terça-feira, 12 de agosto de 2025

A MAIORIA DESEJA O MILAGRE, MAS NÃO A INTIMIDADE COM O SAGRADO

Oliver Harden, escritor, artigo publicado no Facebook, https://www.facebook.com/custodio.org, agosto 2025   


Identifiquei-me bastante com a reflexão desse autor. Porque tenho a ideia de Deus como uma Divindade adormecida na alma, aguardando ser despertada. A alma é a essência imaterial e eterna que habita o ser humano, que nos torna conscientes e capazes de amar, pensar e criar, sendo responsável pela comunhão humana com o Ser Supremo. Esta abordagem sugere que, embora possamos não perceber essa força interna, ela está presente, podendo ser despertada pela autorreflexão mais profunda e significativa.

Nesse sentido, a boa ação humana, que nos torna melhores, tem um significado espiritual. Cada ação bem-intencionada pode ser entendida como uma luz que se acende em nosso interior. Então, à medida que despertamos para o processo de crescimento espiritual, despertamos a Divindade interior inspirando-nos a contínuos novos entendimentos. Nesse estágio, não há como retroceder.

Bem-aventurados os que limitam e destinam suas vidas para conhecer a si mesmo, fazer ao outro o que gostaria que lhe fizesse; a conhecer e a se integrar ao Todo que está em tudo.

Ninguém força ninguém a nada. Toda mudança ocorre de forma espontânea. A mudança é tida como uma lei da vida. A capacidade de se adaptar e evoluir é uma característica inerente ao ser humano. A história da filosofia é prova desse conceito: pensadores imortais desafiaram compreensões existentes e moldaram o mundo com suas sábias ideias.

A metafísica é um ramo da filosofia que estuda a existência do ser e a natureza da realidade. Ela busca interpretar o mundo, explorando a constituição e as estruturas básicas da realidade. Na filosofia medieval, a metafísica era vista como um caminho racional para se chegar a Deus.

Tom Simões 

 

Como descreve Oliver Harden: “A maioria deseja o milagre, mas não a intimidade com o sagrado. Quer a dádiva, mas não a aliança; o efeito, mas não a causa; a luz, mas não a disciplina do fogo que a gera. A maioria busca o gesto divino como quem exige um favor, não como quem compreende a profundidade do vínculo que o torna possível.

 

Milagres sem aliança

 

Há um tipo de fé que se alimenta do milagre como quem se alimenta de pão, mas recusa a mesa onde se partilha o sagrado. É uma fé apressada, utilitária, emocionalmente intensa, mas espiritualmente oca. Uma fé que exige resultados, mas não oferece presença. Que ora como quem faz um pedido num balcão invisível, e espera o retorno com a impaciência de quem já perdeu a capacidade de reverência.

 

Vivemos numa época em que muitos querem o milagre, mas poucos desejam a companhia da divindade

 

Deseja-se a intervenção celeste, mas não a escuta. O alívio da dor, mas não o silêncio que antecede a sabedoria. O toque que cura, mas não a palavra que fere o ego. Há nesse tipo de religiosidade uma espécie de consumo metafísico, como se o divino fosse uma extensão do desejo humano, e não seu abismo redentor.

Há os que clamam por respostas, mas não suportariam a voz de um Deus que dissesse: “Antes do sim, quero o teu coração”. Porque o verdadeiro milagre, esse que não se vê, mas que transforma, exige entrega. Não apenas pedidos, mas renúncia. Não apenas bênçãos, mas compromisso. Exige não apenas que se olhe para o alto, mas que se curve a alma.

O milagre, quando genuíno, não é espetáculo, é consequência. Ele não é um fim em si, mas a manifestação última de uma comunhão que já vinha sendo construída nos bastidores da alma. Por isso mesmo, o milagre escapa aos impacientes, aos oportunistas da fé, aos que confundem oração com barganha.

A maioria quer a luz, mas não o fogo que a produz. Quer o fruto, mas não a poda. Quer ser tocada por Deus, mas não transformada por Ele. Porque transformação dói. E o divino, quando é real, não se limita a curar feridas, ele revela a causa delas. E aí está o verdadeiro assombro, que nem sempre queremos saber.

 

Há uma diferença abissal entre buscar a Deus e buscar algo de Deus

 

O primeiro gesto é encontro, o segundo é consumo. E como toda lógica consumista, quando o pedido não é atendido, o cliente muda de loja. Muda de credo, de templo, de vocabulário, mas não muda de postura.

Talvez por isso tantos clamem por milagres e tão poucos os reconheçam. Porque milagre, no sentido mais elevado, não é aquilo que muda fora, mas aquilo que irrompe dentro. E para que isso aconteça, é preciso mais do que desejo, é preciso aliança.

O milagre não é um prêmio, é um transbordamento. Não é resposta a uma exigência, mas o eco de uma intimidade. E a maioria, infelizmente, ainda quer o eco sem a voz, a dádiva sem o doador, o efeito sem a causa.

Mas o sagrado, esse não se presta a conveniências. Ele se revela, como sempre, aos que se aproximam descalços”.

 

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