terça-feira, 8 de julho de 2008

“São os outros que nos vêem velhos”

É sabido que o número de idosos vem crescendo consideravelmente e que a tendência para o futuro é o aumento expressivo dessa população. Isto em função da atual melhoria da qualidade de vida das pessoas de modo geral.


Conforme noticiado na

Folha de S.Paulo de 4/6/2005, Oscar Niemeyer foi convidado pela Fundação Príncipe das Astúrias, da Espanha, para criar um museu que consistiria em sua primeira obra naquele país. "Quero este projeto para amanhã", disse Niemeyer. Natalio Grueso, comissário-geral da Fundação, esperava que o projeto ficasse pronto em dois anos.

No dia 13 de junho completei 57 anos. Ao ler aquela notícia, fiquei muito animado. Olha só esse homem, aos 97 anos! Precisa falar mais alguma coisa sobre esse gênio da arquitetura e sobre a importância dos grandes projetos de vida?

A propósito, lia também na Folha Ilustrada de 4/7/2005 que o ator Ítalo Rossi, aos 74 anos, não pensava em aposentadoria. Ele estreava "Duas X Pinter", no Rio de Janeiro, duas montagens a partir de textos do inglês Harold Pinter. "Eu trabalho por opção, teatro é a continuidade da minha casa e cansaço não faz parte do meu vocabulário", revelou.

No artigo "O que há por trás do envelhecimento?", publicado na Folha Equilíbrio de 21/7/2005, Wilson Jacob Filho afirmava que "Poucos são aqueles que se orgulham de dizer que estão com saúde e vigor satisfatório aos 70, 80 ou 90 anos porque se alimentam adequadamente, praticam atividades físicas regulares, renovam seus projetos de vida, buscam fazer novos vínculos afetivos e apóiam a renovação dos papéis sociais em cada fase da vida". Professor da Faculdade de Medicina da USP e diretor do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas (SP), Wilson Jacob dizia também que "Viver bem é o objetivo destinado ao século 21, já que teremos a inusitada oportunidade de viver muito mais tempo".

Na obra "O monge e o executivo", de James C. Hunter, o frade Simeão refere-se a um estudo sociológico desenvolvido a partir de uma pesquisa com 100 pessoas com mais de 90 anos. A pergunta era simples: "Se você tivesse que viver sua vida outra vez, o que faria de maneira diferente?". As três principais respostas foram que elas se arriscariam mais, refletiriam mais e realizariam mais coisas que permanecessem depois que elas fossem.

Inseridas em novo conceito nos tempos atuais, as pessoas estão envelhecendo "inteironas", fato que implica na necessidade da sociedade rever o seu olhar sobre o "novo velho". Com a regulamentação do Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741, de 1/10/2003), destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, a marginalização dos mais velhos e a opressão sobre eles vêm diminuindo sensivelmente. Porém, há ainda preconceitos a serem superados com o idoso, pois quem não percebe o avanço da imagem do "novo velho" brasileiro?

Porém, é fundamental que os mais velhos aprendam também a se comportar moderna e adequadamente para que esse processo de modernização flua com maior naturalidade. É preciso então cautela com alguns comportamentos que podem ridicularizar ou folclorizar a imagem do idoso, como a referência à "melhor idade", por exemplo.

Terceira idade

Os tempos modernos vêm reformulando antigos conceitos relacionados aos ditos "sexagenários ou sessentões". Nesse processo criou-se, por exemplo, o termo "terceira idade", cujos diferentes significados remetem, basicamente, à valorização do homem e da mulher mais velhos. Certamente esse termo não evoca apenas a feliz concepção dos mais velhos na vida moderna. Infelizmente, ele pode evocar também o sentido da discriminação, da separação, da segregação, da marginalização.

Nas filas de agências bancárias, por exemplo, o direito lhes é assegurado. Mas, não raramente, observam-se pessoas mais velhas que, por se sentirem saudáveis e normais, negam-se de usufruir as "facilitações" da terceira idade. Isto é perfeitamente compreensível, quando, ao amadurecer saudavelmente, não percebermos o tempo passar. São os outros que nos vêem velhos. Essa coisa do velho não está na idade das pessoas, mas na cabeça, não é o que dizem?

"Educação Física para idosos, a partir de 60 anos". Uma pessoa saudável nessa idade pode indignar-se ao ver um anúncio dessa natureza.

É verdade que a maioria dos mais velhos sinta-se feliz por estar incluída no rol da terceira idade. Há até quem não veja a hora de completar 60 anos para usufruir as facilidades proporcionadas à sua geração. Entendo que pessoas com dificuldade financeira passem, a partir dos 60 anos, a gozar de benefícios como transporte público gratuito, descontos em medicamentos, meio ingresso em eventos culturais etc. Entendo o benefício das filas especiais para pessoas com dificuldades físicas. Neste caso, recordo que, muito antes da regulamentação dos benefícios especiais para idosos, eu, desde jovem, chamava a atenção do público, em filas de agências bancárias, para facilitar o acesso ao caixa de quem apresentava alguma dificuldade física.

Agora tem coisa relacionada ao tema que realmente vira uma comédia: baile da terceira idade, à tarde, com trajes e maquiagens mais apropriados para a noite. Será possível iniciar um sutil processo de conscientizar pessoas a se vestirem e se comportarem mais adequadamente? É lógico que importa a diversão. A dança é importante como objetivo de vida, funciona como terapia natural e exercício físico, melhora a auto-estima e possibilita e amplia o relacionamento social, por exemplo.

Quem ainda não se deparou com um idoso deseducado, a falar e a gesticular em tom agressivo, de modo a se tornar intolerante, fazendo prevalecer os seus direitos da terceira idade? Há idosos deselegantes e egoístas, independentemente da classe social. Trata-se do tipo de pessoa que "quer sempre levar vantagem, ser a primeira".

Em compensação, o idoso educado é sempre um exemplo. Diz-se que, ao envelhecer, a gente tende a potencializar as boas e as más qualidades.

Vestuário

Um aspecto interessante é a indumentária. Vestir-se esportivamente quebra formalidades, aproxima o diálogo entre jovens e mais velhos. Às vezes, é preciso até mesmo praticar um ato de caridade com as peças do guarda-roupa. A renovação torna-se inevitável.

Há sempre alguém próximo que pode orientar na questão do vestuário. Basta buscar a pessoa adequada e experimentar. Mudar o visual com a orientação certa é pura emoção diante da nova imagem no espelho. Agora, melhor ainda são os conseqüentes elogios oriundos da corajosa iniciativa.

É sabido que essa coisa de se vestir "como velho" não se aplica apenas aos mais velhos; há também o inverso, jovens que aparentam mais idade em função da habitual indumentária. Portanto, quarentões, cinqüentões, sessentões e demais madurões de bem com a vida, mãos à obra: investir no novo vestuário pode resultar em rápida melhoria da auto-estima.

Ambiente jovem

"O esporte é o meio mais dinâmico e concreto para desenvolver as pessoas e elevar seus níveis de saúde. Ensina a pessoa a se conhecer melhor, a respeitar o semelhante, a aceitar e explorar ao máximo suas possibilidades. Nele encontram-se todos os elementos necessários para o perfeito funcionamento de uma sociedade participante e organizada", diz o preparador físico Nuno Cobra, autor de "A semente da vitória".

Algo muito saudável ocorre hoje, por exemplo, nas salas de musculação das academias de ginástica, através do produtivo relacionamento entre jovens e pessoas mais velhas.

Recomendada pelos próprios médicos, a musculação passou a atrair uma quantidade razoável de pessoas mais velhas, em razão de sua importância como recurso para melhorar o condicionamento físico e prevenir doenças. Tradicionalmente freqüentada principalmente por atletas, a musculação experimenta hoje um novo conceito, justamente pela comprovação científica de seus benefícios para o corpo e pela progressiva adesão de pessoas de diferentes faixas etárias, de magros a obesos. Paralelamente à melhoria do bem-estar físico, a musculação, como todo esporte, envolve outro importante componente: o aumento do humor e da auto-estima. Portanto, essa prática é muito indicada para pessoas mais velhas melhorarem a sua eficiência física e cultivarem relacionamentos sadios com os mais jovens.

Os mais velhos devem procurar entender melhor os jovens e compartilhar naturalmente bons momentos com eles. As salas de musculação são ideais para esse convívio, digo isto por experiência própria. A gente pode aprender muito com o jovem, deixando de lado a "cara amarrada", incorporando no vestuário o bermudão e o boné, por exemplo, e modernizando o vocabulário. Quando a gente se envolve naturalmente com a molecada e sente que a nossa companhia lhes agrada, o resultado é muito gratificante para ambas as partes.

É interessante observar como algumas pessoas chegam à academia inibidas e travadas. Após alguns meses treinando, elas são outras: entram na sala sorrindo e brincando, descontraidamente: "E aí, cara, beleza?" Isto sem falar na visível melhora da silhueta de quem leva a sério o treinamento.

Outra forma de se beneficiar com esse tipo de relacionamento acontece no próprio ambiente de trabalho. Tudo depende da imagem que a gente apresenta para os jovens: formal e distante ou informal e atrativa.

"Pois não, senhor."

Que mania essa de chamar todo mundo de senhor. Vai-se a um estabelecimento comercial e se o cliente não tiver aparência de jovem já é senhor. Parece norma rígida da empresa. Hoje as pessoas preferem um sorriso natural e ser chamadas de você. É muito mais confortável, a gente se sente mais próximo, sem cerimônia.

Isto me lembra um professor da academia indignado naquele dia, aos 30 anos, quando foi chamado pela primeira vez de tio por um adolescente na rua. É mole?

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