sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

MEDIÇÃO DA FELICIDADE

Produzi recentemente um artigo (“Felicidade” pode inspirar emenda constitucional, como direito do cidadão?) abordando o desejo do parlamentar brasileiro legislar sobre a felicidade. Acredito que o recolhido por mim nesse final de semana pode ampliar a visão do leitor a respeito dessa busca incessante do homem: a felicidade.

“A felicidade é difícil de quantificar e, sendo a mais fugidia das emoções, é difícil de manter. Ela pode ser causada por um mero raio de sol, um aroma trazido pela brisa numa rua movimentada, uma frase lindamente forjada, um molho suculento...”, descreve Roger Cohen em seu artigo “A economia da felicidade”, publicado na Folha de S. Paulo, caderno “The New York Times”, de 29/11/2010.
Sendo a felicidade tão difícil de reconhecer, não surpreende que os governos se abstenham de tentar mensurá-la, diz Cohen. Para ele, os EUA não têm um termômetro formal para avaliar o sucesso dos seus cidadãos na “busca da felicidade”. “Supõe-se que outras medições – de crescimento econômico, renda per capta, confiança do consumidor e expectativa de vida – ofereçam pistas. De fato, as sociedades mais infelizes, por qualquer medida, são as da África Subsaariana”.

Mas, reflete Cohen, com o galopante progresso da tecnologia e da produtividade nas sociedades desenvolvidas, e com o maior estresse decorrente disso, cada vez mais governos estão questionando a correlação entre Produto Interno Bruto e bem-estar.

“Em 2008, o Butão decidiu que os programas governamentais deveriam ser julgados não por seus benefícios econômicos, mas pela felicidade que produzem”, revela o comentarista.

QUEREMOS SEMPRE MAIS...

Busco também inspiração no artigo de João Pereira Coutinho: “Ligados à máquina” (Folha de S. Paulo, Ilustrada, 30/11/2010). “Queremos sempre tudo. Queremos sempre mais. Pior: sentimos que merecemos tudo e temos direito a mais. Mais dinheiro. Mais amor. Mais sexo. Mais reconhecimento. Mais, mais, mais”.

Mas, precisamente por querermos sempre tudo e sempre mais, nada do que temos resolve a nossa agônica impermanência, continua o cronista. Eu concordo com João Coutinho quando diz que a riqueza material é importante, mas, a partir de um certo grau de conforto, a droga não resulta mais, e também que é a dificuldade, a responsabilidade e a consciência do fim que tornam as nossas vidas significativas. Neste particular, Coutinho lembra as palavras do filósofo britânico Michael Foley: “Tudo que é importante é difícil”.  

Segundo Coutinho, Foley sugere terapia para aliviar essa estranha condição de nos sentirmos como lixo, apesar de vivermos em condições materiais com que os nossos antepassados apenas sonhavam.

“CULTIVE O SEU JARDIM”

Roger Cohen comenta que a entidade Fundação da Nova Economia publica há alguns anos o Índice do Planeta Feliz. Oito dos dez países mais bem colocados ficam na América Latina – a Costa Rica lidera, e a Colômbia, arruinada pela violência, não fica muito atrás. “Claro que a América Latina é o mais desigual dos continentes. É, também, em geral, um lugar de famílias fortes, de sol forte e de tradições fortes, onde a busca pelo prazer costuma se sobrepor à busca pelo lucro”.

Para Cohen, o mistério permanece. “Índices de felicidade são legais, mas não acho que nos tornem mais felizes. O tédio é um terrível tormento das sociedades modernas”. Esse cronista acha verdadeiro o provérbio chinês: se você quer ser feliz por um dia, fique bêbado; por uma semana, mate um porco; por um mês, se case; pela vida toda, seja jardineiro. Cohen concorda com Voltaire: “cultive o seu jardim”.

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Revisão do texto: Márcio Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com

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