quarta-feira, 22 de junho de 2011

“PRATO DE SOPA”: ACOLHIMENTO PROFISSIONAL A MORADORES DE RUA

Imagem: www.arquivoderua.com
Eles acolhem moradores de rua da cidade de Santos (SP), um trabalho de formiguinha que depende do idealismo e dedicação de pessoas especiais. É a “Associação Prato de Sopa Monsenhor Moreira”, www.pratodesopa.com.br, que em 2010 serviu 9.600 refeições mensais, promoveu o resgate de 250 moradores de rua e qualificou profissionalmente 60 mulheres vítimas de maus tratos.

Trata-se de uma instituição beneficente declarada de utilidade pública pela Prefeitura Municipal de Santos em 1960, pelo Governo do Estado de São Paulo em 1986 e pelo Governo Federal em 1993.

Criada em 27 de junho de 1930 com o objetivo de dar um prato de sopa a quem tinha fome, essa entidade sempre trabalhou junto à população de rua, procurando diminuir os efeitos da miséria.

Hoje, a Associação vai além de um prato de sopa, desenvolvendo projetos focados na inclusão social e no resgate da cidadania.

O município de Santos mantém o projeto “Fênix”, que contempla o morador de rua dando-lhe emprego e moradia por um período de 18 meses, até que ele consiga caminhar sozinho. A Associação Prato de Sopa insere nesse projeto moradores que vivem nas ruas por mais de dez anos.

Há moradores que a Associação encaminha para empregos. Eles retornam a essa entidade assistencial para mostrar o vínculo empregatício registrado em Carteira. Com certeza resgatam sua cidadania.

A droga e o álcool são companheiros dessa população. A “Prato de Sopa” consegue a internação hospitalar de alguns moradores de rua, para tratamento. Em 2010, o curso “Gestão Domiciliar” formou duas turmas de mulheres e todas saíram empregadas, devidamente inseridas no mercado de trabalho, incluindo casas de família, hotéis e estabelecimentos comerciais.

“UMA PESSOA”?...

Sobre a triste realidade da população de rua, Marcus Vinicius Batista, jornalista de Santos, traz-nos interessante reflexão em seu artigo “UMA PESSOA?”, publicado na coluna “Conversas e Distrações”, www.boqnews.com, de 12 de junho de 2011.

“O casal retornava para casa depois de um jantar em restaurante japonês. Era aniversário dela, momento de balanço, ainda mais quando se completa data redonda. Os dois andavam pela rua Ministro João Mendes, no bairro do Embaré, em Santos. Acabavam de atravessar a rua Castro Alves e seguiam ao lado das paredes de metal de uma obra ainda nas fundações.

Antes de passar pelo sonho de consumo de ferros e concreto, ela viu um amontoado de tecidos junto ao canteiro que protegia uma árvore. O local estava escuro por causa da iluminação deficiente e pela copa de outra árvore, a cinco metros dali.

— O que é isso?

O namorado olhou para o lado, viu dois pés para fora dos tecidos, calçados por chinelos de dedo, ambos gastos por quilômetros rodados.

— É um homem dormindo entre as árvores!

Ela, acostumada a atender casos difíceis na vida profissional, não segurou a surpresa:

— É uma pessoa?

Ela passou a mão direita no rosto. Não conseguia entender como aquele homem poderia estar ali, encolhido, exposto, estendido sobre um pedaço de papelão diante de um frio de 15 graus. Com 10 anos de experiência, ela lidava com usuários de drogas, pessoas sem família, sujeitos com problemas psiquiátricos, toda a ordem de indivíduos que costumam ser deslocados pela sociedade.

O choque a fez repetir três vezes:

— Meu Deus, é uma pessoa!

O cobertor amarelado não servia somente como protetor paliativo. O cobertor é o manto de invisibilidade. Manto que protege as demais pessoas do corpo no chão. O cobertor o esconde do mundo que se sustenta na ausência daquele homem que dorme.

Mais do que dormir, aquela pessoa transita por uma estrada de hibernação social. Como muitos, ele é transparente para a cidade. Na visão dominante, como ele não contribui, não deve ter benefícios. Não consome, perdeu o direito à cidadania.

O que ela fez, ao vê-lo, pode ser interpretado pelos cínicos como uma reação instantânea, a ser esquecida no próximo pedaço de pizza ou nos primeiros minutos do banho quente, minutos após o encontro na rua.

Se não bastasse o trabalho para fazê-la lembrar todos os dias da tarefa interminável de ajeitar vidas, prevalece o fato de que – coletivamente – o assunto é ignorado. Ignora-se, por exemplo, a forma como os invisíveis são tratados pelos faxineiros de farda.

Moradores de rua são vistos como animais por parte da sociedade. E, como bichos, merecem comida de segunda linha (exceção dos bebezinhos de estimação, que até chapinha no cabelo ganham hoje em pet shops). Como seres selvagens, merecem – na perspectiva de quem recebe ordens para limpá-los – ser enxotados na porrada, como o gado que não entrou no curral.

A invisibilidade os mantém a uma distância segura de quem se julga civilizado. Mas recomenda-se prudência, pois os “homens em hibernação” se multiplicam nas esquinas de Santos. Sem escolher bairro, sem permanecer em guetos. Hoje, são mais de 600 pessoas. Pessoas?”

Imagem: www.pratodesopa.com.br
O ENDEREÇO da “Associação Prato de Sopa” é Rua 7 de Setembro, 52, Vila Nova, CEP 11013-350, Santos (SP); e-mails: pratodesopa@ig.com.br e mmoreira@iron.com.br e telefone: (13) 3232-5468.

A Associação depende não apenas da contribuição financeira de algumas pessoas. Interessados em participar voluntariamente das atividades, ministrando cursos, palestras, orientação vocacional, aulas de trabalhos manuais etc., serão sempre muito bem-vindos a essa casa da esperança.

Isto me leva a um pensamento do alemão Johann Wolfgang von Göethe (1749-1832), “Em relação a todos os atos de iniciativa e criação existe uma verdade fundamental, cujo desconhecimento mata inúmeras ideias e planos esplêndidos. Tal verdade é que, no momento em que nos comprometemos definidamente, a Providência move-se também. Uma verdadeira corrente de acontecimentos brota da decisão, fazendo surgir, a nosso favor, toda a sorte de incidentes, encontros e assistência material que nenhum Homem jamais sonharia que viesse em sua direção. O que quer que você possa fazer, ou sonhe que possa, faça-o. Coragem contém genialidade, poder e magia. Comece agora!”

Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com

Um comentário:

  1. Antônio Carlos, obrigado pela menção em seu blog. E achei excelente o texto sobre a Associação Prato de Sopa. Precisamos de mais textos de cunho social, mesmo que gerem pouca leitura. Afinal, moradores de rua são invisíveis, e não celebridades. Como diz a jornalista Eliane Brum, o leitor - ainda que se recuse a ler sobre moradores de rua - precisa fazer esta escolha.

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