sábado, 12 de setembro de 2009

Amigos... Nem sempre são eternos!

Ao longo da vida, costuma-se ter amigos dos quais jamais se esquece. Nem sempre os amigos ficam ao nosso lado por todo o tempo. Afinal, a vida de cada um toma rumos diferentes. E então, o reencontro de amigos, após longo tempo, pode até mesmo surpreender. A imagem guardada pode não combinar com o novo jeito de ser.

Tem amigo para o qual a gente escreve e-mails (não apenas para passar mensagens prontas...), e-mails de verdade, com emoção, mas ele não responde. Alguns até retornam, mas com os inúmeros... “power-points”.


Alguns, porém, surpreendem favoravelmente. No tempo em que convivemos, a amizade não era tão intensa. Ocorre que a mudança foi tal que, no reencontro, parece outra pessoa. Esse é o amigo cujo convívio a gente deseja retomar, ainda que “por e-mail” quando os reencontros pessoais não são possíveis. 


Fazem-se grandes amigos em circunstâncias particulares da vida. E são as lembranças dessas circunstâncias, das soluções compartilhadas, que se alojam em nós, que se eternizam. 

E quando a vida não os separa, se caminham juntos por todo o tempo, é porque há características pessoais compatíveis. É porque a vida não construiu muitas encruzilhadas. Seguem juntos ainda que, por vezes, cada um apenas ouça e concorde com o outro, nunca desafiando para mudanças de comportamento...


Há amigos que se toleram por necessidade, já que ambos são companhias pouco confortáveis para outras pessoas. Atrapalham o ambiente. Ninguém suporta o tempo todo ouvir gente criticar, ofender... 


Companhias ideais, hoje, para mim, são pessoas criativas para emendar a piada certa na hora certa. Idealistas e, principalmente, generosas!...
 


Com o tempo e o rumo que toma a vida de cada um, antigos amigos podem deixar de ter coisas em comum. Aí, adeus às grandes conversas. Faltam correspondência e interação. Desaparece até aquela capacidade de enxergar além do que informa a simples forma física.

Acho que para uma amizade também vale lembrar o poeta Vinícius de Moraes: “Que não seja imortal posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure”. 

No artigo “O enigma que somos” (Folha de S.Paulo, Equilíbrio, 3/9/2009), Michael Kepp comenta: “Mesmo amigos de anos nos surpreendem. Isso porque as pessoas escondem mais do que revelam ou enviam sinais perturbadores que preferimos ignorar. Ou mudam e até se reinventam. Ou nós fazemos isso”.  

Quando a vida nos privilegia com o amigo que dita sabedoria, este sim pode se eternizar. Sabemos que mesmo distantes por um longo período, na reaproximação não o encontraremos estacionado no tempo que passou. Ele se manterá nos surpreendendo com o seu ininterrupto processo de renovação. E isto será logo notado, antes mesmo de a gente se falar, já pela própria expressão do rosto. 

“Duas pessoas que casualmente se conhecem são duas subjetividades que se esbarram. Se crescem no conhecimento, existe então a possibilidade de suas singularidades se pluralizarem, se misturarem e se influenciarem” (Fábio de Melo, “Quem me roubou de mim”). 

Costumo pensar sobre quem eu escolheria para caminhar por montanhas ou me isolar em algum canto especial da natureza. Aquela pessoa com quem a gente conversa e não se cansa, sem criticar os outros. Com essa pessoa, há tanto a falar e a escutar, que o tempo acaba por se tornar insuficiente.   

Lembro do recente amigo que também já imprimiu a sua marca na minha história. Para defini-lo, permito-me reproduzir algo da sinopse do filme “Fale com ela”, de Pedro Almodóvar: “... uma profunda amizade, tão linear quanto uma montanha russa”. Amigo necessariamente abre caminhos para o crescimento do outro. Leio “O doador”, de Lois Lowry, que esse amigo me emprestou até mesmo antes de ler. Ele sabia que eu me identificaria com a obra.   

Como dita o poeta Vinícius, “A gente não faz amigos, reconhece-os”.   


Tempo de construir... 



Agora, mais velho, meus relacionamentos são aqueles que me trazem satisfação... Opto pelo silêncio ou pelo distanciamento, quando for o caso. 

“Amigo, às vezes, é melhor não falar e ter a paciência de dar tempo para que o outro perceba as suas imperfeições”, escreve Fábio de Melo. 

“Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer verdadeiramente companhia. Por não prezar as coisas que prezo! Às vezes, enxergo tão profundamente a vida que, de repente, olho ao redor e vejo que ninguém me acompanhou e que meu único companheiro é o tempo”, narra Irvin D. Yalom em “Quando Nietzsche chorou”. 

Chega de apontar o dedo para coisas erradas. Chega de dar uma de “dono da verdade”. É tempo de pensar que os outros têm o direito de perder a paciência com a abundância de palavras sem conteúdo. É tempo de construir..., para quem quiser surpreender no reencontro com o velho amigo, em vez de se tornar um chato, um saudosista, um crítico, beirando a intolerância... Abaixo a mesmice!...  

Fábio de Melo traz mais algo interessante para a gente pensar: “Dos relacionamentos que você já teve, quais foram as ocasiões em que foi verdadeiramente modificado para melhor?” 

Estou sempre lembrando dos meus amigos. Há neste escrito um pouco de cada uma das pessoas que me acolheram, que se tornaram essenciais na minha história. Há outros e mais outros sempre fundamentais no meu processo de construção. Sinto-me privilegiado pelas oportunidades de criar laços.   

Amigos, amigos, sempre amigos... Não vivo sem eles!

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