segundo a sua apresentação, Imagens e Vozes de Esperança é uma convocação para um compromisso de trabalho vivificante,  criando imagens e histórias de possibilidades e esperança.  Não se trata de superficialidades – fingir que as coisas ruins não acontecem.  É sobre cultivar os espíritos que têm a qualidade de compaixão e generosidade, e a visão que pode divisar o que há de melhor no mundo – mesmo em situações difíceis.

Nas palavras de Valdir Cimino, coordenador de Relações Públicas da Faculdade de Comunicação da FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado), "O IVE é um grito dentro de nós mesmos, no sentido de resgatar os valores vitais para uma vida melhor. A mídia como formadora de uma cultura mais sadia tem como responsabilidade propagar a informação do bem."

A esperança de um jovem de 16 anos

João Demarchi é um jovem de Santos (SP) que se diferencia do padrão do adolescente, por conta de sua maturidade precoce. "Apesar de me matar de treinar no basquete, vale a pena. Tenho muitas ambições quanto ao meu futuro como jogador. Quero atuar na Europa e morar por lá. Em termos de família, a minha é classe A; porém, a que construirei será melhor. E família é base de tudo: o que é um grande prédio sem uma boa base? Amigos eu tenho o necessário e acredito serem os melhores, eles me ensinam a ser melhor. E o passado? Esse já passou", conta.

Eu e esse meu moleque estimado freqüentamos a mesma academia de musculação. Cada vez que nos encontramos, João se aproxima de mim irradiando um brilho indescritível em seu semblante. Ele poderia ser meu filho mais novo (tenho uma filha com 28 anos e um menino com 19); ainda assim, outro dia João surpreendeu-me agradavelmente, convidando-me para corrermos juntos na praia.

João, que tem até um blog, http://jonesbasketball.blogspot.com, revela em seu relato "Tente outra vez" (12/9/2008) que "Mesmo sendo estranho com a minha idade falar sobre assuntos que cabem a pessoas experientes e/ou com mentes superabertas, eu ouso falar sobre dar a volta por cima".
Em sua leitura do mundo, esse jovem acredita que a questão é saber aproveitar as lições da vida, "Ter consciência que tudo que vem por alguma razão ajuda na compreensão e no reerguimento. É nas dificuldades que crescemos. É válido lembrar também uma passagem do Alcorão. Um breve parêntese: nunca li esse Livro Sagrado, mas em outro livro que li o autor observou este versículo (se é que chamam assim): ‘Deus observa quem reage melhor’. É mais ou menos assim. Mas vale a mensagem do pensar sempre positivo e do saber que, depois da tempestade, vem um dia ensolarado."

"A esperança é o combustível que acelera o motor do futuro e o Imagens e Vozes de Esperança dá luz à esperança como forte estrutura de novas realidades. A mudança virá na cristalização de uma nova cultura, pautada pelo olhar adiante, pelo respeito à vida, pelo pensar construtivo, pelo cultivo dos valores universais", declara Rosa Alegria, vice-presidente do Núcleo de Estudos do Futuro da PUC e diretora-presidente da Perspektiva.

João Demarchi é reflexo dessa esperança. Ele é uma pequena luz na multidão, uma semente no campo. O mundo precisa de mais desses "Joãos" para sinalizarem o que é essencial na vida e convencerem a sociedade a fazer apenas o que é correto. É nisto que incide a importância da consciência individual ao se pensar na contribuição para um mundo melhor. É nisto que incide a responsabilidade de cada um de nós servir como exemplo e instrumento de reflexão e mudança construtiva de mentalidades.

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