sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Releitura e revitalização de textos jornalísticos

Em jornais e revistas há uma infinidade de textos educativos que nem sempre chegam ao conhecimento do público leitor assíduo. Por haver uma grande variedade de veículos jornalísticos na forma impressa, logicamente o público leitor de cada um deles é bastante diferenciado. Além disso, na leitura diária, por exemplo, há artigos que passam despercebidos de leitores, por distração ou disponibilidade de pouco tempo para a leitura. 

Então, ao me defrontar com textos especiais, aqueles que levam o leitor à reflexão e contribuem para o seu aprimoramento cultural e espiritual, tenho prazer em transportá-los para o meu blog, para que muitas pessoas possam também usufruí-los. 



Procuro sempre reafirmar o meu propósito de reproduzir textos, principalmente por entender que bons textos devem ser colocados à disposição da comunidade, fazendo, logicamente, a devida citação do autor e do veículo da publicação. 


Jornais, por exemplo, quando lidos, vão invariavelmente para o lixo, “enterrando-se” textos preciosos de Rubem Alves, Drauzio Varella, Dulce Critelli, Michael Kepp (como este: ...“A imagem que o filho tem do pai pode brilhar mais forte se este parar o carro e levar um vira-lata atropelado ao veterinário.”), para falar de alguns deles... Então por que não reproduzir ou recriar o talento desses mestres?


Estética da recepção


Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior, no artigo “Estética da recepção” (publicado na revista “Discutindo Filosofia” nº. 13), aborda o assunto, dizendo que “Com raízes em autores como Sartre, o enfoque dado no leitor e na sua interpretação dos textos passou a ser alvo de estudos”. 

Segundo Lúcio Emílio, o termo surgiu na Universidade de Constança, Alemanha, onde um grupo de estudiosos da literatura decidiu incluir em suas análises e interpretações um elemento antes negligenciado pelas teorias da literatura: o receptor (leitor ou espectador). Era um momento de efervescência intelectual e cultural, com uma grande guinada para uma participação cada vez maior das pessoas nos fatos da vida pública.


Para Lúcio, a aceitação do receptor como parte constitutiva da obra de arte implica uma conseqüência inevitável e surpreendente: ele próprio traz para o interior da obra todos os elementos antes considerados “exteriores” a ela. Antes, tinha-se como dado que esses elementos não possuíam interesse para a fruição/interpretação, constituindo-se em entraves até para uma verdadeira compreensão do específico da arte.


Dominavam então as teorias da imanência (o contrário de transcendência, pois os textos são mantidos excluídos da reflexão), diz o autor; para elas, a obra bastava-se a si mesma. Privilegiava-se ora o autor, o emissor, ora a obra. Jamais se levava em conta o receptor.


Aliás, Lúcio Emílio relembra a observação do professor João Ferreira, no estudo “O leitor na obra de Machado de Assis”, em que Machado parece ter percebido, com muita antecipação, já no século 19, que o texto literário só se efetiva de verdade quando é  recriado e concretizado, ao vivo, pelo ato de leitura.


Ocorre-me agora o pensamento de Martin Amis, “Escrever é uma rua de mão dupla, o que acontece na outra pista é a leitura.”

Paráfrase

Esse termo também se aplica à recriação de textos. Pesquisando “paráfrase”  no Google (Letras: intertextualidade (paródia e paráfrase), o texto “Construção da leitura – O que é paráfrase?” (http://aprender.unb.br) mostra que a característica da paráfrase é a construção de outro texto, mas com as mesmas idéias do texto anterior. Ela não altera suas idéias, mas sim as reitera.

Segundo a citação acima, paráfrase significa resenha ou resumo crítico de um texto: esse tipo de recriação do texto anterior é uma paráfrase ideológica e estrutural, uma vez que há uma apropriação de idéias para a construção de uma nova estrutura textual para dizê-las.

Releitura produtiva de jornais


Rosângela A. da Silva Grigoletto, professora de Português do ensino fundamental e médio em São Paulo, publicou o interessante artigo “O jornal e a notícia nas aulas de Português” (
Comunicação & Educação, São Paulo, vol.5 (15):92-99, maio/ago.1999). Rosângela realizou um projeto de leitura e criação de textos a partir do desenvolvimento das habilidades comunicativas de estudantes do ensino fundamental. Ela utilizou como suporte para o seu trabalho pedagógico o jornal e o gênero notícia. Aproximando os jovens dos temas importantes do país, Rosângela fez com que os mesmos se familiarizassem com elementos textuais da notícia, preparando-os para a produção desse tipo de narrativa. A partir do jornal, a professora propiciou aos seus alunos o desenvolvimento da capacidade de ler, selecionar, interpretar e criticar: habilidades fundamentais para a formação de cidadãos. 

A escolha da professora Rosângela justificou-se por ser o jornal um veículo formador de opiniões ideologicamente produzidas e que tem como objetivo formar cidadãos transformadores.
Ela mostrou a jovens a importância da aplicação de quatro palavras: ler, analisar, selecionar e questionar, o que não é tarefa fácil, cabendo a professores de Língua Portuguesa fazê-lo, admite a educadora.

Um ano de trabalho e uma vitória: “Meus alunos tinham consciência de que, por detrás de um texto, há sempre um leitor e é para ele que escrevemos”, relata Rosângela.


Outra professora, Renata da Silva de Barcellos, em seu artigo “O jornal na aula de Língua Portuguesa” (conforme registro no Google), admite que “Dentro de sua proposta de trabalho, respaldada nas novas perspectivas educacionais, verifica-se que enquanto a escola não desenvolver atividades com base na leitura do quotidiano (leitura profunda e não superficial, visando ao letramento) não existirá uma efetiva mudança na organização dos saberes.”

Nelson Rodrigues escreveu: "Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinácia. E, no entanto, o leitor se desgasta, se esvai, em milhares de livros mais áridos do que três desertos."
 

Um bom texto pode ser lido por uma infinidade de leitores, mas também, pouco lido ou, até mesmo, passado em branco. Viramos páginas e páginas em jornais e revistas, por exemplo, nos entretendo em poucos assuntos, naqueles onde temos nossas preferências. Diante de uma livraria, nos perdemos diante dos inúmeros títulos de obras colocados à disposição. 

A meu ver, o que deve prevalecer em um texto jornalístico é a sua absorção pelo leitor, que pode comentá-lo com alguém, reproduzi-lo para divulgá-lo, arquivá-lo em uma pasta pessoal... Portanto, julgo que, na atualidade, o texto deve se impor pela transcendência. Que bom quando o autor recebe comentários produtivos sobre o que escreve; melhor ainda quando os seus textos têm boa repercussão e podem acrescentar algo de bom em leitores. Que grata homenagem quando o autor descobre que, pelo ato de leitura, o seu texto foi objeto de referência e/ou recriado, revitalizado, por outro autor.


Buscando material para fortalecer este artigo, encontrei o site: www.releituras.com, que apresenta os melhores textos dos melhores escritores. Vale a pena conferir.

 
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(*) Jornalista, especializado em divulgação científica, editor do site: www.pesca.sp.gov.br

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