quinta-feira, 4 de junho de 2009

Aposentado: é preciso manter acesa a chama da ação produtiva e da realização pessoal

Surpreendi-me com a chamada de duas notícias publicadas na Folha de S.Paulo: no dia 24 de maio – “Um dos principais pesquisadores do Brasil, Wladimir Lobato Paraense, 94, ainda dá expediente todos os dias na Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), inclusive nos fins de semana”; e no dia 27 de maio – “Aos 101, Oscar Niemeyer conclui dois novos projetos e lança livro”.

Segundo o artigo “A vida para a pesquisa”, diariamente – inclusive aos sábados, domingos e feriados – Lobato vai a pé ou mesmo dirigindo o próprio carro, de sua casa, na vila residencial do campus da Fiocruz, no Rio, para o laboratório onde ainda hoje realiza estudos com caramujos.


Malacologista (especialista em moluscos) de reputação internacional, Lobato foi fundamental como pesquisador no combate à esquistossomose, doença que, ainda hoje, estima-se atinja mais de cinco milhões de brasileiros, escreve o jornalista Antônio Gois. 

Por outro lado, conforme o artigo redigido por Sergio Torres e Claudia Antunes, o arquiteto Oscar Niemeyer acaba de concluir dois novos projetos imponentes – uma torre de 60 metros em Niterói (a 15 km do Rio) e o prédio que abrigará em Argel (Argélia) uma biblioteca árabe/sul-americana.


O arquiteto lançou ainda no Rio, no dia 27 de maio, o livro ilustrado “Oscar Niemeyer 1999-2009”, síntese de sua obra nos dez últimos anos, e o quarto volume de “Nosso Caminho”, revista trimestral que edita com a mulher, Vera Lúcia. 


Nada contra aposentados que se dedicam a apenas ao ócio e ao lazer. Mas certamente prefiro inspirar-me naqueles que mantêm acesa a chama da renovação, atuando como agente facilitador de atividades construtivas no meio em que vive. Tenho pensado muito em algo que li recentemente, que sugeria uma pergunta que todos deveriam fazer a si próprios: “Quando morrer, o que seria louvável deixar em meu epitáfio em relação às escolhas que fiz em minha vida”?


Vivemos hoje um tempo em que a aposentadoria não representa mais o “final da jornada”. A maioria das pessoas aposenta-se com plena disposição física e mental. Muitas delas não veem a hora de se afastar definitivamente do trabalho por conta de exercer uma atividade profissional desmotivada. Outras, após a aposentadoria, correm em busca de seus ideais, que nem sempre são movidos a atividades remuneradas. O que importa mesmo é o indivíduo estar constantemente motivado e sentir-se orgulhoso com as suas escolhas.

Exemplos que inspiram
  

Em sua crônica “Mestres do tempo” (Folha de S.Paulo, 10/5/2009), Gilberto Dimenstein escreve: “É um dos presentes mais inusitados que alguém já ganhou no Dia das Mães: um salto de paraquedas. Ainda mais quando a homenageada tem mais de 70 anos. Mas esse presente foi em 2008. Neste ano, Geralda Ferreira de Araújo está aprendendo a pilotar uma asa-delta”. 


Conta Dimenstein que Geralda é um dos personagens de um ensaio fotográfico, ainda em andamento, intitulado “Mestres do Tempo”, sobre brasileiros, anônimos ou famosos, que não perdem a curiosidade e, por isso, se mantêm interessados e interessantes. Outro personagem é Tatiana Belinsky, 90, que só começou a escrever livros infantis aos 56 anos e nunca mais parou.


Mas os exemplos não param aí. Dimenstein fala também de Benedito Sbano, 81, que há meio século é o palhaço Picoly. A velhice não abalou seu ritual de passar várias horas por semana em frente ao espelho testando novas caretas ou treinando a voz. “Estou sempre sonhando com coisas novas para minhas apresentações. Deixo a idade passar, não me preocupo com isso”, adiciona o cronista.


Dimenstein revela que a tarefa de fotografar os personagens para o livro “Mestres do Tempo” foi dada a um adolescente, Victor Dragonetti, que ainda está no ensino médio. “Muitos deles parecem mais jovens do que eu”, diz Victor. No site www.dimenstein.com.br há algumas das fotos. 


“Os feitos de homens aposentados não são bons para se fazer literatura. Faltam-lhes os ingredientes que dão sabor a uma narrativa movimentada. Já não se prestam a façanhas atléticas, estão fora da briga pelo poder e não são os tipos ideais para as grandes aventuras amorosas”, narra Rubem Alves na crônica “Aposentado”, que integra a obra “O retorno e terno”. O Quincas Berro d’Água foi uma exceção. Fiel funcionário público, Quincas vivia ruminando sua imensa solidão, conta Rubem; jamais passaria pela cabeça de ninguém que ali dentro daquele homem prestes a se aposentar moravam sonhos jovens de liberdade e de amor. 


“Em seu último dia de trabalho, Quincas voltou para casa do mesmo jeito que sempre, silencioso, nada fazendo suspeitar o que aconteceria em instantes. Foi para o quarto. A mulher e a filha pensaram que ele iria botar o pijama e os chinelos, o único uniforme próprio de alguém que se aposenta”, descreve Rubem. Prossegue o cronista: Pois não é que o Quincas sai de lá, momentos depois, com uma malinha na mão? Onde é que você pensa que vai, perguntou a mulher. De dentro dele saiu um grito selvagem com o qual mãe e filha ficaram perplexas: “Jararacas!” E desapareceu, sem outra explicação, porta afora. Começa aí a história de um aposentado feliz... Quem quiser saber o resto, que leia o texto do Jorge Amado, sugere Rubem Alves. 

Acabo de ler “A viagem da sabedoria”, de Andy Andrews, de onde extraio alguns trechos que aqui se encaixam. “O que somos e onde estamos é resultado direto das escolhas que fizemos no passado. Primeiro fazemos as escolhas, depois nossas escolhas nos fazem. Não há nada que se possa fazer para mudar aquilo que já aconteceu, mas, ao reconhecer e aceitar nossa responsabilidade, ficamos livres para escolher um futuro melhor e mais próspero e nos mover em direção a ele”. 

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