quarta-feira, 16 de julho de 2008

E aí, “brother”, como anda essa relação com o paizão?

Que coisa é essa, de abraçar o filho? Abraçar naturalmente, com vontade, com amor. Este é um ato simbiôntico. Não pode haver retração de parte alguma. O abraço deve ser fraterno, emocionante, com direito a

beijo, emoção e até lágrimas! Infelizmente, não guardo experiência desse tipo com meu pai. Por isto, abraço emocionadamente meus filhos.

Tive um choque, aos 40 anos, ao saber por uma das irmãs que, antes de nascer, fui rejeitado pelo pai. Ele tinha a certeza de que eu seria mais uma filha, a sexta, e não o filho homem que ele tanto queria. Havia perdido a esperança. Talvez esteja aí uma das razões para eu nunca ter amado meu pai. Sempre tivemos um relacionamento distante, que apenas suavizou no final de sua vida.

Com o passar dos anos, a gente acaba lamentando não haver amadurecido mais cedo para compreender melhor o pai e intensificar a convivência. Geralmente, a tendência do jovem é achar o pai um chato que não entende o filho, que "pega no pé"...

Em uma situação de distanciamento, quando o filho perde o pai, que morre prematuramente, é muito triste. Os jovens precisam se interessar por relatos dessa natureza para refletir sobre o significado da perda e valorizar a figura paterna. Eles precisam refletir sobre cenas de pais e filhos que dormem nas ruas, sem rumo na vida, e que dependem da caridade dos outros. Há pais alcoólatras, muitas vezes amados pelos filhos, que sofrem por não conseguir tirá-los do vício. Conheci um pai assim, viciado em bebida, um homem amável, educado e generoso, que amava o filho que o amava.

Ainda hoje, emocionei-me com o homem que está pintando o meu apartamento. Emocionei-me ao ouvi-lo falar com o filho, que o auxiliava, um rapaz com 28 anos que já tem uma filha de 6 anos e um recém-nascido. Emocionei-me ao ouvir, do meu escritório, os dois conversando afetuosamente na sala, onde trabalhavam.

Mais tarde, ao elogiar aquele comportamento, o pintor falou-me de seu prazer em ajudar os três filhos, todos casados. Para uma filha, ele vai periodicamente à "Feira da Madrugada", no Brás, centro de São Paulo, comprar pequenos objetos para ela revender. A esposa abandonou a família, há quinze anos, disse. Os filhos quiseram ficar com o pai. Pensei então na lição de vida que esse homem poderia dar a tantos pais e filhos. Mas esse homem não é escutado, ele vive na invisibilidade. Na verdade, ele não avalia a sua grandeza, obedece simplesmente aos mandos do coração.

Esse fato lembra-me Osho ("Um pássaro em vôo"), o místico indiano: "... Com o pai você está relacionado só intelectualmente, com a mãe a sua relação é total. Você fez parte da sua mãe, você pertence totalmente a ela". Apesar da lógica, na ausência de um deles, pais também se tornam mães, e mães se tornam pais. Conheço mães que criam filhos, sozinhas, com muita dificuldade financeira. Para mim, são mulheres referenciais. Jovens da classe média deveriam conhecer a história de uma dessas mães para ter uma dimensão exata da essência do amor.

O amor é o respeito à individualidade do outro. Temos que amar a pessoa como ela é, e não como projetamos. Amar é perceber o potencial do outro e desenvolvê-lo. A energia tem que fluir. Nossa saúde é influenciada por essa energia. Um é responsável pela energia do outro. Quem não tem energia, suga a do outro. Na verdade, em uma relação a dois, alguém há de ser mais compreensivo e tolerante, sabendo agir com amor e sabedoria para a reflexão e transformação do outro.

Só após a morte de meu pai e, agora mais experiente, pude reconhecer as suas tantas qualidades e o amor que me deu, não expresso em afeições externas, mas no apoio incondicional para a minha formação moral e intelectual. Ele era operário do Porto de Santos (SP), mas sempre me apoiou materialmente para a concretização de alguns sonhos, enquanto jovem. Só hoje estou certo que me amou, mas nunca vivenciamos afetos, um pelo outro.

[...] "Continuo a afirmar que os homens fazem filhos por vingança. Explico-me: desejo que meu filho me compense de tudo aquilo que a vida me tirou ou não me deu. Tive a vida que tive, mas, se concebo meu filho, desejo ardentemente que ele seja mais rico, mais afortunado, mais inteligente, mais belo, sobretudo mais hábil do que eu ao enfrentar aquilo que eu talvez não tenha sido capaz de enfrentar ou, então, enfrentar o destino adverso, que só me deu desilusões." A partir da história de um pai que abandona o filho nascido com deficiências físicas e mentais, o cineasta Gianni Amelio, diretor do filme "As chaves de casa" (2004), constrói uma reflexão sobre o significado do outro nas relações humanas (Folha de S.Paulo, Mais!, 15/1/2006).

Os pais temem que os filhos não sejam vitoriosos, por não terem sido pais o suficiente, quem sabe?

Geralmente, é na adolescência que o pai tem mais dificuldade para expressar claramente o amor pelo filho. E isto acontece por conta do próprio jovem, que evita a aproximação afetiva. Nos primeiros anos da infância, afetos paternos são normais. É na fase da pré-adolescência que o pai deve ficar atento para não perder esse hábito. No momento do contato físico afetivo, por exemplo, o jovem se sente protegido e amado. E esse momento se perpetua na vida do filho.

E quanto à autoridade?

Um aspecto crucial na educação é a autoridade, explica o psiquiatra Içami Tiba (Veja, edição especial, Jovens, jul. 2003). Muitos pais temem perder o amor dos filhos se forem firmes nas regras e nas cobranças. Todo mundo sabe que adolescente contrariado é encrenca na certa. Como uma criança birrenta, ele reclama, briga e faz escândalo, dentro de uma escala proporcional a seu tamanho, admite o psiquiatra. Nesse ponto os pais não podem ceder. Precisam estar conscientes de que, como todo mundo, os jovens não dão afeto a pessoas que não respeitam. Se os pais forem omissos e ficarem quietos por medo de perder o amor do filho, correm o risco de se ver menosprezados e ignorados, diz Içami.

Exercer autoridade de pai e de mãe exige sabedoria. Os limites precisam ser sempre colocados em função de algo e exercidos visando ao bem-estar de toda a família. Necessitam estar a serviço da qualidade de vida e da educação do filho, nunca de um capricho. Para o psiquiatra, muitos pais acreditam que dar o bom exemplo é suficiente, o que não é verdade. Sem uma determinação clara, os filhos não o perceberão e não o seguirão. No outro extremo, abusar de proibições e punições por si só também não funciona. Os filhos precisam aprender, e cabe aos pais ensinar.

Içami diz ainda que a maioria dos pais, quando exerce autoridade, simplesmente proíbe o que o filho gosta de fazer. Na verdade, eles deveriam reorientar momentaneamente a energia que o adolescente gastaria numa atividade para outra. Sempre é possível mudar para melhor. O ser humano é o único que pode mudar sua história, pois tem inteligência e criatividade. Basta acrescentar a motivação, complementa o estudioso.  

Ciência explica intolerância como própria da idade

Para o psiquiatra Fábio Barbirato, da Santa Casa do Rio de Janeiro (Veja, Jovens), sempre se pensou que a culpa era do vulcão de hormônios colocado em ebulição pelo processo de crescimento. Ou da angústia existencial própria de uma época de transição. A garotada nem se ajustou direito às mudanças causadas em seu corpo pela puberdade e o cérebro também começa a mudar. Até pouco tempo atrás, acreditava-se que ao chegar à adolescência o cérebro já estivesse completamente formado, lembra Barbirato.

Pesquisas recentes revelam que, ao contrário, nessa fase se inicia um processo de rearranjo dos neurônios tão intenso como aquele que aconteceu nos primeiros anos da infância. Para o psiquiatra, as áreas onde ocorrem as maiores transformações são justamente aquelas ligadas às emoções, ao discernimento e ao autocontrole. Essa é uma boa explicação científica para o comportamento tão impulsivo e temperamental dos "teens". Algumas áreas da estrutura cerebral só vão estar inteiramente maduras depois dos 20 anos, acrescenta o pesquisador.

Conflitos

Nem sempre é fácil o entendimento entre os membros da família. É compreensível e natural que os jovens e os adultos tenham uma visão de mundo diferente. O conflito entre gerações sempre existiu. Seria surpreendente se um adolescente pensasse como uma pessoa madura, observa a psicóloga Flávia Leão Fernandes, no artigo "Conflitos entre pais e filhos", de 8/2/2008 (http://vilafilhos.vilamulher.com.br/materia/crianças/14-conflitos-entre-pais-e-filhos.html). Ela diz que os jovens têm impulsos de rebeldia quando começam a formar seus próprios valores. Todavia, com o passar dos anos compreendem que os pais tinham razão em muitas coisas com as quais não concordavam no passado.

A experiência de vida e o amor dos pais pelos filhos são fatores importantes para o bom relacionamento familiar. Compete aos pais facilitar esse relacionamento com flexibilidade e espírito jovial. Alguns conflitos são inevitáveis, mas muitos podem ser solucionados com um bom diálogo e respeito mútuo. A comunicação entre pais e filhos exige escuta atenta, livre expressão de sentimentos e busca ativa de entendimento mediante negociação e compromisso, analisa Flávia Fernandes.

Para a psicóloga, a forma de comunicação tem um impacto muito grande na saúde física e mental dos membros da família, pois influencia na maneira como as pessoas lidam com as emoções. Pode afetar as atitudes, a auto-estima e a reação a situações estressantes. Se o prazer do relacionamento afetivo saudável for substituído por conflitos sem solução adequada, a família será sem dúvida infeliz.

Atualmente, prossegue a psicóloga, um dos maiores conflitos entre pais e filhos se dá no aspecto material. O pai e a mãe que não dedicam muito tempo e atenção aos filhos, acabam tentando compensar sua ausência com recompensas materiais.

Os pais que têm dificuldade de demonstrar afeto reforçam ainda mais os conflitos. A criança que percebe o sentimento de culpa ou a dificuldade dos pais em demonstrar afeto poderá manipular e fazer chantagem emotiva para obter mimos ou regalias, diz Flávia.

Pais saudáveis são aqueles que vêem a educação e os conflitos familiares como algo que requer sabedoria, dedicação e amor para lidar com tão complicada tarefa. Os relacionamentos saudáveis não acontecem de forma mágica. É necessário respeito mútuo e reconhecer que as pessoas são únicas e diferentes. São essas diferenças que as tornam especiais, lembra a estudiosa.

É nos momentos de encontro familiar que os adultos lembram épocas passadas e riem do que já fizeram e que, em outros tempos, já foi motivo de conflitos e de sofrimentos, comenta a psicólogca Rosely Sayão (www.anjodaguarda.com.br/clubedotexto/texto237.doc). É nesses encontros que gente grande brinca como criança e se permite fazer coisas que, na frente de outras pessoas sem essa ligação, seria constrangedor fazer, mas, com a família, não é.
E, se o adulto tem prazer em fazer criancice nessas situações, imagine então o adolescente! Só que, para ele, é mais difícil se autorizar esse parêntese na vida, já que está justamente tentando superar a infância tão recente. E é aí que os pais podem dar uma mãozinha, sem medo de prejudicar o crescimento do filho, finaliza Rosely.

Na obra "É hora de mudança", Deanna Beisser descreve sabiamente: "Antes de deixar este mundo, quero contar a meus filhos algumas coisas muito importantes sobre quem eu sou e em que acredito. Isso pode não fazer diferença no grande esquema das coisas, mas, ao menos para mim, será como partilhar meu coração e as verdades de minha alma. Quero que eles saibam que meu espírito dançou a cada novo dia e beijou discretamente cada anoitecer, que eu os amei com todo o meu ser, e que aonde quer que seus caminhos os levem, lá também estará o meu amor".

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