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segunda-feira, 22 de setembro de 2025

‘IMORTALIDADES’, a genialidade de Eduardo Giannetti

Se a vida é finita, e o tempo não volta, por que a gente desperdiça tanto tempo no celular?

 

Assista à entrevista: https://www.youtube.com/watch?v=VWOL-84P5Hg

 

Tom Simões, jornalista, Santos (Brasil), 22 de setembro de 2025

 

Informação útil. É disto que precisamos. No tempo livre, tenho este hábito saudável de compartilhar o que nos torna melhores. Traz-me a sensação de realização, por estar seguindo um caminho que tem significado. Quando a missão é prazerosa, não é trabalho, é propósito.

No programa ‘Provoca’ exibido no dia 16 de setembro pela TV Cultura (terça-feira, 22 horas), Marcelo Tas entrevistou Eduardo Giannetti, 68 anos, economista, professor universitário há trinta anos, escritor, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), filósofo e palestrante. Nascido em Belo Horizonte, Giannetti venceu duas vezes o Prêmio Jabuti, o mais importante da literatura nacional. Durante a conversa inteligente e descontraída, uma reflexão sobre economia, filosofia e espiritualidade, abordando seu livro mais recente, “Imortalidades”, editado pela Companhia das Letras. A obra surgiu de um antigo interesse dele por filosofia e reúne estudos de cerca de 40 anos.

Entrar pela porta da Academia Brasileira de Letras era como realizar um sonho de criança. “Desde que minha mãe leu para mim, quando eu nem sabia ler, ‘A chave do tamanho’, de Monteiro Lobato, eu pensei: ‘Quero pertencer a esse mundo”, lembra Giannetti.  

Desde a mais remota ancestralidade, a consciência antecipada da morte nos assombra e inquieta, escreve o autor. “A ânsia de saber humano pede muita explicação. E, ao longo da história, as diferentes tradições filosóficas, religiosas e científicas não se furtaram a oferecer respostas”.  

Com os 70 anos se aproximando, Giannetti admite estar chegando a hora de enfrentar. Talvez, por já ter alguma maturidade. Em determinado momento de sua vida, ele começou a anotar num caderno tudo o que lia nesse sentido. Investiu um tempo enorme. Decidiu então dar um destino às anotações, transformando-as em “Imortalidades”. Anotava tudo que lia, sem saber muito bem o que ia virar. “Eu fiquei com medo de cursar filosofia e viver numa situação de dependência. Então, resolvi, por prudência, cursar economia. Enquanto isso, fui estudando, com meu radar de pesquisador sempre ligado nos temas que me apaixonam”, revela.

O livro aborda quatro questões principais: (1) a busca constante pela prolongação da vida, (2) a percepção das diferentes religiões sobre a finitude humana, (3) o anseio de perenidade e de deixar uma marca para a posteridade, e (4) as experiências de êxtase que transportam para um contato com a eternidade.

Eduardo Giannetti conta que o aprofundamento nesses pontos mudou sua percepção sobre vida e morte. Ele se considerava um epicurista (*). Acreditava que, “Enquanto eu sou, a morte não é. E, quando eu não for, a morte não será, porque a morte não existe para os mortos”. Mas mudou de ideia: “Nós não temos a mais remota ideia do que estamos fazendo aqui e do que significa estar vivo entre os vivos. Se se descobrir vivo é a surpresa que é, por que a morte não pode ser uma surpresa ainda maior?", analisa ele. Por conta dessa reflexão, Giannetti decidiu explorar mais a ‘transcendência’, ou seja, a capacidade de ir além dos limites da experiência sensorial e do conhecimento empírico, associada a estados superiores de consciência ou existência.


(*) Epicuro fundou uma filosofia centrada na busca da felicidade e tranquilidade da alma, distanciando-se das ambições políticas e propondo o prazer moderado como o caminho para evitar o sofrimento, em uma sociedade onde a incerteza e o medo estavam cada vez mais presentes.


Formado na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) e em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), ambas da Universidade de São Paulo, Eduardo Giannetti é doutor em Economia pela Universidade de Cambridge. A formação multifacetada acabou influenciando o perfil de sua atuação profissional. Ele é conhecido por estudos que combinam ferramentas de análise estatística com diferentes áreas das ciências humanas, como a sociologia e a psicologia. Suas pesquisas buscam conciliar elementos muitas vezes considerados antagônicos, como um equilíbrio fiscal rígido e a preocupação com o bem-estar. É autor, entre outros livros, de Autoengano, O valor do amanhã, Trópicos utópicos e O anel de Giges.

 

Por que Giannetti não tem celular?

 

“Eu vou te dizer, eu tenho, mas toda vez que toca eu levo um susto, porque eu não dou meu número para ninguém. É só para pessoas que realmente precisam falar comigo. Porque eu luto, é uma trincheira, é um corpo a corpo, para preservar a minha capacidade de foco e de atenção no dia a dia. Eu acho essas novas tecnologias devastadoras da nossa capacidade de atenção. Eu tenho muito medo de entrar na Cracolândia digital e ficar completamente dispersivo e sujeito a estímulos baratos, intermitentes a todo momento. Mas é um corpo a corpo, todo dia enfrenta-se… Essa coisa da dieta da informação… Você está sempre querendo a próxima dose. Você quer mais, você quer mais, você quer mais. Essas tecnologias têm uma característica que é um pouco isso, são pequenas recompensas fáceis, sempre ao seu alcance”.


Referências:

- https://cbn.globo.com/programas/fim-de-expediente/entrevista/2025/05/23/imortalidades-eduardo-giannetti-reflete-sobre-limites-da-busca-pela-vida-eterna-em-novo-livro.ghtml

- https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2022/08/13/eduardo-gianetti-toma-posse-na-academia-brasileira-de-letras.ghtml

- https://www.em.com.br/cultura/2025/08/7238320-eduardo-giannetti-imortalidade-polarizacao-e-cracolandia-digital.html

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