quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A morte e o silêncio

Rubem, Rubem, Rubem Alves... Como lamento a grande maioria das pessoas que não se interessa pelo hábito da leitura. Como são tão preguiçosas as pessoas, que não sabem como poderiam transformar sua visão limitada da vida ao ler, por exemplo, as crônicas do mestre Rubão. Dele, também li recentemente "Se eu pudesse viver minha vida novamente"... 

Diz o escritor: "Mas a literatura faz possível viajar por dentro sem ter de sair do lugar. Minhas maiores viagens eu as fiz pela leitura. E o que sou tem muito a ver com o que li".

Concebo Rubem Alves como um livro de cabeceira. "Se alguém lendo o que escrevo sente um movimento na alma, é porque somos iguais. A poesia revela a comunhão", escreve. Por isto não escolho suas obras, tudo o que dele me vem às mãos traz-me interesse imediato. Como esta crônica de hoje, 9 de dezembro de 2008: "A morte e o silêncio", publicada no jornal Folha de S.Paulo, Cotidiano, que abaixo sintetizo.

Rubem chega e me surpreende sempre. Refletimos sobre as mesmas coisas, que ele consegue exprimir tão bem! Sobre isto, Rubem cita Fernando Pessoa: "Arte é a comunicação aos outros de nossa identidade íntima com eles".

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... A morte faz calar as palavras. São inúteis. Servem para nada. Somente os tolos tentam consolar. Eles não sabem que as palavras de consolo, brotadas das mais puras intenções, são ofensas à dor da pessoa golpeada pela morte. Porque elas, as palavras de consolo, são ditas no pressuposto de que elas têm poder para diminuir o vazio que a morte deixou. Como se a pessoa que a morte levou não fosse tão importante assim e algumas palavras pudessem diminuir a dor que sua morte deixou.

Mas não há palavra ou poema que possa com as únicas palavras que a morte deixa escritas: "Nunca mais". Nada existe de mais definitivo e mais doloroso que esse "nunca mais..."

Bem fizeram os amigos de Jó que o visitaram com o intuito de consolá-lo na sua desgraça. O texto bíblico descreve o que aconteceu:

"Quando eles, de longe, o viram, eles não o reconheceram; e eles levantaram suas vozes e choraram. E eles se assentaram com ele no chão durante sete dias e sete noites, e nenhum deles lhes disse uma palavra sequer, porque eles viram que o seu sofrimento era muito grande" (Job 2.13).

Mas são tantos os consoladores e eles cansam tanto...

Gestos de consolo, lembro-me de um que me comoveu. Eu vivia em Nova York com a minha família. Aí o pai da minha esposa foi morto num acidente, no Brasil. Ao abrir a porta do apartamento, no chão estava um buquê de flores. Aquele que o trouxera se retirara em silêncio. Não tocara a campainha. Mas deixava um bilhete onde estava escrito: "Não quis perturbar a sua dor..."

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