quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Déficit de atenção e hiperatividade

"Novo enfoque ao déficit de atenção" é o título do ensaio de Tara Parker-Pope, publicado no The New York Times (divulgado também na Folha de S.Paulo, Ciência & Tecnologia, de 8/12/2008), que abaixo sintetizo:

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Quando os pediatras diagnosticam o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), eles freqüentemente perguntam aos pacientes se estes conhecem outra pessoa com o mesmo problema.

Hoje em dia as crianças americanas provavelmente responderão Michael Phelps, nadador recordista de medalhas olímpicas e exemplo para pais e crianças cujas vidas são afetadas por problemas de atenção. "Há um orgulho tremendo. Algumas dessas crianças sentem que Michael é ‘delas’... É um sentimento especial quando alguém faz parte de seu clube e o mundo inteiro o adora", comentou Harold S. Koplewicz, diretor do Centro de Estudos da Criança da Universidade de Nova York.

Mas o surgimento de uma celebridade que tem déficit de atenção também trouxe à tona um cisma na comunidade de pacientes, pais, médicos e educadores que lidam com o TDAH. Essas pessoas debatem há anos se o transtorno significa uma vida inteira de limitações ou se, em alguns casos, pode ser uma coisa positiva.

As crianças que apresentam o transtorno costumam ter dificuldade em ficar sentadas e paradas e em prestar atenção. Mas elas podem também ter muito mais energia e foco sobre suas atividades favoritas.

Por essa razão, alguns médicos defendem uma postura nova, que destaque os potencias das pessoas com déficit de atenção. O psiquiatra e autor Edward M. Hallowell diz que o atual "modelo médico baseado no déficit" do transtorno resulta em baixa auto-estima entre os portadores da condição.

"Não é uma benção, mas tampouco a maldição como costuma ser retratada", disse Hallowell, ele próprio portador do TDAH. "Trato essa condição há 25 anos e sei que, se administrado corretamente, o aparente déficit pode virar uma vantagem. Vejo-o como uma característica, e não deficiência."

Hallowell diz que a baixa auto-estima e as baixas expectativas são resultantes da maneira como o diagnóstico de TDAH é apresentado a crianças, pais e professores. Ele diz às crianças com déficit de atenção que elas têm o cérebro de um carro de corridas e que ele quer trabalhar com elas para construírem freios melhores para o carro.

Para outros especialistas, entretanto, embora histórias de sucesso sejam inspiradoras, os pais devem saber que seus filhos enfrentam riscos reais. Pesquisas mostram que crianças com déficit de atenção têm padrões cerebrais diferentes e tendência maior a abandonar a escola, envolver-se em acidentes de carro e usar drogas.

Natalie Knochenhauer, fundadora do grupo ADHD Aware (Consciência do TDAH), da Pensilvânia, comentou: "Acho que essa reformulação do TDAH, retratando-o como uma dádiva, não ajuda. Não é possível ter uma deficiência que requer ajustes na sala de aula e também ter um dom especial. Não apenas seus filhos não têm um dom, como enfrentam dificuldades reais". Knochenhauer, que tem quatro filhos com o transtorno, disse que eles também se sentiram inspirados pela performance espantosa de Michael Phelps em Pequim. Mas acrescentou: "Eu diria que Phelps é um grande nadador que tem TDAH, e não que é um grande nadador porque tem TDAH."

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