terça-feira, 8 de novembro de 2011

“RAIVA NO TRÂNSITO”

A complexidade desse sentimento...

TENHO RESPONSABILIDADE de citar sempre a fonte bibliográfica de todos os textos transcritos em meus artigos jornalísticos. O rigor da citação é algo obrigatório na área da divulgação científica, na qual atuo como jornalista especializado há muitos anos.

TAMBÉM especial prazer de passar adiante o que tenho aprendido, de compartilhar informações fundamentais passíveis de, quem sabe, tornar o leitor melhor do que era antes. Vivemos numa sociedade ansiosa por consumir produtos e serviços e não por reflexão, ideias e conhecimento. A autocrítica pode ajudar a nos tornarmos pessoas melhores, se não mais felizes.

“Raiva no Trânsito” consta do sumário da obra “Calma no caos”, de autoria do norte-americano Arthur Jeon. Ele é bacharel em Humanidades pela Universidade de Harvard, nos EUA. Estudou cinema e atuou como roteirista. Iniciou sua jornada espiritual no início dos anos 1990, praticando ioga. Após muita dedicação e estudo, tornou-se professor.

Esse americano faz interessante abordagem sobre o descontrole de um motorista no trânsito. “Você está com o pisca-pisca ligado, tentando ir para a faixa da direita porque precisa pegar a próxima saída. O Mercedes a seu lado acelera bloqueando o espaço de manobra. O motorista nem toma conhecimento da sua existência e fecha a saída, só para ficar parado no trânsito à sua frente”, escreve Arthur Jeon. Ou então, prossegue o autor, no mesmo momento em que o sinal fica verde, o motorista do carro de trás enfia a mão na buzina. No segundo seguinte, ele mesmo mostra o dedo médio esticado pelo vidro aberto, enquanto ultrapassa você, cantando os pneus.

“Bem-vindo a um novo dia nas estradas congestionadas do mundo, onde as pessoas estão fervendo de raiva, prontas a explodir ao menor sinal de infração. Quando estamos presos num pesadelo de ego, estresse e competição, dirigir um carro pode se tornar perigoso e frustrante, um espaço de projeção para sentimentos de raiva mal resolvida. No anonimato do nosso carro, separados pela velocidade, pelo vidro e o metal, é fácil esquecer que há outro ser humano que respira e vive a poucos metros de distância”, diz Jeon.

Conta o autor: “As pessoas passam pelas outras como peixes exóticos, cada qual em seu aquário de vidro e metal, nadando na própria singularidade, o que leva a um sentido de isolamento e falta de ligação que despersonaliza o indivíduo do carro ao lado”. Quem nunca sentiu uma onda de frustração, raiva ou medo enquanto dirige um veículo? Quem de nós consegue não encarar as coisas como ofensa pessoal?, pergunta Arthur Jeon.

Ele revela que, se alguém fechou você, em algum congestionamento, e decidiu ser provocador, gritando com as veias do pescoço saltadas, esse alguém escolheu você ao acaso. É algo impessoal.

DESCONTROLE EMOCIONAL

“Seria tão bom se víssemos as ações de outros motoristas da mesma maneira como encaramos a mudanças climáticas! Imprevisíveis e impessoais. Fora do nosso controle. Ninguém, a não ser um maluco, pensaria em xingar um trecho de neve na estrada ou mostrar o dedo esticado para uma tempestade. Pessoas inconscientes não têm nenhum controle sobre seus atos. Estão adormecidas, absortas em si mesmas, ausentes. Por que perder sua atenção consciente e entrar no estado delas?”, reflete o autor.

Para Jeon, no contexto do trânsito é interessante observar a relação entre o que está acontecendo e o que você diz para si mesmo que está acontecendo. O motorista que fechou você talvez nem tenha visto exatamente o seu carro. Assim, se a sua compreensão da situação for incompleta (realidade subjetiva), haverá sofrimento por causa da história que você está se contando sobre os acontecimentos.

“Essa foi a escolha do motorista. A forma como você reagirá é escolha sua”, orienta o autor, que complementa: “Você pode ficar furioso e enojado com a burrice da raça humana, ou achar graça. Seja como for, admita que o tal motorista não te conhece! Posso garantir que não foi uma ofensa intencionalmente dirigida a você. Mas, se você quiser levar para o lado pessoal, terá sido sua a escolha do sofrimento”.

SABEDORIA

“O Homo sapiens aprendeu a atuar no teatro social com brilho, mas não no teatro psíquico para filtrar estímulos estressantes, gerir seus pensamentos, proteger sua emoção”, observa o psiquiatra, psicoterapeuta e escritor Augusto Cury em “O código da inteligência”. Ele explica que nos primeiros trinta segundos de tensão cometemos os maiores erros de nossa vida: “A sabedoria recomenda que quando somos contrariados, não deveríamos estar debaixo da ditadura da resposta, mas no oásis do silêncio”.

Osho
Imagem: www.idadecerta.com.br
‘Saber’ significa ficar em silêncio, completamente em silêncio, nos inspira Osho, filósofo indiano, em “Intuição - o saber além da lógica”. “Então você pode ouvir a voz baixa e calma do seu íntimo. ‘Saber’ significa deixar a mente de lado. Quando você está absolutamente calmo, sem se mover, nada se agita em você, as portas se abrem. Você faz parte dessa existência misteriosa. Você a conhece tornando-se parte dela, tornando-se um participante dela. Isso é saber”.

Para complementar, Arthur Jeon argumenta: “Corremos impacientes e irritados, porque pensamos que os outros nos impedem de chegar onde queremos. Talvez tenhamos saído atrasados e é impossível relaxar. [...] A verdade é que aqueles motoristas são precisamente o que precisam ser naquele momento, em busca de suas necessidades, mesmo que sofram. Pode ser que naquele momento eles tenham de correr, precisem de fato chegar antes de você. Você compete com eles porque tem uma necessidade semelhante ou porque você, simplesmente, quer vencer?”

Quem se habilita a repensar suas reações no trânsito e se esforçar para evitar estresses dessa natureza?... 

Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com

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