A morte não leva apenas a pessoa querida, deixa uma marca que não se apaga
Tom Simões, jornalista, Santos (São Paulo, Brasil), 9 de outubro de 2025
A morte é um tema profundo e reflexivo que
nos leva a ponderar sobre a vida e suas transições. Se a única certeza que
temos é a morte, a vida reside nas dúvidas. Cada perda, em sua profundeza,
deixa uma marca que não se apaga, mudando nossa essência. A morte é um daqueles
eventos que nos atinge como um trem desgovernado, sem aviso, sem piedade. Por
mais que a gente esteja preparada. Quando alguém morre, não
é apenas um corpo que deixa de existir.
Há algo em nós que se quebra, se despedaça, e nunca mais será o mesmo.
Será possível perder alguém sem sentir que perdemos um pedaço de nós? Essa é uma pergunta que ecoa no coração de quem experimenta a dor da perda. Tais cicatrizes invisíveis moldam quem somos, e como enxergamos o mundo ao nosso redor. Essa visão nos torna mais conscientes das fragilidades humanas e, não raramente, mais sensíveis à dor alheia. Com o tempo, aprende-se a viver com a dor, a seguir em frente, porém as marcas da perda permanecem.
A morte de uma pessoa querida nos força a
confrontar nossa própria mortalidade, lembrando que somos frágeis, finitos, e
que a vida é efêmera em sua essência. Essa perda faz uma reconfiguração intensa
no cérebro. Áreas ligadas ao apego e à dor emocional se acendem como luzes
vermelhas em um painel. O tempo parece desacelerar, e as cores da vida perdem o
brilho. A pessoa que partiu deixa um vazio, uma lacuna que ninguém pode
preencher. É como se alguma parte de nossa alma fosse arrancada à força,
deixando uma ferida que, embora cicatrizada com o tempo, nunca desaparece
completamente.
Somos seres sociais. Ao perder um membro do
nosso círculo, surge um impulso quase automático de reforçar os vínculos com
quem ficou, como se estivéssemos tentando atracar a nós mesmos no que ainda
resta de familiar, de seguro. A morte, nessa perspectiva, não é apenas o fim da
vida biológica, mas um acontecimento social e simbólico. Toda vez que alguém
morre, a sociedade como um todo é afetada.
“Faz-me pensar em como tenho lidado e
experienciado minhas relações”, escreve Camila Oliveira (Revista
Subjetiva). “Tenho me empenhado em resolver conflitos bobos por mera falta
de comunicação? Dado o melhor que posso em cada momento? Expressado
reconhecimento, fazendo isso tanto pelos outros quanto para dar vazão aos meus
sentimentos? Tenho aproveitado e valorizado a vida de algumas pessoas importantes
para não me lamentar, após suas mortes?”
Essa enxurrada na cabeça faz-me pensar na relação
comigo mesmo e na vida que levo. Em um mundo tão incerto, a morte é a única
certeza que temos, o que leva a refletir sobre nossas prioridades e o que
realmente importa. Pois morrer em vida é a pior morte. Como lembra Norman
Cousins, jornalista político e escritor americano, “A maior perda não é
a morte, mas o que morre dentro de nós enquanto vivemos”.
A gente também vive a morte sem
necessariamente alguém conhecido ter morrido. Se tem algo que a morte pode
ensinar é que precisamos viver. Mas não viver por viver. Viver a melhor vida
que pudermos. A morte, embora dolorosa, provoca reflexões necessárias sobre a
vida, como a importância de valorizar cada momento, cada interação com nossas
circunstâncias.
Será que vivemos plenamente ou apenas
existimos? Essa é uma observação oportuna quando perdemos alguém, questionando
nossas escolhas e estilo de vida. Talvez a maior lição da morte é viver
intensamente e com propósito, sem deixar nada por fazer e dizer.
Será que a morte fortalece os laços que
restam? Sim. Uma pessoa enlutada pode dividir sua dor com quem sabe ouvir e
aliviar, recebendo apoio e compreensão durante o momento difícil. E motivação
para seguir em frente. A vida continua, mas então de outro modo, mais
consciente e intencional.
“É comum minha introspecção não somente
sobre a morte, mas sobre a vida, até porque são faces da mesma moeda. Essa
reflexão varia de acordo com determinados momentos. Importa despertar: a vida é
extremamente delicada, daí a razão para vivê-la intensamente”, escreve Camila
Oliveira.
A morte comprova que a vida é realmente um
sopro. Hoje a gente está aqui, plenamente saudável e feliz e, de repente, pode não
estar mais vivo.
Para Sigmund Freud, neurologista
austríaco, conhecido como o fundador da psicanálise, “A morte é
irrepresentável no psiquismo, por nunca ter sido experienciada pelo sujeito. O
máximo que podemos é vivenciar a morte de alguém conhecido”.
Então, em vez de focar na ausência, lembremos
do legado que aquela pessoa deixou em nossa vida. Mesmo na ausência, os que
amamos estão presentes em cada lembrança.
O legado refere-se à herança espiritual que
cada indivíduo carrega ao longo de suas vidas, composto por experiências e aprendizados
que transcendem a existência física. Esse conceito sugere que a alma é um
veículo de evolução, acumulando sabedoria e insights que moldam nossa
existência em cada encarnação. Compreender e abraçar o legado da nossa alma é
essencial para viver com propósito e integridade. Essa herança reflete nossos
valores essenciais e contribuição ao mundo.
Portanto, mortais, celebrar a vida é,
inevitavelmente, aceitar a morte como parte do ciclo. Morrer é um ato natural. A
morte é uma condição inerente à vida, resultante da complexidade e organização
do organismo humano. E que pode significar ainda a fragilidade da vida e a
valorização do tempo que vivemos.
“A maneira como escolhemos viver é que
nos define”, alguém citou sabiamente. Cada escolha que fazemos molda a
nossa realidade e impacta o nosso futuro. Nesse sentido, é fundamental viver
responsavelmente, pois cada escolha nos aproxima ou afasta de determinadas
possibilidades para servir de exemplo. Afinal, o legado que deixamos é, em
última análise, a história de nossa vida contada pelos que ficam.
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Fontes
consultadas
https://loveissuh.substack.com/p/afinal-por-que-a-gente-sente-tanto
https://medium.com/revista-subjetiva/a-morte-tamb%C3%A9m-mexe-com-voc%C3%AA-cffcf7d8ecef
https://vivasimplesesaudavel.com/morte-quando-uma-pessoa-morre-um-pedaco-de-nos-morre-junto/
https://terapias.ong.br/glossario/o-que-e-legado-espiritual/
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