domingo, 29 de junho de 2008

Sobre Umberto Eco

Que legal! Achei alguém que também, como eu, mantém o celular quase sempre desligado: Umberto Eco, 76, autor do best-seller “O Nome da Rosa”. No entanto, ele usa o e-mail obsessivamente, como se fosse um prolongamento natural das conversas.

No produtivo artigo de Juan Cruz, publicado na Folha de S.Paulo, Umberto Eco diz que “A comunicação só é digerida se aquele que a emite é capaz de se colocar na altura daquele que o ouve. “Por isso, tanto ao conversar quanto em seus livros sempre entremeia suas reflexões ou apologias com piadas.



“... Não acredito na felicidade – estou lhe dizendo a verdade. Acredito apenas na inquietude. Ou seja, nunca estou feliz por completo – sempre preciso fazer outra coisa”, diz o escritor.

Ele conta que “A relação de um professor com os alunos é canibal: você come as carnes jovens deles, e eles comem sua experiência”. Com isto, quer dizer que sua relação com os alunos sempre foi uma relação de aprendizagem, porque, ensinando, ele também aprendia, escreve Juan Cruz.

“... Uma relação erótica, porque a relação de um professor com um aluno é como a relação de um ator com seu público: quando você aparece em cena, é como se o estivesse fazendo pela primeira vez, e você tem a sensação de que, se não tiver conquistado o público nos primeiros cinco minutos, o terá perdido. É isso o que eu chamo de uma relação erótica, no sentido platônico do termo”, revela Eco. Ele comenta: “Há pessoas infelizes que passam os primeiros anos de sua vida com pessoas mais jovens para poder dominá-las, e, quando envelhecem, estão com pessoas mais velhas. Comigo aconteceu o contrário: quando eu era jovem, estava com pessoas mais velhas que eu, para aprender, e agora, tendo alunos, estou com jovens, o que é uma maneira de se manter jovem. É uma relação de canibalismo: comemos um ao outro. Por isso não deixei de ter relação com a universidade, apesar de ter me aposentado”. 

“... Tudo isso está em meus romances, onde sempre há uma relação entre um jovem e um mestre mais velho”.


“... A diferença ideal de idade entre professor e alunos é de 15 anos. Você tem trinta e poucos, e o aluno, 20. Foi precisamente nesse período que tive uma relação mais intensa com meus alunos. Porque, se os alunos são mais jovens que isso, não existe relação, e, se a diferença for maior, já não poderemos ser amigos.

... Com os alunos dos anos 1960, saíamos para jantar, dançar. Com os de agora, isso não seria possível. Sentiriam vergonha de sair com você. Em 1968 foi interessante: eu não podia ser como eles, mas não me viam como inimigo. Por isso, havia uma relação às vezes polêmica, às vezes amistosa e contínua”, declara o incrível Umberto Eco. A entrevista completa ao jornalista Juan Cruz foi publicada no caderno Mais! da Folha de S.Paulo de 11/5/2008.

Penso que artigos extraordinários, como esse de Cruz, não devem ficar perdidos no tempo. Eles tratam de informações valiosas que poucas pessoas têm acesso e que, portanto, merecem ser reproduzidos com o devido crédito ao autor e veículo de comunicação.

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