terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Morte: como superar esse terror (Parte II)

Na obra "De frente para o sol" – Como superar o terror da morte", o psiquiatra Irvin D. Yalom, 78, diz que todos nós temos uma amostra da morte toda noite, quando adormecemos, ou quando ficamos inconscientes sob o efeito de uma anestesia.

"Pode ser que seja necessário um detetive para trazer à tona a angústia oculta da morte, mas normalmente qualquer um, fazendo terapia ou não, pode descobri-la por meio da auto-reflexão.
Pensamentos sobre a morte podem se infiltrar e permear os sonhos independentemente de quanto estejam ocultos da mente consciente. Todo pesadelo é um sonho no qual a angústia da morte escapou de seu cercado e ameaça o sonhador", reflete o autor.
Para o psiquiatra, pesadelos despertam ao adormecido e o retratam com a vida em risco: fugindo de um assassino para salvar a própria vida, caindo de uma altura imensa, escondendo-se de uma ameaça de morte ou de fato morrendo.
 
A seguir, sintetizo alguns trechos importantes da obra de Irvin Yalom:

"Filosofar é se preparar para a morte" (Cícero)
 
... "Quando está absorto no modo cotidiano, você se volta para distrações efêmeras, como aparência física, estilo, bens ou prestígio. No modo ontológico, por outro lado, você não só fica mais consciente da existência, da mortalidade e das outras características imutáveis da vida, como também fica mais ansioso e inclinado a propiciar mudanças significativas. Você é induzido a abraçar a sua responsabilidade humana fundamental de construir uma autêntica vida de compromisso, conectividade, significado e satisfação consigo mesmo.

Pacientes que enfrentaram a morte por câncer
 
Muitas histórias de mudanças dramáticas e duradouras catalisadas pela confrontação da morte sustentam essa visão. Enquanto trabalhei intensivamente, por dez anos, com pacientes que enfrentavam a morte por câncer, descobri que muitos deles, em vez de ceder a um desespero narcotizante, mudaram drasticamente para melhor. Reorganizaram suas prioridades por meio da banalização do que era supérfluo na vida. Adquiriram o poder de escolher não fazer as coisas que de fato não queriam fazer. Comunicaram-se mais profundamente com aqueles que amavam e apreciaram com mais ardor os fatos elementares da vida – as mudanças de estação, a beleza da natureza, o último Natal ou Ano-Novo.

Muitos relataram uma diminuição no medo que tinham de outras pessoas, maior disposição de se arriscar e menos preocupações em relação à rejeição. Um de meus pacientes comentou entusiasmado que o ‘câncer cura as neuroses’; outro me disse que ‘foi pena eu ter tido de esperar até agora, que meu corpo está tomado pelo câncer, para aprender a viver’.

Em ‘A morte de Ivan Ilitch’, de Tolstói, o protagonista – um burocrata de meia-idade arrogante e pensativo – contrai uma doença abdominal fatal e passa a agonizar com dores constantes. À medida que o fim se aproxima, Ivan Ilitch percebe que durante toda a sua vida ele havia escondido a noção da morte de si mesmo por meio da preocupação com prestígio, aparência e dinheiro.

Assim, depois de uma espantosa conversa com a parte mais profunda de si mesmo, ele desperta em um momento de grande clareza para o fato de que está morrendo tão mal porque viveu mal. Toda sua vida foi cheia de erros. Ao se isolar da morte, se isolara também da vida.

Mesmo com a aproximação rápida da morte, Ivan Ilitch acredita que ainda há tempo. Adquire a consciência de que não apenas ele, mas todas as coisas vivas precisam morrer. Descobre a compaixão – um sentimento novo. Sente ternura pelos outros: por seu filho mais novo beijando sua mão; pelo criado que cuida dele de maneira natural e amável; e até mesmo, pela primeira vez, por sua jovem esposa. Sente pena deles, pelo sofrimento que lhes causa e, finalmente morre, não com dor, mas com a felicidade da compaixão intensa.

A história de Tolstói não é apenas uma obra-prima, mas também uma lição poderosa, e sua leitura é frequentemente indicada àqueles que são treinados para reconfortar os que estão morrendo".

Sobre o seu interesse para escrever "De frente para o sol", Irvin Yalom revela que algumas pessoas imaginam que a sua imersão na morte deva ser mortificante. Quando leciona sobre o assunto, muitas vezes um colega replica que Irvin deva estar levando uma vida triste para dar tanta importância a questões tão sombrias. Se você acredita nisso, diz o psiquiatra a eles, então não fiz o meu trabalho: "Tento mais uma vez transmitir a idéia de que enfrentar a morte afasta a amargura."

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