sexta-feira, 3 de junho de 2011

UMA IDEIA DE “DEUS”...

Santo Antonio, gravura de Gustavo Rosa
Quem já sentiu uma espécie de manifestação da Divindade em seu corpo? No silêncio, concentrado, quem já experimentou uma fugaz sensação indescritível de pura paz e felicidade?

Raras pessoas, certamente, porque muitos não acreditam no potencial divino adormecido no corpo humano, aguardando a oportunidade do despertar.

Os céticos podem ironizar. Que ironizem, se isto lhes traz algum conforto, pois quem se dedica ao aprimoramento humano e espiritual crê que “Deus” habita cada um de nós.

Há algo em comum naqueles que sentem a presença da Divindade em seu corpo. Alguém que se dedica à prática constante de ações compassivas, de repente, em um ambiente calmo, concentrado, esvaziando sua mente e relaxando o corpo, sem pensar em nada... , buscando uma conexão com algo mais elevado, sem provocar, sente os olhos umedecidos e uma espécie de arrepio agradável em todo o corpo, algo muito breve, uma questão de milésimos de segundos... , que logo se esvai, deixando uma sensação de paz e felicidade indescritível.

Qualquer um de nós pode sair da esfera do ego, de seu “eu” prosaico, e experimentar o Divino. A questão é optar por enxergar a vida de forma diferente da convencional, onde o egoísmo cede lugar à compaixão. “Precisamos purificar nossas ações não virtuosas e inadequadas”, orienta o monge Geshe Kelsang Gyatso, professor de budismo mundialmente reconhecido.

Difícil mudança, certamente. A escolha é de cada um. Para tanto, cabe a determinação e o exercício, principalmente da humildade e da superação contínua, buscando se tornar uma pessoa mais equilibrada e útil para o mundo.
Quem experimenta uma mudança contínua vai observando algo incomum: pessoas se aproximando para desfrutar um pouco dessa conquista pessoal. Esse fato implica uma responsabilidade cada vez maior de quem já despertou a consciência para a prática da compaixão, essencial no processo do amadurecimento espiritual.

POR QUE ISTO ACONTECE?

Em um dos capítulos da obra, “Em Defesa de Deus”, que leio atualmente, Karen Armstrong apresenta uma ideia de Deus que me parece lógica e possível, algo que tem a ver com a experiência acima descrita.

“O que está atrás ou além do universo é inconcebível para nós. Quando tentamos pensar em seu criador, nossa mente simplesmente emperra. Podemos, porém, ver sinais e vestígios de Deus em nosso mundo. Nunca chegaremos a conhecer a essência de Deus, mas, para adequar sua natureza indescritível a nosso limitado intelecto, Deus se comunica conosco por meio de suas atividades no mundo. Elas são as realidades mais elevadas que a mente humana consegue apreender e nos permitem vislumbrar uma realidade transcendente, que está além de tudo que podemos conceber. Só no silêncio é possível apreender o divino. Só o silêncio é adequado ao que está além das palavras”, escreve Armstrong.

O pregador dominicano Meister Eckhart prega um desprendimento que leva ao “silêncio” e ao “deserto” do intelecto. “Temos de eliminar as imagens, os conceitos e as experiências que usamos para preencher nosso vazio interior e, por assim dizer, cavar um vácuo interior que trará Deus para dentro do eu”.

Karen Armstrong revela também que, para Richard Rolle, eremita e poeta inglês, oração era sensação. “Não consigo dizer quanto me surpreendi na primeira vez que senti meu coração aquecer-se”, declara Richard no começo de “The Fire of Love”: “Foi um calor real, não imaginário, e parecia arder efetivamente. Eu estava pasmo com a maneira como o calor surgiu e com o grande e inesperado conforto que essa nova sensação proporcionava. Tive de ficar sentindo o peito para assegurar-me de que, fisicamente, não havia motivo para isso. Todavia, quando entendi que (o calor) provinha unicamente de dentro, que esse fogo não tinha causa, material ou pecaminosa, mas era dom de meu Criador, fiquei absolutamente deliciado e quis que meu amor fosse ainda maior”.

CAPACIDADE DE FICAR SÓ

A escritora conta que em meados do século 4o alguns monges do deserto cultivavam uma espiritualidade sem palavras, que lhes proporcionava tranquilidade interior. Eles praticavam técnicas de concentração utilizadas pelos iogues para aquietar a mente; assim, em vez de procurar limitar o divino, encerrando-o em categorias racionalistas humanas, eles podiam cultivar um silêncio atento. Rezar não era conversar com Deus, nem meditar sobre a natureza divina; era um “despojar-se de pensamentos”. Como Deus ultrapassa todas as palavras e todos os conceitos, a mente precisa estar “nua”. Longe de ser essencial para a busca espiritual, as visões, vozes e sentimentos de devoção podem ser, na verdade, uma distração.

“A menos que você seja capaz de ficar só, sua busca pela verdade será um fracasso. A função de um mestre é ajudá-lo a ficar só”, escreve Kahlil Gibran em “O Profeta”. Para ele, a meditação é apenas uma estratégia para eliminar sua personalidade, seus pensamentos, sua mente, sua identidade com o corpo e deixá-lo absolutamente só por dentro, apenas um fogo vivo. E, depois de encontrar seu fogo vivo, você conhecerá todas as alegrias e todos os êxtases de que a consciência humana é capaz.

Portanto, estimado leitor, dedique-se mais ao autoconhecimento. Ele é muito importante. E um dia, mesmo que isso demore muito tempo, você se conhecerá tanto que realmente descobrirá sua Natureza Divina.

Para tanto, é preciso pensar, expressar-se, trabalhar, agir em todos os sentidos..., sempre com o nobre propósito: SER CONSTRUTIVO. “O esforço construtivo recebe sempre o necessário apoio espiritual, moral e intelectual. E, quanto mais o homem aceita espiritualmente o sentido superior de sua missão, maior será esse apoio”, pensa o casal Mark e Elizabeth Prophet em sua obra “Inteligência Espiritual”.

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Revisão do texto: Roberto da Graça Lopes e Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com

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